BRASIL | Notícia

Um país pobre e desigual

A lenta diminuição da pobreza revela a falta de políticas públicas voltadas para a população mais vulnerável – porque isso não tem prioridade

Por JC Publicado em 04/05/2025 às 0:00

A indignidade continua. A massa de pobres no Brasil segue em um cotidiano hostil, aviltada por uma sociedade que parece, em sua maioria, indiferente, e por governos que fazem vista grossa para escândalos de corrupção em que o roubo se dá sobre os que já dispõem de pouco, como no caso emblemático dos aposentados e pensionistas do INSS. E não se trata exclusivamente de uma questão de margem fiscal, como sugerem burocratas de dentro e de fora do governo. Mas é também de prioridade, sobretudo quando se percebe a naturalidade com que os corruptos se esparramam na República brasileira.
O Banco Mundial divulgou dados que exprimem, através da estatística, a ignomínia da realidade nacional. As informações têm sintonia com os números oficiais, e portanto corroboram a transparência da calamidade pública bem conhecida dos cidadãos, em gerações que se sucedem sem que nada mude. De acordo com o Banco Mundial, são quase 46 milhões de pessoas na pobreza, ou cerca de 21% da população com rendimento abaixo de R$ 50 por dia, ou R$ 1.500 por mês, tendo como base dados coletados em 2024. A entidade aponta a lenta redução no índice da pobreza, que não chega a um ponto percentual de variação, por causa, principalmente, do aquecimento do mercado de trabalho – sem avaliar a qualidade do trabalho nem a precariedade da renda.
O ritmo da diminuição da pobreza no Brasil, que vem sendo verificada nos últimos anos, apresenta desaceleração. Entre outras coisas, um obstáculo identificado é a alta de preços da comida, que atinge fortemente, de maneira inegável, quem gasta substancial parcela da renda com alimentação. O acesso a benefícios sociais como o Bolsa Família ainda sustenta a redução, mas é cada vez menor a percepção de ganho sustentável por meio desse tipo de política compensatória, enquanto o acesso a trabalho qualificado – que depende da educação básica, de partida – permanece uma utopia adiada por promessas de campanha e discursos desconectados do presente.
Para o Banco Mundial, a perspectiva para este ano é desanimadora, supostamente devido à “falta de espaço fiscal para aumento de gasto social e um crescimento reduzido do setor de serviços” que concentra 80% dos empregos da classe pobre. A análise é importante, mas soa incompleta, ao partir de premissas que terminam encerrando a possibilidade de redução da pobreza em margens econômicas estreitadas pela inversão de prioridades na decisão política. A persistência da desigualdade no país não é causada pela situação fiscal, mas por um conjunto de fatores históricos que resultam na despriorização de políticas voltadas para a baixa renda – a começar da educação, e incluindo a tolerância dos Três Poderes a repetidos assaltos aos cofres públicos.
Por outro lado, os atuais gastos sociais não miram na resolução, e sim, na manutenção da desigualdade, se não se investe na estrutura da sociedade, através de maciços investimentos em educação, saúde, habitação, transporte e segurança – para ficar no arranjo de direitos básicos desassistidos para a maioria dos brasileiros.

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