Editorial | Notícia

Vacina sobrando é pior

Como noutras partes do país, em Pernambuco, o risco de casos graves cresce com apenas 10% do público-alvo vulnerável vacinado este ano

Por JC Publicado em 10/07/2025 às 0:00

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Com mais de mil mortes confirmadas em decorrência da dengue, e de 1 milhão de casos possíveis de contaminação pela doença transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, o Brasil assiste em 2025 a repetição da indisposição da população para se vacinar. O avanço da ciência perde sentido sem o engajamento das pessoas, e é disso, também, que se trata, quando a meta de imunização dos grupos de risco acentuado fica muito longe de ser alcançada. Com menos gente se vacinando, além da exposição evidente elevada aos casos graves que podem levar, em especial, crianças e adolescentes à morte, o movimento de desfinanciamento e desinvestimento de pesquisas e desenvolvimento de vacinas pode ganhar terreno. Os políticos negacionistas à espreita não desejam outra coisa.
Tomemos como exemplo a baixa cobertura vacinal em Pernambuco, este ano, contra a dengue. De acordo com a orientação do Ministério da Saúde, o público-alvo de 10 a 14 anos de idade precisa ser vacinado. Porque vem a ser essa faixa etária a que demonstra maior vulnerabilidade às complicações da enfermidade. Infelizmente, só 10% da meta de imunização para esse grupo foi obtida até o momento, no estado. O resultado é um problema para os pernambucanos, e um vexame para as autoridades públicas de saúde, que nem roçaram num percentual melhor de cumprimento da meta. A desconfiança de mães, país e responsáveis, ou a indiferença de crianças e adolescentes, teriam que ser alvos de estratégias e abordagens mais eficientes.
Dos quase 313 mil indivíduos no grupo de risco em Pernambuco, pouco menos de 32 mil receberam a segunda dose. Outras 56 mil tiveram somente a primeira dose, que é insuficiente para a imunização. Para tal fração, talvez tenha faltado a comunicação eficaz sobre a necessidade das duas aplicações, com intervalo mínimo de três meses, para a imunidade funcionar. Agregada a uma avalanche de desinformação sobre as vacinas em geral, e à má vontade de crianças e adolescentes, e de seus responsáveis com pouco interesse, a falta de acompanhamento de quem teve a primeira dose aplicada pode ser um dos fatores para a baixíssima taxa de imunização contra a dengue em Pernambuco na primeira metade do ano.
A vacina, testada e aprovada pela Organização Mundial de Saúde, encontra-se disponível em 48 municípios pernambucanos. O fato de a adesão estar baixa não pode ser naturalizado pela gestão pública, do Ministério da Saúde aos prefeitos e suas equipes. Com fatores externos como a crise climática incidindo cada vez mais para o aumento da dengue no planeta, os gestores públicos precisam coordenar esforços para convencer a população da importância crucial das vacinas para o bem-estar individual e coletivo. Pois a pressão que um alto número de infectados com casos graves exerce sobre a rede de atendimento, além de gerar sofrimento nas famílias, gera custos para os quais os orçamentos públicos nunca estão preparados. Sem aproveitar a vacina, os efeitos colaterais para a sociedade se expandem, sendo piores para todos.

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