Câmara do Recife concede pela 1ª vez título de cidadã para mulher trans
Casa aprovou honraria para Chopelly Glaudystton Pereira dos Santos, ativista dos Direitos Humanos e presidente da Articulação e Movimento para Travestis e Transexuais de Pernambuco (Amotrans-PE)

Pela primeira vez na história da Câmara do Recife, uma mulher trans obteve o título de cidadã recifense: Chopelly Glaudystton Pereira dos Santos, após aprovação dos vereadores na sessão desta quinta-feira (22). Chopelly é ativista dos direitos humanos, presidente da Articulação e Movimento para Travestis e Transexuais de Pernambuco (Amotrans-PE), integrante do fórum LGBT em Pernambuco e membro do Conselho Nacional das Mulheres.
A concessão do título está prevista no Projeto de Decreto Legislativo nº 20/2021, de autoria da vereadora Cida Pedrosa (PCdoB) e do vereador Hélio da Guabiraba (PSB). Foram desfavoráveis Michele Collins (PP), Eduardo Marques (PSB), Felipe Alecrim (PSC), Waldomiro Amorim (SD).
Michele Collins se opôs à honraria ao afirmar que se sentiu ofendida por Chopelly devido a uma nota repúdio assinada pela Amotrans contra o posicionamento dela na Câmara em 8 de junho deste ano. Michele informou que entrou com um processo contra Chopelly, que tramita atualmente no Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE).
Naquele dia, a vereadora se manifestou contra três emendas à Lei Orçamentária Anual (LOA) 2021 de autoria da vereadora Dani Portela (Psol). A de nº 38 sugeria consolidar ações afirmativas para maior inserção da mulher no mercado de trabalho, sobretudo, as negras, LBTs e com deficiência.
Já a de nº 39, promovia ações de prevenção e ao combate a qualquer forma de violência contra as mulheres cis e trans. A emenda nº 40 pedia para reforçar e ampliar programas de fortalecimento sociopolítico e econômico voltados para as mulheres, sobretudo as negras, LBTs e com deficiência. Todas as emendas acabaram rejeitada se não foram incluídas no orçamento do Recife para o próximo ano.
"Essa pessoa emitiu uma nota me acusando indevidamente, me expondo, incitando ódio das pessoas contra mim, pelo meu posicionamento, dizendo que eu sou uma pessoa transfóbica, lesbofóbica, bifóbica, misógina, racista, capacitista 'da vereadora Michele Collins que em plenário no dia 8 de junho de 2021 provocou a rejeição de algumas emendas aqui no plenário'. Não provoquei essa rejeição de emenda e eu não tenho poder para nenhuma emenda ser aprovado ou desaprovada nessa casa", disse a vereadora.
Michele Collins pediu para que os vereadores votassem contra a concessão do título em solidariedade a ela, que foi vítima de "violência parlamentar", segundo ela.
"Para aprovar uma honraria tão alta, tão grande nessa casa para uma pessoa que desrespeita uma mulher, uma parlamentar, o trabalho alheio, eu acho que nós vamos estar aqui nessa casa mostrando aquilo que não é coerente com aquilo que a gente quer representar todos os dias, com a ética, com os princípios, com os valores, a questão a moralidade também desta casa, porque como vereadores e vereadoras dessa casa, nós precisamos estar atentos e protegendo uns aos outros", completou.
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Discussão
Uma das autoras do projeto, Cida Pedrosa saiu em defesa da honraria para Chopelly e destacou o seu trabalho em defesa da comunidade LGBTQIA+, em especial as mulheres trans.
"Chopelly lutou pela inclusão no trabalho, acolhimento, luta contra a violência desses corpos e criou junto com outras mulheres visionárias a AmorTrans, a associação de mulheres trans de Pernambuco, que vem prestando um trabalho maravilhoso à sociedade, porque tenta desmistificar, colocar para essa sociedade tão violenta e transfóbica que esses corpos existem, que essas pessoas existem e precisam sem respeitadas e respeitados", disse.
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Na avaliação de Cida, a nota de repúdio contra Michele Collins assinada pela associação foi uma resposta ao posicionamento contrário de parlamentares da Casa à pauta LGBTQIA+.
"O que está de fundo aqui é uma questão se você é a favor dos LGBTQIA+ ou não. Não adianta por panos
mornos. Todas as vezes que esta pauta vem, nós temos aqueles que defendem e os que não defendem. O processo que a Michele Collins colocou está transitando. Sabe lá quando terá uma sentença. Vamos de cara dizer que ela é culpada, pela associação que ela preside ter assinado uma nota dizendo que havia transfobia aqui? É tão inverdade assim? É tão inverdade que tem uma bancada aqui que age o tempo
inteiro contra essa pauta. E o nome disso é o quê?", afirmou Cida.
Hélio Guabiraba também defendeu a aprovação do projeto como reconhecimento do trabalho desempenhado por Chopelly. Ele também lembrou que ela foi eleita recentemente como presidente do segmento LGBT do PSB do Recife.
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"Quero dizer que esta câmara hoje está fazendo o maior papel que já poderia ter feito nesta cidade: dar uma medalha para uma pessoa que vem defendendo da sua forma a melhores coisas que poderiam acontecer na vida das pessoas que mais precisam. Levantar do nada e dar vida para as pessoas, salve Chopely, Salve o Recife, salve a Câmara Municipal do Recife", apontou o socialista.
Os vereadores Ivan Moraes (Psol), Dani Portela (Psol) e Liana Cirne (PT) parabenizaram os vereadores por propor a honraria e criticaram o posicionamento de vereadores contra esse tipo de pauta.
"Muitas vezes nesta Casa não tem sido plantado justiça social, respeito à dignidade de povos plurais e diversos de outros corpos e outras existências. Muitas vezes tem sido plantado por quem deveria defender o amor, o ódio, a intolerância, o racismo, o desrespeito, o preconceito, a transfobia e a gente vê isso em muitos discursos propagados aqui, que democraticamente são escutados. Só que na hora da votação, não é um caso individual que fala sobre a vereadora Cida, Ivan, Hélio. É um caso que não fala só sobre
uma medalha a Chopelly, mas a tudo que Chopelly representa", afirmou Dani Portela.
"As pessoas e muitas delas, inclusive parlamentares, insistirem na violência, insistirem na transfobia,
insistirem no racismo, é mais do que natural que essas populações se revoltem contra essas pessoas. Nós não podemos jamais confundir a resistência do oprimido com a violência do opressor. Viva Chopelly, salve quem luta pelos seus direitos", opinou Ivan Moraes.
"Não vemos aqui que a resistência porque uma associação e não a pessoa indicada por dois colegas dessa casa para receber essa honraria da casa José Mariano seja indigna dessa honraria, mas sim porque uma associação fez críticas que como a senhora bem disse, são críticas que têm pertinência", acrescentou Liana Cirne.