Desafios no Brasil se ampliam
Problemas estruturais detectados nas avaliações de desempenho se somam ao cenário complexo do uso da tecnologia para demandas do conhecimento

A trigésima edição da Bett Brasil levanta o tema da “Educação para enfrentar crises e construir futuros regenerativos”, em evento que reúne especialistas até esta quinta-feira, em São Paulo, como destacou a colunista Mirella Araújo, do JC-PE. Um problema maior do que a observação para o futuro é a visão de uma perspectiva atual e histórica, onde o que está em crise é a própria educação no país. Dessa forma, podemos dizer que os desafios diante de um futuro de domínio ainda maior da tecnologia, no Brasil, são ampliados pelos problemas estruturais que rondam as salas de aula e as políticas públicas – a maior parte, ineficientes – desenvolvidas ao longo das últimas décadas para a educação da população brasileira.
Entre os consensos abordados na abertura do evento, e que devem ser repetidos até o encerramento, a correta noção de que as diretrizes de planos e políticas, em qualquer esfera de governo, precisam ir além da frieza burocrática, para usar um adjetivo mencionado pelo presidente do Conselho Nacional de Educação (CNE), César Callegari, quando afirmou que o Plano Nacional de Educação (PNE) não pode ser apenas um “documento frio”, mas um projeto social que transforme a realidade. A maioria dos presentes no encontro certamente acredita na necessidade de mudança do quadro atual, e a mudança depende da educação para acontecer. Daí a importância de documentos norteadores como o PNE e a homologação do Novo Ensino Médio, extensamente debatido, e que precisa ser implementado para dar algum resultado, anos adiante.
Outro consenso que também aparece como desafio frente às novas tecnologias é a formação dos professores que irão lidar com pelo menos dois níveis de transformação no cotidiano: a tecnologia da informação em constante movimento, atingindo a vida em diversos aspectos, como na cultura da tela chamando a atenção de crianças a adultos o dia inteiro; e o potencial transformador da educação, que não pode prescindir da experiência do aprendizado na sala de aula, nem fora do ambiente escolar, com suporte das tecnologias disponíveis. Vê-se que nas duas direções, o contexto tecnológico é imperativo, e não tem como ser desprezado.
Num país em que 4 mil escolas públicas não possuem, sequer, energia elétrica, a desigualdade na educação é um abismo estrutural que resulta, entre outras coisas, na disparidade na compreensão de leitura entre estudantes de maior e de menor renda, como ressaltamos neste espaço em editorial recente. Seja para a formação da professora e do professor, seja na adoção de recursos tecnológicos que reduzam a desigualdade, pela educação, os gargalos estruturais demandam investimentos e compromissos que não se esgotam em discursos e campanhas eleitorais.
Enquanto a China e os Estados Unidos já adotam a Inteligência Artificial nos currículos, o Brasil continua discutindo problemas que deveriam ter sido sanados há décadas, a exemplo da alfabetização na idade adequada. O acúmulo de desafios faz da educação no país um problema central, cuja devida abordagem poderia destravar o desenvolvimento e garantir melhor qualidade de vida para as próximas gerações.