
"Coletivos, automóveis, motos e metrôs; Trabalhadores, patrões, policiais, camelôs; A cidade não para, a cidade só cresce; O de cima sobe e o de baixo desce". Não poderia haver inspiração melhor que a música "A Cidade", de Chico Science e Nação Zumbi, para colorir o cenário de vai e vem dos carros e das vidas que passam pelo túnel que homenageia quem foi, quiçá, um dos maiores pernambucanos conhecidos.

Nos 30 anos do movimento Manguebeat, completados em 2022, o Túnel Chico Science, na Ilha do Retiro, na área central do Recife, ganha uma nova cara: um painel artístico de 1.200m² do artista recifense Max Motta que estampará o ritmo em suas paredes. A população é convidada a assistir ao trabalho dele a partir desta quinta-feira (8) das 10h até às 17h, com acesso gratuito e aberto.
Além de "A Cidade", a canção "Risoflora" também fez parte do processo criativo das ilustrações, feitas na forma de graphic novel, onde a narrativa romântica e os personagens são retratados em quadrinhos. Ambas as músicas fazem parte do álbum "Da Lama ao Caos", considerado um dos mais importantes na cena musical do Brasil do século XX.
“Os painéis são uma adaptação de um quadrinho que fiz para a página O Mangue Ilustrado, em 2012. Na época foi desenhado em formato 2D, mas hoje fiz com uma visão menos literal e um traço mais realista”, contou o artista.
A obra também conta com a participação dos artistas Rodolfo Tavares, Luan Nascimento e Raoni Assis, que foram convidados por Max e estão colaborando com os preenchimentos, proporções, transições e passagens, além de intervenções surpresas no meio do painel.

“O live painting é uma oportunidade para que a população tenha acesso a nós, artistas, no intuito de explicar a semiótica e didática envolvida. Vamos mostrar in loco algumas técnicas e efeitos sendo aplicados. Então, fica o convite pra você que gosta de arte, de aprender e da cidade”, conclui Max.
A iniciativa é da Prefeitura do Recife, por meio da Secretaria Executiva de Inovação Urbana, que realiza o programa Colorindo o Recife com o apoio cultural das Tintas Iquine. Segundo a gestão, integrantes da pasta também colaboram com a execução da obra de arte.
“Já são mais de 18 painéis realizados desde abril deste ano, além das oficinas de grafitti para a população. Desta vez, queremos convidar o público para ver a arte que homenageia Chico Science ganhando vida. Será uma oportunidade imperdível”, explica o secretário executivo de Inovação Urbana, Marcos Toscano.
Detalhes sobre o grafite
No sentido Abdias de Carvalho em direção ao Derby, está a história de Risoflora, presente no imaginário popular dos recifenses.
O artista escolheu o trecho “Eu sou um caranguejo e estou de andada. Só por sua causa, só por você, só por você. E quando estou contigo eu quero gostar. E quando estou um pouco mais junto eu quero te amar. E ai de deitar de lado como a flor que eu tinha na mão. E aí, te esqueci na calçada só por esquecer. Apenas porque você não sabe voltar pra mim. Oh Risoflora!”, para desenvolver a arte e a narrativa, utilizando tons mais quentes que representam a luminosidade do dia.
Já no sentido inverso, quem passar pelo túnel irá se deparar com A Cidade, onde Max lança um olhar sobre a capital pernambucana com “elementos conhecidos de quem é íntimo de Recife”, acrescenta o artista.
Com tons mais amenos e românticos, o trecho “O sol nasce e ilumina as pedras evoluídas que cresceram com a força de pedreiros suicidas. Cavaleiros circulam vigiando as pessoas, não importa se são ruins, nem importa se são boas. E a cidade se apresenta centro das ambições para mendigos ou ricos e outras armações. Coletivos, automóveis, motos e metrôs. Trabalhadores, patrões, policiais, camelôs”, foi a sua inspiração.
Colorindo o Recife
A Prefeitura do Recife realiza o programa Colorindo o Recife, com intuito de promover a requalificação dos espaços urbanos da cidade através do graffiti e valorizar os artistas locais que já vem utilizando a arte como instrumento de transformação social.
De acordo com a gestão municipal, o objetivo é tornar o Recife a maior galeria de arte urbana a céu aberto do mundo com o protagonismo dos artistas, principalmente na construção, no aprimoramento e nas decisões da política pública de arte urbana da cidade de forma coletiva - um movimento presente na cidade de São Paulo, por exemplo.
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