NOVO PAPA | Notícia

Editorial JC: De Francisco a Leão XIV

Em seu primeiro discurso como pontífice, Robert Prevost ressalta que Deus é para todos, e prega a necessidade de paz no mundo cheio de conflitos

Por JC Publicado em 09/05/2025 às 0:00 | Atualizado em 09/05/2025 às 6:38

Os cardeais no Conclave para a eleição do sucessor de Francisco no mais alto posto do Vaticano surpreenderam o mundo. Muito se especulou sobre um novo papa italiano, restabelecendo a tradição vigente na maior parte da história da Igreja Católica.

Também foi cogitado um africano, que poderia ser outro tipo de retorno, mais conservador, como o catolicismo é praticado na maior parte daquele continente. No entanto, a escolha de Robert Prevost, o primeiro papa nascido nos Estados Unidos, não figurava entre as opções que pareciam as mais prováveis, embora estivesse na lista pela proximidade com Francisco.

E o primeiro papa norte-americano assume o papel de liderança dos católicos e referência religiosa – e política – para o mundo inteiro, com o claro papel de contraponto ao presidente que regressou à Casa Branca este ano, sob discursos e práticas avessas à reforma encaminhada pelo argentino Jorge Mario Bergoglio na Igreja, com repercussões que extrapolam a religião.

É impossível saber se a intenção dos cardeais era exatamente essa, mas a trajetória missionária e agostiniana do Papa Leão XIV – nome utilizado agora, mais de um século depois de Leão XIII, que deixou fama de buscar a justiça social – sugere a criação de um interlocutor diferente dos EUA com o resto do planeta.

A chegada de Robert Prevost ao Vaticano se apresenta até mesmo como anteparo ao antiamericanismo que poderia ressurgir graças ao isolacionismo e xenofobia de Donald Trump. O novo papa já se mostrou crítico, antes de eleito, à política de deportação do novo governo Trump.

A experiência no Peru, por outro lado, onde também possui nacionalidade, aproxima o novo papa da realidade social na América Latina, mantendo os vínculos gerados em mais de uma década de pontificado argentino. Foi o Papa Francisco que reconheceu o trabalho de Prevost, e o levou para o Vaticano.

Essa origem indicaria a continuidade do trabalho reformista de Francisco, ou pelo menos, a manutenção na direção das mudanças em uma Igreja de portas abertas para todos, sem exclusão. Na mesma linha, a expectativa é que prevaleça a defesa dos imigrantes e refugiados, a autocrítica dos abusos cometidos por clérigos no passado ou atualmente, os alertas para os riscos ambientais e a denúncia dos sofrimentos das guerras e conflitos armados.

De personalidade reservada e menos afeitos aos holofotes, Robert Prevost vira Leão XIV para exercer, aos 69 anos, um poder simbólico enorme. Suas declarações a atitudes serão noticiadas e comentadas em todo o planeta.

A sequência de um papado franciscano por um agostiniano tem tudo para recuperar o humanismo original do cristianismo, bem expresso por Santo Agostinho, homem de pensamento e fé, quando afirmou: “Ama e faz o que quiseres”, assegurando o respeito pelo outro como princípio de vida. O êxito de Leão XIV em um pontificado inspirado no antecessor, Francisco, será de grande valia não apenas para os católicos, mas para a humanidade.

Confira a charge do JC desta sexta-feira (9)

Thiago Lucas
Leão 14, primeiro papa dos EUA, tem histórico de críticas a gestão de Donald Trump - Thiago Lucas

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