Presença de microplásticos no litoral de Pernambuco é alarmante, revela pesquisa
Dados coletados em praias como Paiva, Suape, Porto de Galinhas e Tamandaré apontam a necessidade de ações para combater problema ambiental no estado

Uma pesquisa divulgada pelo Instituto Avançado de Tecnologia e Inovação (IATI) revelou resultados alarmantes sobre a presença de microplásticos no litoral de Pernambuco. Os dados coletados no estudo, liderado pelo biólogo e coordenador do instituto Múcio Banja e pela pesquisadora Jéssica Mendes, apontam a necessidade de urgência em ações para combater esse problema ambiental no estado.
Desde 2022, o grupo coleta amostras de sedimentos em diferentes praias da região, como Paiva, Suape, Porto de Galinhas e Tamandaré. Os resultados mostraram uma média de mais de 300 fragmentos de microplásticos em cada amostra de 200 ml de sedimento, evidenciando a presença significativa desses resíduos nas áreas estudadas.
"O impacto dos microplásticos no meio ambiente é muitas vezes subestimado pela população. No entanto, esses pequenos fragmentos representam uma ameaça real à vida marinha e ao equilíbrio dos ecossistemas costeiros", comentou Múcio Banja.
Um dos destaques da pesquisa foi obtido na coleta de 2024 e constatou que a praia que apresentou a maior quantidade de microplásticos (695 fragmentos) foi a do Paiva, que é uma área reservada, pouco habitada e com menor atividade turística. Porto de Galinhas, por exemplo, apresentou menos da metade dos números: 320 fragmentos. De acordo com o IATI, a descoberta levanta questionamentos sobre as fontes de contaminação e a necessidade de investigar a influência de fatores ambientais e humanos no litoral.
“A quantidade de microplásticos encontrados em nossas amostras é extremamente preocupante. Essa contaminação representa um sério risco para o ecossistema marinho e para a saúde humana”, destacou Jéssica Mendes.
A pesquisa também está explorando a presença de microplásticos em animais marinhos e os resultados preliminares preocupam. Os dados indicam uma quantidade alarmante de microplásticos acumulados nesses organismos, ressaltando a importância de entender os impactos dessa contaminação na fauna marinha. A divulgação das informações tem o objetivo de estimular ações imediatas para mitigar os efeitos negativos dos microplásticos no ecossistema costeiro.
Nas coletas realizadas na praia de Boa Viagem, as esponjas marinhas apresentaram altos índices de microplástico: 1.166 partículas, ao todo. O estudo foi realizado em períodos de estiagem e chuvoso e revelou a presença de 1.406 partículas de microplásticos nas amostras analisadas, com destaque para o nylon azul (63% do total).
Pesquisa
O trabalho do Instituto Avançado de Tecnologia e Inovação (IATI) faz parte de um projeto iniciado em 2019 em naufrágios na costa pernambucana. As amostras coletadas passaram por protocolos de análise, com a separação do sedimento e dos microplásticos por meio de flotação, a identificação em microscópio estereoscópio e a análise granulométrica para classificação sedimentológica.
A pesquisa também investigou a relação entre a presença de microplásticos com fatores como ação das correntes marinhas e influência dos rios como o Jaboatão (praia do Paiva), Massangana e Tatuoca (praia de Suape). Os resultados indicaram uma associação direta entre a presença de microplásticos e a dinâmica costeira, destacando a praia do Paiva como uma área especialmente sensível aos impactos das ações realizadas pelo homem.
O IATI está desenvolvendo tecnologias para separar as pequenas partículas de microplásticos dos corpos dos animais estudados. Para isso, estão sendo utilizados métodos para dissolver a matéria orgânica associados a distúrbios controlados, a partir de vibrações e produção de microbolhas ultrassônicas, que deverão otimizar os resultados dos estudos.