De olho nos prefeitos, Raquel entrega ônibus, creches, cozinhas comunitárias e ambulâncias aos municípios
A estratégia de Raquel em relação aos prefeitos, pelo que se comenta, tem o objetivo não só de ressaltar o municipalismo que ela defende

Em maio de 2024, na marcha dos prefeitos em Brasília, com a presença do presidente Lula, a governadora Raquel Lyra defendeu o municipalismo – “já fui prefeita” – e fez uma prestação de contas do que tem realizado “para aliviar – como explicou - a vida dos prefeitos que são muito pressionados na ponta para dar respostas, muitas vezes sem dinheiro para fazer o mínimo necessário.”
Na ocasião, citou a redistribuição do ICMS que beneficiou os municípios mais pobres; os mil ônibus escolares cuja entrega está avançada; as creches, que serão construídas em todos os municípios, independente da posição partidária do prefeito; cozinhas comunitárias que fornecem 200 refeições gratuitas por dia e o pagamento em dia dos recursos destinados à assistência social. Anunciou que, só para este último item, havia reservado no orçamento de 2024 R$ 84 milhões.
De lá para cá mais anúncios foram feitos no mesmo sentido como a entrega de mobiliário às Prefeituras para instalação dos órgãos municipais de atendimento às mulheres aos quais destinou recentemente um veículo para deslocamentos sobretudo nos casos de violência doméstica e a promessa de entregar a cada cidade até o final desde ano uma ambulância pelo menos. Mas as benesses não ficaram por aí.
O secretário da Casa Civil, Túlio Vilaça diz que “muito ainda está por vir” e cita outras providências como a solução para o abastecimento d’água no interior e até em bairros populosos do Recife como casa Amarela, Brasília Teimosa e o Bode, no Pina, o programa habitacional do estado, a recuperação de estradas e o Mães de Pernambuco que destina R$ 300,00 mensais para mães de crianças pequenas e que vem sendo tocado em parceria com os prefeitos.
Com dificuldade de relacionamento com a Assembleia, na hora em que decidiu abrir sua administração para a classe política, Raquel iniciou pela nomeação de ex-prefeitos - já passa de 40 os beneficiados – como assessores da Casa Civil, para, só depois, como foi feito esta semana, contemplar diretamente os partidos. Para conseguir uma agenda com a governadora, os prefeitos, ao contrário do que acontecia no passado, não precisam aguardar uma providência dos deputados. Com ou sem eles são atendidos da mesma forma.
Governo Republicano
O presidente da Associação Municipalista de Pernambuco, Marcelo Gouveia, aliado da governadora, saúda o que chama “governo republicano que ela tem feito”, salientando não conhecer exemplo de outro governador que, não só considera os prefeitos, indo diretamente a eles, como os trata com isonomia.
“Tanto os prefeitos da situação como da oposição são atendidos da mesma forma e estão satisfeitos com esta condução” – exemplifica, sem deixar de lembrar “a necessidade da existência de convênios com os municípios ou de um programa especial que permita aos prefeitos realizar obras de infraestrutura pois a maioria gasta tudo o que recebe de FPM para custeio da máquina pública. Não sobra nada no final do mês”.
Sobre os convênios outro prefeito da base governista, que pediu para não ser identificado, ponderou a este blog que, para conseguir a lealdade completa dos prefeitos, a governadora precisa fazer convênios “pois eles geram uma relação de aliança política sólida difícil de desmanchar”.
A estratégia de Raquel em relação aos prefeitos, pelo que se comenta nos meios políticos, tem o objetivo não só de ressaltar o municipalismo que ela defende, como de ajudá-la na campanha pela reeleição em 2026. Pernambuco, porém, não guarda boas lembranças de número prefeitos ajudar um governador a se eleger. Jarbas ganhou de Miguel Arraes a eleição de 1998 para governador por uma diferença de mais de 1 milhão de votos quando o Palácio do Campos das Princesas anunciava que Arraes tinha a solidariedade de mais 100 dos prefeitos pernambucanos.
Em 2006, o mesmo Jarbas viu seu candidato Mendonça Filho ser derrotado por Eduardo Campos após passar muito bem pelo primeiro turno. Acreditando que Mendonça venceria no primeiro turno, o comitê central no Recife ficou lotado de prefeitos durante a apuração mas, tão logo divulgado o resultado,a maioria sumiu do local. Depois se soube que foram direto para o comitê da Frente Popular, apoiar Eduardo.
O secretário da Casa Civil, Túlio Vilaça, acha que a condução da governadora está correta e reproduz um comportamento comum a todas as pessoas que trabalham com Raquel há muitos anos e conhecem de perto a habilidade que ela tem – isso até a oposição reconhece – de dar a volta por cima, como fez em Caruaru quando dizia-se nos seus dois primeiros anos de prefeita que ela não se elegeria mais nem pra síndica de edifício mas ela se reelegeu sem problemas e teve mais de 80% dos votos do município para governadora.
Sobre a voz comum no sentido de que prefeito não garante vitória em pleito estadual, Túlio afirma sem titubear: “Raquel veio para quebrar todos os paradigmas”. Segundo ele, “a eleição de governador é uma maratona e não uma corrida de 100 metros. Quem entra nela com afoiteza demais pensando nos primeiros 100 metros não tem fôlego para chegar ao fim”. Usa essa imagem para completar que “Raquel planeja tudo o que faz e assim como enfrentou dois concorridos concursos públicos ficando entre os primeiros, nunca errou na política. A carreira dela mostra isso”.
Um sinal de que essa estratégia pode dar certo é o exemplo de um deputado estadual do PSB, cobrado recentemente pelo partido por estar comparecendo a eventos no Palácio: “eu tenho oito prefeitos, todos aliados da governadora, não posso deixar de acompanhá-los pois são eles que me garantem votos no dia da eleição.
Oposição contesta
Os deputados estaduais Sileno Guedes e Waldemar Borges contestam o trabalho de Raquel nos municípios. Sileno fala que a redistribuição do ICMS feita pela governadora só foi possível porque os municípios maiores como Recife e Jaboatão abriram mão de parte da receita própria para atender aos pequenos e diz que a articulação foi feita pelo presidente da Assembleia Alvaro Porto com o prefeito João Campos.
Segundo ele, “o programa mais eficiente e justo que atendia aos municípios indistintamente foi o FEM”e acusa o Palácio de propor convênios individuais aos prefeitos, a conta-gotas com intenções nitidamente politico-partidárias. Afirma que há também ônibus sendo distribuídos no estado pelo Governo Federal. Já o deputado Waldemar Borges fala em “cooptação via convênios” e afirma que os prefeitos do PSB Sivaldo Albino e Ângelo Ferreira não foram atendidos pelo Palácio.
O secretário Túlio Vilaça diz que o FEM “fracassou por conta própria porque durante os últimos 8 anos do PSB não pagava a ninguém. Ainda hoje eu recebo prefeitos cobrando dívidas de 2015”. Contesta o não atendimento a Sivaldo Albino e Ângelo Ferreira : “Sivaldo foi atendido duas vezes na época do Festival de Inverno e Ângelo nunca nos pediu audiência”. Justifica ainda que o Governo Federal distribuiu 1.500 ônibus no país inteiro e Pernambuco, que tem o maior programa de distribuição de ônibus do país, adquiriu 1 mil com recursos próprios”.