Editorial JC: Pobreza e violência
Quando a capital pernambucana e o estado se destacam em estatísticas negativas no Brasil, a desigualdade impõe desafios a serem enfrentados

A relação de dados estatísticos permite a observação de uma realidade adversa de múltiplos fatores conectados, que desenham um quadro de baixo desenvolvimento humano e qualidade de vida muito aquém do que se espera para uma cidade com a história do Recife.
O drama da população recifense pode ser estendido à vizinhança da Região Metropolitana, uma vez que a maioria dos problemas é compartilhada, sem que os habitantes divisem soluções, porque os governos não gostam de compartilhar iniciativas.
É o caso vergonhoso do tamanho da miséria nas ruas e da pobreza nas comunidades e bairros tão populosos quanto abandonados pelo poder público – e ocupados e dominados pelo crime organizado, ao que se tem o pareamento vil com a violência: a capital pernambucana e a sua Região Metropolitana, segundo dados recentes, são exemplos do que as cidades não devem ser: bolsões de pobreza e insegurança.
A Secretaria de Desenvolvimento Econômico da Prefeitura do Rio de Janeiro realizou estudo sobre as capitais brasileiras, baseado na PNAD do IBGE, mostrando recortes das classes de renda no país, conforme abordou o colunista do JC-PE, Fernando Castilho. Vê-se pelos dados que as capitais nordestinas concentram a população mais pobre, das classes D e E – e onde se localiza o maior percentual dessas faixas de renda na região nordestina? No Recife. Quase dois terços dos habitantes pertencem às classes mais pobres. E aqui também há menos ricos: apenas 2% dos recifenses podem ser considerados da classe A.
Vale repetir informação realçada por Castilho. Com uma área territorial pequena, o Recife é uma capital onde mais pobres se concentram em menor espaço. Basta conferir a nossa configuração urbana para notar o amontoado de gente nas comunidades. A precariedade das condições de moradia e de serviços básicos é, aí, sim, compartilhada na pobreza, uma vez que essas áreas costumam não ser priorizadas ou são esquecidas pelo poder público. E por isso, entre outros motivos, aparecem como locais vulneráveis ao crime organizado e sua violência.
É aí que se combina outro dado preocupante. Segundo uma ONG mexicana, o Brasil tem oito cidades entre as 50 mais violentas do planeta. A Região Metropolitana do Recife está na lista, com uma taxa de quase 42 mortes violentas para 100 mil habitantes. Caruaru também integra o conjunto, pondo Pernambuco em evidência. De acordo com o Ministério da Justiça, em levantamento deste ano, o estado é o quarto mais violento do país, com uma taxa média próxima de 35 mortes violentas intencionais por 100 mil habitantes, atrás do Amapá, da Bahia e de Alagoas.
Ao se projetar o futuro do Recife, da Região Metropolitana e de todos os pernambucanos, o horizonte é desafiador em um presente tão difícil. Como estarão em dez ou vinte anos as gerações mais novas, que crescem num ambiente de privações, cercado de ódio e insegurança? E os governos que tanto prometem combater a desigualdade, olhando para os fatos, o que podem e se dispõem a fazer – ao lado de toda a classe política e os demais poderes que emergem como castas privilegiadas, com o povo sofrendo ao redor?
Confira a charge do JC desta sexta-feira (30)