ANALFABETISMO FUNCIONAL | Notícia

A frustração de ler e não entender

Quando um terço da população de 15 a 64 anos não compreende a leitura, a escrita e a matemática em tarefas simples, vê-se o atraso do Brasil

Por JC Publicado em 06/05/2025 às 0:00

Entre outros motivos pelos quais os altos gastos sociais compensatórios no Brasil não têm dado resultado, a não ser em seus propósitos emergenciais, mantendo a miséria na miséria e a pobreza na pobreza – ou retirando miseráveis da fome, o que deveria ser a obrigação primeira de qualquer governo – está a permanência de estruturas refratárias à transformação da sociedade. Como um sistema educacional precário, desde a base, com deficiências que vão da formação e salário dos professores até o faz de conta de bibliotecas, ou salas de leitura, que são mais depósitos de livros pouco ou nada aproveitados do que lugares de alta prioridade no ambiente escolar. Passando por diversos outros fatores que englobam a conjuntura econômica e social das famílias que sonham com um futuro melhor para seus filhos a partir da educação.
Os dados da pesquisa Inaf, do Indicador de Analfabetismo Funcional, são novamente desanimadores, em especial para os que acreditavam que basta trocar um governo conservador por um dito progressista para que tudo flua na direção esperada. Essas viradas de comando no Planalto vêm ocorrendo no século 21, sem que avanços significativos sejam observados para o deslanche de uma nação aprisionada em sua própria história. Entre 2018 e 2024 – portanto na fase de dois mandatos de populistas em polos inversos, Bolsonaro e Lula – com a pandemia no meio, o analfabetismo funcional dos mais jovens subiu de 14% para 16% da população entre 15 e 29 anos. Na média geral, 29% dos brasileiros são considerados analfabetos funcionais, numa estagnação que surpreendeu os organizadores da pesquisa – talvez no aguardo de políticas públicas que não vieram, nem depois da pandemia, nem com o atual governo – o terceiro de Lula – no Planalto.
Vale recobrar a importância da educação bem-sucedida em suas várias facetas, que não apenas alfabetizem, mas capacitem os que se alfabetizaram a compreender um texto para além do encadeamento das letras e das palavras isoladamente, dotando-os de poder de interpretação, e da interpretação à crítica do que se entende. A queda registrada pela mais recente pesquisa sobre a leitura de livros no Brasil, a Retratos da Leitura, também decorre das dificuldades inerentes ao analfabetismo funcional. Se uma notícia de jornal é incompreensível, as camadas interpretativas contidas em um livro podem ser, para muitos, inalcançáveis.
A pesquisa Inaf ainda aponta um problema nem sempre tratado com a seriedade que merece. Na menos que 40% dos estudantes em nível superior, ou que passaram por uma faculdade, no Brasil, continuam sendo analfabetos funcionais, sem o domínio elementar de leitura, escrita e matemática. E o número de estudantes no Ensino Médio que integram o analfabetismo funcional, subiu de 14% para 17% entre 2018 e 2024. Percebe-se como é enorme, no país, a frustração daqueles que aprenderam a ler, segundo as estatísticas oficiais, mas não sabem ler na medida da necessidade dos desafios do conhecimento e da profissionalização.

Compartilhe