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Estação Ferroviária do Brum será a primeira tombada em Pernambuco

O prédio da estação será tombado provisoriamente pelo Iphan até o dia 16 de janeiro e passará a compor Livros do Tombo Histórico e de Belas Artes

Por Zayra Pereira Publicado em 26/03/2025 às 20:20

A Estação Ferroviária do Brum, localizada na cidade de Recife (PE), foi oficialmente tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) nesta quarta-feira (26), tornando-se o primeiro bem ferroviário de Pernambuco a ser tombado.

O anúncio aconteceu durante a 107ª reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, órgão colegiado do Iphan e contou com a presença do superintendente do Iphan em Pernambuco, Fernando Eraldo de Medeiros, da presidente da Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), Renata Borba, e da secretária de Cultura de Pernambuco, Cacau de Paula.

Além do prédio da estação, que recebeu tombamento provisório em 16 de janeiro, o tombamento definitivo incluiu, ainda, a caixa d'água que faz parte do pátio ferroviário do Brum. Fabricada pela Ransomes & Rapier de Londres, a estrutura está localizada a 20 metros da estação. Com isso, ambas as construções passam a integrar os Livros do Tombo Histórico e de Belas Artes.

Trilhos que impulsionaram o Nordeste

A Estação do Brum, inaugurada em 1881, foi a primeira linha férrea brasileira construída pela The Great Western of Brazil Railway Company Limited (G.W.B.R.) e serviu como ponta de linha da segunda estrada de ferro de Pernambuco: a Estrada de Ferro do Recife ao Limoeiro.

O trajeto foi projetado para escoar a produção agrário-exportadora, especialmente açúcar, algodão e gado, além de transportar passageiros pelo estado.

Com o tempo, a malha ferroviária passou a atender também os estados da Paraíba e do Rio Grande do Norte, expandindo a conexão entre o interior e o litoral, além facilitando o transporte de mercadorias até a região portuária do Recife.

O sistema integrava trens e bondes em três pátios ferroviários, garantindo maior fluidez no deslocamento e impulsionando o desenvolvimento econômico, social e cultural da região.

Além de fortalecer a economia, a ferrovia foi essencial para a integração territorial, afrouxando as barreiras entre cidades e estimulando a relação entre pessoas de regiões diferentes. 

Apesar disso, com a modernização dos transportes e a priorização das rodovias, o transporte ferroviário perdeu espaço e a estação foi desativada, tornando-se um símbolo da memória ferroviária nacional.

A Estação do Brum estava incluída na Lista do Patrimônio Cultural Ferroviário em 2010, integrando um amplo complexo ferroviário, que incluía uma área de embarque e desembarque de passageiros, oficinas, armazéns, desvios, trilhos, uma vila operária e uma caixa d’água. Grande parte da estrutura foi removida, restando apenas a estação e a caixad'água.

Joia ferroviária

A Estação do Brum também é um importante exemplar da arquitetura ferroviária brasileira. O edifício se destaca como um marco da arquitetura ferroviária brasileira com desenhos neoclássicos, a utilização de ferros evidros, além da clareza simples dos detalhes construtivos.

Por isso a estação recebe um valor singular na história das ferrovias do Nordeste e do Brasil, refletindo a riqueza cultural e arquitetônica do período entre o século XIX e o início do XX.

Mesmo após diversas transformações, o edifício manteve sua identidade e, em 1999, foi revitalizado para abrigar o Memorial da Justiça de Pernambuco. Atualmente, o espaço funciona como um centro cultural aberto ao público, com museu, biblioteca e arquivo histórico.

“Essa edificação representa a expressão artística e estética própria da arquitetura ferroviária, uma categoria ainda pouco presente no acervo de bens tombados pelo Iphan. Esse tipo de arquitetura teve um papel fundamental na incorporação de novos temas decorrentes da Revolução Industrial, como a produção em série e a pré-fabricação, que até hoje são centrais no debate desta área”, afirmou o conselheiro relator do processo de tombamento, Nivaldo Andrade.

Assim como a estação, a caixa d’água representa a expressão artística e estética característica da arquitetura ferroviária. Seus elementos são registros da aplicação de técnicas avançadas, com o uso de ferro importado e mão de obra especializada.

Segundo a arquiteta do Iphan Maria Emília Freire, a proteção em nível federal contribui para a valorização da memória ferroviária, garantindo que futuras gerações possam conhecer e compreender a importância do sistema ferroviário na construção da identidade nacional.

“O tombamento definitivo fortalece a conexão desse patrimônio com a cultura brasileira, reconhecendo a ferrovia não apenas como um meio de transporte, mas também como um elemento essencial na formação do território”, afirma.


 

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