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Prédios-caixão no Grande Recife: do desabamento em Piedade a outras tragédias

O Edifício Kátia Melo desabou parcialmente no Jaboatão dos Guararapes, expondo fissuras e falhas estruturais comuns a prédios antigos da região

Por Maria Clara Trajano Publicado em 06/05/2025 às 17:28

Na manhã desta terça-feira (6), parte do Edifício Kátia Melo, em Piedade, Jaboatão dos Guararapes, desabou menos de 48 horas após ter sido interditado pela Defesa Civil por riscos estruturais.

O prédio de três andares apresentava fissuras, abatimento de piso e indícios de movimentação na estrutura e já estava em processo de desocupação voluntária quando as lajes cederam. O episódio não deixou vítimas. Moradores de imóveis vizinhos foram realocados como medida preventiva.

Panorama dos prédios-caixão no Grande Recife

A Região Metropolitana do Recife registra desabamentos de “prédios-caixão” desde a década de 1970. Somente nas últimas cinco décadas, ao menos 18 edificações desse tipo ruíram, provocando mais de 50 mortes.

Estudos do ITEP apontam cerca de 5,3 mil prédios-caixão na região, com mil classificados em risco alto e 260 em risco muito alto de colapso.

Entre os episódios mais graves estão o colapso do Edifício Giselle, no Jaboatão dos Guararapes, em 1977; o desabamento de um prédio condenado na Torre em 2006; as tragédias de janeiro de 2023 em Paulista e abril de 2023 em Olinda; e o episódio mais recente, no Edifício Kátia Melo.

VÍDEO: edifício Kátia Melo, interditado pela Defesa Civil, desaba no Jaboatão dos Guararapes

Edifício Giselle, Jaboatão dos Guararapes (1977)

O Edifício Giselle, em construção no centro de Jaboatão dos Guararapes, desabou no dia 1º de junho de 1977, soterrando a agência do Banco Mercantil de Pernambuco no térreo.

Antes do colapso, já havia reforços em duas colunas e início de reforço na terceira, mas o acréscimo de um pavimento além do projeto comprometeu a carga suportada. O resultado foi a morte de 22 pessoas e mais de 20 feridos durante os trabalhos de resgate.

Rua Benjamin Constant, Recife (2006)

Na noite de 28 de junho de 2006, um imóvel de três andares, desocupado e condenado desde 2005 após um incêndio, tombou lateralmente na Rua Benjamin Constant, no bairro da Torre.

Quatro pessoas — incluindo um bebê de cinco meses — morreram soterradas ou a caminho do hospital, e sete ficaram feridas. O colapso danificou casas vizinhas e levou à interdição de outros imóveis na região.

Conjunto Beira-Mar, Paulista (2023)

O bloco D7 do Conjunto Beira-Mar, no Janga, Paulista, desabou em 7 de julho de 2023. Embora o prédio tivesse sido evacuado por risco estrutural, a falha na alvenaria autoportante provocou a queda parcial, resultando em 14 mortes e sete feridos.

Investigações apontaram que a construção estava condenada desde 2010, mas voltou a ser ocupada por pessoas em situação de vulnerabilidade.

Edifício Leme, Olinda (2023)

O Edifício Leme, interditado em 2001 pela Defesa Civil de Olinda, desabou parcialmente na noite de 27 de abril de 2023, no Jardim Atlântico.

Cinco moradores foram resgatados com vida — dois em estado grave e três com ferimentos leves — e seis morreram. A demolição emergencial foi conduzida pela seguradora responsável, em apoio à prefeitura e à Defesa Civil.

Edifício Kátia Melo, Jaboatão dos Guararapes (2025)

Em 4 de maio de 2025, o prédio de três andares foi interditado por risco muito alto de colapso após o surgimento de fissuras e abatimento de piso.

Na manhã de 6 de maio, parte da estrutura desabou durante a retirada de pertences, sem vítimas fatais até o momento.

O problema da estrutura

Esse tipo de construção, chamada popularmente de “prédios-caixão” devido à sua forma, têm sua alvenaria como função estrutural, em vez de concreto armado. As próprias paredes sustentam a estrutura, sem o uso de vigas ou pilares.

Novas construções desse tipo são proibidas no Recife desde 2005 devido ao alto índice de desabamentos. Muitos imóveis desocupados retornam a ocupações irregulares, agravando riscos.

A maioria desses edifícios têm mais de 40 anos e não passaram por reformas profundas, além de apresentarem, em sua maioria, problemas como infiltrações, corrosão de armaduras e pisos rebaixados.

As paredes, que já estão sobrecarregadas, não suportam alterações, como divisão de apartamentos, retirada de paredes, aberturas de janelas ou instalações de aparelhos de ar condicionado. Essas alterações não planejadas são a principal causa de queda dos edifícios.

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