ARMAMENTOS | Notícia

Gasto trilionário no mundo

Recorde na despesa dos países com armas em 2024 põe mais uma vez em evidência a pulsão autodestrutiva impulsionada pelas guerras e sua tecnologia

Por JC Publicado em 29/04/2025 às 0:00

De tantos exemplos e reflexões que o Papa Francisco deixou, a esperança em um mundo melhor, livre da intolerância contra os outros e da ira expressa nas guerras, foi cultivada com singular perseverança. Francisco parecia incansável na condenação explícita de conflitos prolongados, nos quais a estratégia bélica combina, cruelmente, a destruição de alvos essenciais para o cotidiano da população atacada, com o derramamento de sangue junto com o sofrimento intenso dos sobreviventes. Sua defesa dos habitantes de Gaza e da Ucrânia, nos últimos anos, não abandonava a contundência reveladora de um juízo de valor calcado no pacifismo e no humanismo.
De acordo com o Instituto Internacional de Pesquisa para a Paz de Estocolmo, mais de uma centena de países aumentaram as despesas com armamentos e tecnologias de guerra em 2024, em relação a 2023. Com isso, puxados por potências como a Rússia, os Estados Unidos e a Alemanha, os gastos bateram na cifra recorde de 2,7 trilhões de dólares, o equivalente a mais de R$ 15 trilhões, quase três vezes todo o orçamento oficial brasileiro no ano passado. Os gastos globais cresceram perto de 10% em apenas um ano, maior percentual desde a Guerra Fria, quando os EUA e a então União Soviética protagonizam a polaridade nuclear, custeando a pesquisa e produção de bombas capazes de destruir o planeta várias vezes.
A tendência de aumento nesse tipo de despesa vem sendo observada há pelo menos uma década, mas o recorde alcançado demonstra não somente a direção tomada, como a sua intensificação, que transforma a face da Terra num virtual tabuleiro de WAR, clássico jogo de dados baseado na ideia da conquista de nações. Os governos nacionais estão atualmente ampliando os gastos militares como se a iminência de uso do material bélico fosse irreversível. Enquanto isso, nos mesmos países, e até nos mais pobres, problemas econômicos e sociais se agravam, pela inversão de prioridades em que a pulsão de vida cede espaço à pulsão de morte.
Apenas a Alemanha respondeu por um acréscimo de 28% em seus gastos, na variação anual, chegando a 88,5 bilhões de dólares em 2024 e se tornando novamente o país de maior gasto com armamentos da Europa Ocidental. No Oriente Médio e no resto da Europa, notadamente devido às situações na Faixa de Gaza e na Ucrânia, os orçamentos para armas também dispararam. Com apoio de outros países, os ucranianos receberam 60 bilhões de dólares em material bélico. Mais de um terço do PIB da Ucrânia, no ano passado, foi direcionado às despesas militares. A Rússia, que ataca o país, elevou seus gastos com esse propósito em 38%, investindo quase 150 bilhões de dólares.
Ninguém vence, ainda, os Estados Unidos em despesas militares: nada menos que 997 bilhões de dólares, na esquina do trilhão. Vale ressaltar que isso se deu antes de Donald Trump voltar à Casa Branca. As perspectivas, nesse aspecto, não são boas para os que lamentam o rumo trilhado pela humanidade, em direção oposta ao mundo que o Papa Francisco tentou ajudar a recuperar.

Compartilhe