SAÚDE E INFORMAÇÃO

Conheça a mariposa Hylesia, apontada como responsável pelo surto de coceira em Pernambuco

O inseto se destaca por sua ação urticante tanto na fase larval quanto na fase adulta, se distinguindo dos demais lepidópteros e causando eventuais surtos de coceira na espécie humana

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Vitória Floro

Publicado em 10/12/2021 às 6:00
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A mariposa do gênero Hylesia, apontada como responsável pelos casos de coceira na pele notificados em Pernambuco, faz parte da família Saturniidae, uma categoria de insetos que pertence à ordem biológica dos lepidópteros. Dentro desse nicho, estão as borboletas e mariposas, que compõem a segunda maior diversidade de insetos do planeta. Eles podem ser encontrados em praticamente todas as regiões do mundo, mas se desenvolvem com maior facilidade em ambientes de clima tropical e quente como Pernambuco.

De acordo com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), estima-se que pelo menos 1.528 espécies da família Saturniidae são conhecidas em todo o mundo, das quais 382 foram registradas no Brasil. Dentre elas, a Hylesia se destaca por sua ação urticante tanto na fase larval (lagarta) quanto na fase adulta (mariposa), se diferenciando dos demais lepidópteros e causando eventuais surtos de coceira na espécie humana.

As fêmeas adultas possuem escamas abdominais modificadas em minúsculas cerdas (“flechettes”), usadas para proteger seus ovos da ação de possíveis predadores. Essas cerdas são minúsculas e entram em contato com a pele humana quando os insetos invadem ambientes domésticos e se debatem contra focos de luz. O quadro clínico é conhecido como lepidopterismo e seus sintomas são queimação, inchaço, coceira e vermelhidão na área afetada.

O mestre em biologia animal, Ramon Gadelha, explica que o a espécie é importante para a biodiversidade mas que pode causar problemas caso ocorra aumento populacional. "A Hylesia ela tem as cerdas em formato de flecha que entra com muita facilidade na nossa pele, isso é que causa a dermatite. Durante o voo ela ou quando ela esbarra em um objeto, esse componente é solto e pode entrar em contato com os humanos. Esses insetos são de áreas de vegetação, aqui no Recife você locais de Mata Atlântica que sofrem diariamente interferência humana e alteração no ambiente", disse o especialista.

Segundo Gadelha, ainda existem poucos estudos sobre a espécie e que acidentes com mariposas são comuns. "Essas irritações não são incomuns mas costumamos não dar atenção. O que precisamos fazer é evitar o contato com elas. O que a pessoa pode fazer é usar telas em casa, desligar a luz quando perceber a presença das mariposas e fazer de tudo para não tocá-las. Nos casos em que a retirada do animal seja necessária, é preciso usar luvas e óculos para evitar maiores problemas", afirmou. 

Surto de coceira

As primeiras notificações de irritação na pele foram registradas no Recife no início de novembro e, rapidamente, se espalharam pelo Estado, provocando mais de 200 casos. Segundo os médicos Cláudia Ferraz e Vidal Haddad Junior, responsáveis pelo trabalho de investigação que desvendou o motivo da coceira, as lesões foram identificadas como pápulo-eritêmato-pruriginosas com aspecto urticariforme.

Em nota técnica, os médicos afirmaram que uma investigação epidemiológica foi capaz de descrever as lesões de maneira adequada, além de indicar a possível suspeita de sua origem. As mariposas indicadas como causa do surto reproduzem-se nesta época do ano e já causaram outras epidemias de dermatite em diversos pontos do país.

“Além da inflamação inicial, descrita na histopatologia como um infiltrado linfocitário, existe a probabilidade de formação de granulomas em fases posteriores. A dermatite permanece por dias e até semanas, por conta da permanência das cerdas na pele. Estas cerdas podem ser observadas na pele e exames realizados as mostraram com clareza”, explica a nota publicada.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Dermatologia, as lesões inflamatórias agora poderão receber o tratamento adequado. O paciente poderá fazer uso de corticoides tópicos e anti-histamínicos, ainda sendo possível o uso de corticoides sistêmicos, caso as lesões apresentem maior gravidade e estejam presente em maior quantidade pelo corpo.

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