Pernambuco registra pelo menos 30 enchentes ao longo da história

Em 24 horas, chuvas deixaram sete mortos: 5 no Recife, 1 em Paulista e 1 em Camaragibe. Ao longo da história, Pernambuco enfrentou várias enchentes

Publicado em 06/02/2025 às 17:48 | Atualizado em 08/02/2025 às 12:39
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As enchentes fazem parte da história de Pernambuco. O primeiro registro oficial é de 1636, quando o Rio Capibaribe transbordou pela primeira vez, em função das chuvas.

No período holandês, em 1638,outra cheia varreu a cidade. Na época, o governador-geral da colônia holandesa em Pernambuco, Maurício de Nassau mandou construir o chamado Dique de Afogados, que ficou conhecido como a primeira tentativa de erguer uma barragem para conter as águas.

Se essas datas nos levam a um passado distante, o que vem acontecendo nos últimos anos não é diferente. O intervalo entre uma enchente e outra vem diminuindo e a intensidade aumentando.

O panorama não é animador nem para Pernambuco nem para o Recife. Estudo divulgado pelo Governo Federal em 2024 aponta que o Estado é o terceiro do País com mais pessoas vulneráveis ao risco de alagamentos e deslizamentos de terras. Outro levantamento preocupante é o que coloca Recife como a cidade brasileira mais vulnerável às mudanças climáticas, além de aparecer em 16ºlugar no ranking mundial das mais suscetíveis a inundações.

E o que tudo isso tem a ver com o histórico das chuvas? Tudo! Porque a população está sob constante risco e é preciso ter uma articulação entre poder público, sociedade civil e estudiosos para encontrar soluções. Se isso não acontecer, teremos outros Juans, Andrés, Myriams, Valdomiros, Marias da Conceição e Nikolles, perdendo suas vidas, como aconteceu durante as chuvas fortes que caíram ao longo da semana.

As pessoas podem até não entender, academicamente, sobre mudanças climáticas, mas sentem, na prática, todos dos dias, os impactos do fenômeno nas cidades. No Sertão e Agreste, por exemplo, a população sente mais fortemente as ondas de calor. No ano passado, a cidade de Triunfo chegou a ter 94 dias com temperaturas extremas, acima de 38ºC.

Na Região Metropolitana do Recife (RMR), fevereiro nem é caracterizado como um mês de chuvas fortes, como aconteceram nos últimos dias e deixaram sete vítimas. O nível do mar e dos rios vem subindo acima do esperado e trazendo prejuízos. A temperatura no Estado como um todo também tem ficado acima da média.

Não bastasse tudo isso, Recife e outros municípios da RMR têm fatores geográficos (o grande número de habitações em áreas de morros e alagados), econômicos (desemprego e alto nível de informalidade) e sociais (metade da população vive na pobreza e extrema pobreza), que agravam a situação de vulnerabilidade da população diante das mudanças climáticas.

Veja as principais enchentes que trouxeram prejuízos e mortes nos últimos anos:

1966
Enchente de grande proporção, que atingiu o Recife e a Zona da Mata. O aumento dos níveis dos rios Capibaribe e Beberibe saíram levando 10 mil casas e mocambos. A Avenida Caxangá ficou parecendo um rio. Foram contabilizadas 175 vítimas.

1970

O ano de 1970 foi marcado por duas enxurradas em Pernambuco, mas dessa vez as chuvas se concentraram na Zona da Mata e Agreste do Estado. As águas inundaram 28 cidades, com o transbordamento dos rios Una, Ipojuca e Formoso. O número de mortes foi grande: 150.

1975

A enchente de 1975 é a mais conhecida da história das cheias em Pernambuco, graças ao boato de que a barragem de Tapacurá ia estourar. Do ponto de vista da população, foi um evento climático que trouxe muitos prejuízos. Durante 2 dias, Recife ficou isolado do restante do País por terra. Foi a maior cheia da história da bacia do Rio Capibaribe e aconteceu entre os dias 17 e 18 de julho. Pelo menos 80% da cidade do Recife ficou debaixo d'água e outros 25 municípios da RMR também foram atingidos. Morreram 107 pessoas e 350 mil ficaram desabrigadas.

Na capital e interior, 1.000 km de ferrovias foram destruídos, pontes desabaram, casas foram arrastadas pelas águas. Só no Recife, 31 bairros, 370 ruas e praças ficaram submersos; 40% dos postos de gasolina da cidade foram inundados; o sistema de energia elétrica foi cortado em 70% da área do município; quase todos os hospitais recifenses ficaram inundados.

1977

Em 1º de Maio de 1977, uma nova enchente do Rio Capibaribe deixou 16 bairros do Recife embaixo d'água. Olinda e outras 15 cidades do interior do Estado também foram atingidas. Mais de 15 mil pessoas ficaram desabrigadas e só não foram registradas mortes, porque a população das áreas ribeirinhas foi retirada 24 horas antes, alertadas pela Defesa Civil do Estado.

2000

Após uma trégua de enchentes fortes, em 2000 a RMR e a Zona da Mata voltaram a registrar fortes chuvas. A Mata Sul ficou bastante marcada pela cheia deste ano. No total,22 pessoas morreram, 100 ficaram feridas e outras 60 mil desabrigadas.

2004

Assim que o ano de 2004 começou, outra enchente castigou a capital e a zona da Mata, deixando um saldo de36 mortos e20 mil desabrigados.

2010

Foi uma das enchentes mais dramáticas para Pernambuco. Diante do estrago, o então presidente Lula veio ao Estado e visitou algumas cidades junto com o governador Eduardo Campos. Os municípios de Palmares e Barreiros estavam entre os mais afetados. No dia 18 de junho daquele ano, choveu em um dia o que era esperado para três semanas na Mata Sul. Em todo o Estado, 20 pessoas morreram e 82 mil saíram de casa. No total, 67 municípios foram afetados. O rio Una transbordou e subiu quatro metros. Foi nessa época que os governos estadual e federal se comprometeram a construir 5 barragens de contenção das águas, mas só Serro Azul ficou pronta.

2017

Nos anos seguintes, apenas em 2017voltou a ter outro evento climático relacionado às chuvas com tanto volume. Para se ter uma ideia, os índices pluviométricos ultrapassaram os 500 mm em algumas localidades nesse período.

2022

A enchente de 2022 foi considerada o maior desastre natural de Pernambuco desde a enxurrada de 1975. O dia 28 de maio ficou guardado na cabeçadas pessoas como uma lembrança triste. Como esquecer a equipe do Corpo de Bombeiros gritando por vítimas dos deslizamentos de barreiras, no meio de montanhas de barro e escombros, em Jardim Monte Verde, em Jaboatão dos Guararapes? Atragédia deixou 133 mortos, prejuízos, muita dor das família e a certeza que o poder público municipal e estadual precisavam agir para que um desastre como aquele nunca mais se repetisse.

2025

O ano começou com fortes chuvas. Chama atenção as sete mortes em dois dias. Mais uma vez, é preciso questionar a necessidade de adotar medidas preventivas e de assumir responsabilidades.

 

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