Retrospectiva 2024: vitória da centro-direita, negociações de Lula com Congresso e investigação de golpe marcaram o ano
Em Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB) chega à metade do mandato prometendo mais entregas em 2025, período em que disputa com João Campos se intensificará

O ano político de 2024 foi marcado pelas eleições municipais no Brasil, que comprovaram a preferência pela centro-direita na maioria do país. O presidente Lula sentiu esse efeito nas negociações junto ao Congresso Nacional, dominado pelo Centrão, especialmente na votação de projetos importantes, enquanto ainda teve que lidar com alguns problemas de saúde.
No cenário local, a governadora Raquel Lyra (PSDB) chegou à metade do mandato prometendo mais entregas no próximo ano, período em que a disputa — ainda não confirmada — com o prefeito do Recife João Campos (PSB) deve se intensificar com vistas a 2026.
Enquanto isso, Donald Trump foi eleito para mais um mandato nos Estados Unidos numa disputa conturbada contra a democrata Kamala Harris, e Nicolás Maduro conseguiu mais um período à frente da Venezuela numa votação pouco confiável. A seguir, confira os destaques da política em 2024.
Governo federal e Congresso
A relação do Palácio do Planalto com o Congresso Nacional foi de desgaste e intensas negociações, envolvendo a aprovação de projetos como o pacote de corte de gastos, a reforma tributária e especialmente as emendas parlamentares. Os recursos foram suspensos pela primeira vez pelo ministro do STF Flávio Dino em agosto, gerando clima tenso também entre o Supremo e o Congresso.
O parlamento travou votações importantes de pautas governistas para pressionar a liberação das verbas, que começaram a ser executadas em dezembro. Após o Congresso aprovar o corte de gastos do governo Lula, Dino voltou a paralisar os pagamentos, abrindo um novo atrito, que deverá se estender até o próximo ano.
O pacote de gastos apresentado por Haddad em novembro, a propósito, também foi alvo de intensas negociações do Planalto com o Legislativo, mas acabou sendo aprovado, para alívio da presidência.
RETROSPECTIVA JC 2024: Confira os principais acontecimentos do ano
Trocas de ministros
A Esplanada dos Ministérios teve duas trocas em 2024. Em fevereiro, Flávio Dino deixou a liderança da Justiça e Segurança Pública para assumir a cadeira deixada por Rosa Weber no Supremo Tribunal Federal (STF). O ex-ministro da Suprema Corte Ricardo Lewandowski assumiu a pasta.
No mês de setembro, uma denúncia de assédio sexual derrubou o ministro dos Direitos Humanos e Cidadania, Silvio Almeida. Uma das vítimas seria a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco. O advogado negou as acusações, mas isso não impediu sua demissão da pasta. A professora e assistente social Macaé Evaristo foi convocada pelo presidente Lula para assumir o ministério.
Saúde de Lula
O presidente Lula passou por alguns sustos relacionados à saúde e ao bem-estar em 2024. No mês de outubro, ele sofreu uma queda no banheiro do Palácio da Alvorada que ocasionou um corte na região da nuca. Ele foi levado para o Hospital Sírio Libanês de Brasília e levou cinco pontos.
Quase dois meses depois, o presidente precisou ser operado de emergência para conter uma hemorragia intracraniana ainda decorrente da queda. Os médicos avaliaram que o quadro era grave, mas o presidente recebeu alta e segue se recuperando com um ritmo desacelerado de trabalho no final do ano.
Também em outubro, o avião em que Lula e a comitiva presidencial estavam apresentou problemas técnicos e precisou dar várias voltas no ar por mais de quatro horas para aterrissar com o tanque de combustível mais leve. O incidente aconteceu na Cidade do México. Ninguém se feriu.
G20 no Brasil
O Rio de Janeiro foi ponto de encontro das maiores lideranças nacionais em novembro, quando recebeu a Cúpula de Líderes do G20. As nações assinaram a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, que teve adesão de mais de 80 países.
Semanas após o evento no Rio, o Mercosul e a União Europeia assinaram acordo comercial firmado há 25 anos para reduzir tarifas de exportação entre países que compõem os blocos. Após resistência da França, o acordo entre os mercados foi assinado em Montevidéu, no Uruguai.
Eleições na Venezuela
No dia 28 de julho, a Venezuela foi às urnas escolher seu novo presidente, mas o resultado apresentado pelo governo não convenceu a comunidade internacional. Enquanto Nicolás Maduro afirma ter sido reeleito, o opositor Edmundo González contestou a votação e exigiu as atas eleitorais, nunca apresentadas por Maduro.
O impasse gerou protestos e atos violentos que ocasionaram a morte de vários venezuelanos. Assim como vários países, o Brasil também não reconheceu a vitória de Maduro, gerando tensão entre Lula e o ditador venezuelano, até então parceiro do petista.
Eleições nos EUA
A campanha eleitoral nos Estados Unidos começou com o atual presidente Joe Biden, de 82 anos, retirando sua candidatura à reeleição após diversos pedidos da ala Democrata. No lugar dele, entrou Kamala Harris, que inicialmente era vista com desconfiança mas ganhou apoio popular no decorrer da campanha.
Contudo, os 75 milhões de votos recebidos pela democrata não foram suficientes para bater o ex-presidente Donald Trump, que fez campanha reforçando pautas conservadoras e chegou a sofrer um atentado a tiro durante um discurso na Pensilvânia. No dia 6 de novembro, ele conquistou 312 cadeiras no colégio eleitoral e foi eleito para mais um mandato na presidência do país.
Jair Bolsonaro indiciado
No Brasil, a eleição de 2022 ainda seguiu repercutindo em 2024. Uma investigação da Polícia Federal descobriu um suposto plano de golpe de Estado que previa a morte do presidente eleito Lula, do vice Geraldo Alckmin (PSB) e do ministro do STF Alexandre de Moraes em dezembro daquele ano, numa tentativa de manter o ex-presidente Jair Bolsonaro no poder.
Segundo a investigação, a trama era encabeçada por militares, aliados de Bolsonaro e teria a atuação do próprio ex-presidente, que foi indiciado por participar do plano. Ele nega as acusações. Enquanto o ex-ajudante de ordens Mauro Cid ficou ainda mais no centro da apuração, o ex-ministro da Defesa Braga Netto, candidato a vice de Bolsonaro no pleito de 2022, foi preso em dezembro por tentar obstruir as investigações.
Eleições 2024
Outubro foi mês de eleições municipais, que chegaram ao fim com uma expressiva vitória dos partidos de centro-direita. O PSD foi a sigla com maior número de prefeituras conquistadas: 891. Na sequência, ficaram MDB, PP e União Brasil.
Uma das eleições mais acirradas foi registrada em São Paulo, que ainda na pré-campanha teve debates intensos, com direito a cadeirada de Datena (PSDB) em Pablo Marçal (PRTB) e apresentação de um documento falso para atingir Guilherme Boulos (PSOL). No segundo turno, o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB) levou a melhor contra o psolista e se reelegeu com uma diferença mínima.
Em Pernambuco, a disputa foi acirrada entre os grupos da governadora Raquel Lyra (PSDB) e do prefeito João Campos (PSB). No fim das contas, os prefeitos apoiados pela tucana foram maioria, embora tenha havido uma diferença pequena. A vitória, porém, foi suficiente para demonstrar a força política da gestora em todo o estado.
Na capital, Campos confirmou a alta popularidade mensurada nas pesquisas eleitorais e se reelegeu com votação recorde. A escolha do vice dele virou uma novela e a indicação de Victor Marques (PCdoB) não agradou ao PT local, que teve que engolir o nome após uma definição junto ao presidente Lula.
Raquel e Lula
A governadora de Pernambuco termina 2024 ainda mais próxima de Lula, em meio a especulações de que ela poderá deixar o atual PSDB, que faz oposição ao presidente, e migrar para uma sigla de centro-direita que integra a base aliada.
A principal aposta nos corredores do Palácio do Campo das Princesas é que ela se filie ao PSD, partido que entrou no governo estadual com indicação da secretária da Cultura, Cacau de Paula, filha do presidente estadual da sigla André de Paula, ministro da Pesca do governo federal.
Eleição na Alepe
A Assembleia Legislativa de Pernambuco teve que realizar uma nova eleição da Mesa Diretora no mês de dezembro, após o ministro Flávio Dino, do Supremo, suspender a votação ocorrida em 2023. No novo pleito, o presidente Álvaro Porto (PSDB) foi reeleito com folga. A primeira secretaria foi o único cargo a ter bate chapa, e acabou ficando com Francismar Pontes (PSB).
O presidente Álvaro Porto e a governadora Raquel Lyra, que terminaram 2023 em meio a rusgas, tiveram um 2024 mais amigável, ainda que sem muitos floreios. O resultado foi positivo para o governo, que conseguiu aprovar sem dificuldades todos os grandes projetos apresentados ao Legislativo.