DEPOIS DE FRANCISCO | Notícia

Editorial JC: Quem será o novo Papa?

Início do Conclave no Vaticano lança expectativas para os católicos e não católicos, pela liderança que o pontífice assume em um mundo sem direção

Por JC Publicado em 07/05/2025 às 0:00 | Atualizado em 07/05/2025 às 6:47

Começa nesta quarta-feira a escolha do novo Papa da Igreja Católica, representante máximo do cristianismo que tem no Vaticano uma história milenar. O legado de conquistas do Papa Francisco, o argentino Jorge Mario Bergoglio, sobretudo no campo da autocrítica institucional e da ampliação da tolerância para o humanismo que transcende os dogmas católicos – como a bênção à união de pessoas do mesmo gênero – faz com que as expectativas sobre o novo nome, nacionalidade e inclinações doutrinárias do próximo Papa sejam compartilhadas por bilhões de pessoas. Até o anúncio que se seguirá à tradicional fumaça branca.

A escolha será feita por pelo menos dois terços de 133 cardeais aptos a participarem do ritual que será acompanhado com curiosidade e esperança pelo mundo inteiro. As votações podem demorar, desta vez, até três dias, segundo se diz, diante da indefinição política para um nome de consenso. A grande dúvida é se o novo papa irá dar continuidade às reformas e ao humanismo praticante do argentino Bergolglio, ou se imporá um freio, ou mesmo uma guinada no sentido oposto, resgatando a raiz dogmática da Igreja, mais comum em toda a sua existência.

De acordo com a programação divulgada pelo Vaticano, apenas uma queima de votos será feita na quarta. Se a fumaça for preta, indicando que nenhum dos cardeais foi eleito, as votações devem prosseguir ao ritmo de duas por dia, a partir da quinta-feira. Se no quarto dia a indefinição continuar, o quinto dia é reservado a meditações e, provavelmente, muita conversa entre eles – e somente há “eles”.

O encontro no qual os homens formam o gênero único há tantos séculos, não deixa de ser uma reafirmação dogmática que perpetua a exclusão histórica das mulheres do comando católico. O patriarcado papal depende, desse modo, para avançar, de homens como Francisco, abertos à mudança trazida pelos tempos, sem esquecer dos equívocos e violências cometidas pela Igreja ao longo de sua história – muitas, contra as mulheres. Afinal, a humildade para reconhecer os enganos e abusos da instituição é uma das trilhas deixadas pelo argentino.

Vários nomes de nacionalidades diferentes têm sido ventilados como possíveis sucessores de Bergoglio. Mas a verdade é que as apostas não passam disso – apostas. Findo o conclave, o eleito escolherá o nome pelo qual será conhecido em seu papado.

Como Jorge homenageou São Francisco, e exerceu com simplicidade e carisma a missão confiada, o novo papa poderá dar uma pista, pelo nome escolhido, se seguirá o caminho reformista ou retornará ao rumo da tradição.

Em um mundo conturbado por guerras, radicalismos e pela voracidade no consumo dos recursos naturais, a figura de Francisco no Vaticano era um contraponto ao desassossego vindo da falta de lideranças sensatas. Mas é dificílimo prever o semblante que o contorno da fumaça tomará nesse conclave – até porque o radicalismo contra o qual Francisco se levantava também possui interesse em firmar base no Vaticano.

Confira a charge do JC desta quarta-feira (7)

Thiago Lucas
Conclave - Thiago Lucas

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