Amazônia menor assusta o mundo
Aumento detectado de 18% da região desmatada na Amazônia legal de agosto a março lança pressão sobre o governo Lula em ano de COP30 no Brasil

A velocidade com que a mata amazônica vem se reduzindo é motivo de disputa política no Brasil há alguns anos, como se a vinculação ao governo da vez fosse automática para a preservação ou não da floresta. O problema é mais complexa do que dão a entender as campanhas políticas e os discursos oficiais ou da oposição do momento. Se na gestão de Jair Bolsonaro as evidências mostraram um notório desleixo com o controle ambiental, as dificuldades de conservação aparecem com força no atual governo Lula. E a realidade se expressa em números. Mesmo com a redução no desmatamento nos primeiros anos do mandato, um levantamento recente denuncia que, de agosto do ano passado a março deste ano, a Amazônia legal encolheu em 18% em relação ao mesmo período anterior. Vê-se que o sinal político não impede a devastação do verde.
A área desmatada é estimada em quase 2.300 quilômetros quadrados, o equivalente a um território maior do que a cidade de São Paulo. Os números são do Sistema de Alerta de Desmatamento do Instituto Imazon, sem ligação com o governo federal. Para o Ministério do Meio Ambiente, ao invés de aumento, houve queda de quase 10% nas áreas desmatadas. O conflito de dados é preocupante, sobretudo no ano em que o Brasil vai sediar um evento como a COP30, em Belém, em novembro, a Cúpula do Clima que reunirá pesquisadores e ambientalistas do mundo inteiro.
A credibilidade do governo federal e do papel brasileiro como protagonista da preservação florestal pode estar em xeque, caso haja grandes discrepâncias na informação que indiquem falta de transparência oficial. A meta da ministra Marina Silva é zerar o desmatamento no país até 2030, contribuindo assim para reduzir as emissões de gases do efeito estufa que provocam o aumento da temperatura na superfície terrestre, fator de causa das mudanças climáticas em todo o planeta.
O Imazon também divulgou a área degradada – por queimadas e extração de madeiras – na Amazônia: mais de 34 mil km2 no período, perda 4 vezes superior ao observado no mesmo período entre 2023 e 2024. No ano passado, a degradação foi a maior em 15 anos. De acordo com a explicação do governo Lula, a degradação é consequência da seca e dos incêndios florestais decorrentes, mas afirma que houve redução de intensidade desde o último mês de dezembro.
É importante que as fontes oficiais e as entidades não governamentais tragam informações compatíveis, coerentes com os esforços institucionais que podem estar sendo feitos para evitar a perda acelerada da cobertura florestal que se verifica na Amazônia brasileira desde a segunda metade do século passado. Quase um terço das emissões de gases do efeito estufa no Brasil vem das queimadas na Amazônia, segundo estimativas de 2023. Em novembro, o país deve apresentar resultados de investimentos no reflorestamento, e não apenas na contenção das áreas desmatadas e degradadas. É preciso ir além da prevenção, diante de um cenário desolador que afeta o futuro não apenas dos brasileiros, mas de toda a humanidade.