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Banho de fé que lava a alma, ano após ano, no Morro da Conceição

121ª edição da tradicional Festa de Nossa Senhora da Conceição, no Morro da Conceição, foi encerrada nesta segunda-feira (8), feriado municipal

Por Pedro Beija Publicado em 08/12/2025 às 22:02 | Atualizado em 08/12/2025 às 22:16

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A tradição se repetiu mais uma vez, vestindo o Recife de azul e branco. Nesta segunda-feira (8), feriado municipal, se encerrou a 121ª Festa de Nossa Senhora da Conceição. Mais um ano em que milhões de pessoas subiram o Morro da Conceição para levar orações, pedidos, agradecimentos. Dia de lavar a alma, renovar as esperanças, pagar promessas, tudo diante do manto da Santa, que é tida como “padroeira afetiva” da capital pernambucana.

A 121ª edição da Festa ganhou ainda mais simbolismo por ser a primeira após a reabertura do Santuário, que passou por reforma após o desabamento que deixou dois mortos e 21 feridos em 2024. A Festa do Morro de 2025 também foi a primeira que contou com a nova imagem de Nossa Senhora da Conceição.

O dia de encerramento contou com missas a cada hora, desde a meia-noite até as 15h, reunindo fiéis que chegavam de várias partes de Pernambuco e de outros estados.

A celebração, realizada desde 1904, é reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial do Recife e de Pernambuco e mantém viva uma tradição que atravessa gerações. Este ano, o tema da Festa, "Com o olhar voltado à Imaculada, reacendemos a chama da esperança", dialoga com o Jubileu da Esperança vivido pela Igreja Católica até 2026.

A missa de encerramento foi conduzida pelo arcebispo da Arquidiocese de Olinda e Recife, Dom Paulo Jackson. Em sua homilia, o religioso destacou a força da devoção mariana e o motivo que leva tantos fiéis a subirem o Morro todos os anos.

"Por que nós subimos o morro a pé? Por que essa efervescência é tão bela? Esse fervilhar de gente, que vem a este pequenino santuário, especialmente nesse período de festa? É porque nós temos necessidade do colo de mãe. Nós temos necessidade dessa dimensão materna de Deus", afirmou. "Sempre somos bem-vindos nessa casa da Mãe", completou.

Fé que se renova

JAILTON JR/JC IMAGEM
Festa do Morro da Conceição 2025. Santuário do Morro da Conceição - JAILTON JR/JC IMAGEM

A cada edição, a multidão que sobe o Morro da Conceição leva consigo histórias de gratidão, promessas e esperanças pessoais. Entre eles estava Arlete Maria de Lima, 55 anos, moradora do Cordeiro e integrante do Grupo Caminhada da Fé. Ela percorreu o trajeto com a paróquia rezando o terço.

"Viemos andando e voltamos andando com muita fé, rezando o terço, porque eu acho que Nossa Senhora é tudo para nós, para cada uma de nós. Pela intercessão dela, a gente consegue várias graças: a graça de cura, finanças, emprego. Pedimos também pela conversão dos nossos filhos, pros jovens, pelo mundo inteiro", relatou ao JC.

Eduardo Corrêa da Silva, 50 anos, saiu de Rio Doce, Olinda, para manter um ritual de duas décadas de participação. Ele subiu o Morro para agradecer pela recuperação da mãe e, com bom humor, não deixou de incluir um pedido especial ao seu time do coração.

"Esse ano, em especial, minha mãe estava muito doente, mas já melhorou. Vim agradecer e pedir pelo nosso Sport, né? Que ano que vem melhore e nos dê uns dias de alegria", afirmou.

JAILTON JR/JC IMAGEM
Festa do Morro da Conceição 2025. Santuário do Morro da Conceição - JAILTON JR/JC IMAGEM

Já a romeira Elizabeth Rodrigues, 51, moradora de Jardim São Paulo, decidiu fazer o percurso deste ano correndo, em um trajeto de cerca de 10 km. Para ela, o momento de fé ganha ainda mais importância diante do cenário atual.

"É muito importante nós exercermos a nossa fé diante de tanta violência no mundo. Então, todos os anos eu estou aqui, não correndo, mas sempre venho para exercer a minha fé e agradecer à minha mãe por tudo que ela tem ajudado junto ao seu filho. É maravilhoso ver tanta gente, tantos católicos, exercendo sua fé", afirmou.

O reitor do Santuário, padre Emerson Borges, reforçou que esta edição foi marcada por um sentimento singular. Ele lembrou o caminho até a reabertura do templo após a tragédia de 2024 e a importância do dia de encerramento.

“O santuário reconstruído, a imagem restaurada. É a festa da gratidão. [...] Vamos agradecer a Deus, agradecer a Nossa Senhora por tudo o que vivenciamos e, com paciência, alcançamos e chegamos ao dia de hoje. Hoje é dia de louvar a Deus e reconhecer a presença de Maria sempre eterna perto de nós, confirmando ainda mais a nossa vida e a nossa caminhada, porque somos peregrinos de esperança", disse.

João Campos e Raquel Lyra participam do dia de encerramento da Festa do Morro

A Festa também contou com a participação de políticos, como o prefeito do Recife João Campos e a governadora Raquel Lyra.

O prefeito do Recife destacou que a ida ao Morro da Conceição é tradição de sua família e que a cumpre desde criança. 

"Eu venho aqui desde criança, com meu pai, com minha mãe, sempre subir para agradecer, agradecer a Deus, a Nossa Senhora, e pedir muita paz, saúde, proteção e tudo que a gente pode ter de melhor para a nossa cidade e para as famílias recifenses”, disse em entrevista à TV Jornal.

O prefeito também comentou a entrega da imagem restaurada de Nossa Senhora da Conceição, um dos marcos desta edição da Festa. A Prefeitura realizou o restauro da peça, da coberta que a protege e da capela frontal.

Ao ser questionado sobre promessas para 2026, João Campos fez referência ao desafio do próximo ano e ao papel que acredita exercer como gestor público.

“A gente tem que entender que todos nós, inclusive quem é prefeito, político, a gente tem que ser um instrumento de fazer o bem. Então quem manda em tudo é Deus”, disse.

Ainda no palco principal, o prefeito prestou uma homenagem ao arcebispo Dom Paulo Jackson, entregando a Medalha do Mérito Capibaribe, a mais alta comenda do Recife.

No início da manhã, a governadora Raquel Lyra também peregrinou até o Santuário. Em sua mensagem aos fiéis, ela pediu orações para que os gestores públicos tenham clareza nas escolhas.

"Peço a todos vocês que rezem por nós, que rezem para que a gente possa ter sempre o discernimento entre o caminho fácil e o caminho difícil. Que a gente escolha o caminho da transformação, que é verdadeiramente aquilo que Cristo espera de nós", disse.

Em entrevista à TV Jornal, Raquel relembrou o "momento de tristeza e tragédia" vivido com o desabamento do teto do Santuário, em 2024. As obras do Governo do Estado, que somaram mais de R$ 5 milhões, foram concluídas e entregues em maio deste ano.

A governadora mencionou o trabalho conjunto com a Arquidiocese para devolver o espaço "ao povo pernambucano, ao povo nordestino", e ressaltou que o santuário restaurado faz parte da identidade religiosa e cultural da comunidade.

Ela também relatou ter recebido abraços e agradecimentos ao longo da subida, sobretudo pelo retorno do templo e pelas ações de abastecimento de água. Em sua fala final, deixou uma mensagem de "muita fé e muito otimismo" aos pernambucanos.

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