Obrigado, Papa Francisco!
A presença de dezenas de chefes de Estado no funeral dá uma dimensão da importância do Papa Francisco – e da falta que sua voz já faz

Pelo menos 50 chefes de Estado, dez monarcas e representantes oficiais de 130 delegações nacionais confirmaram presença na cerimônia de despedida do Papa Francisco, neste sábado, no Vaticano. Trata-se de um claro reconhecimento ao trabalho desenvolvido por Jorge Mario Bergoglio, o argentino que se tornou o primeiro pontífice latino-americano. Trabalho que mudou a Igreja Católica, com a intenção de abrir e ampliar a prática religiosa para a contemporaneidade, tanto através da visão crítica em relação ao passado e às tradições dogmáticas, quanto adotando percepções inclusivas, a fim de proporcionar ao futuro da Igreja um horizonte mais abrangente, sintonizado com uma postura humanista inspirada em ícones do catolicismo, como São Francisco e o próprio Jesus de Nazaré.
A simplicidade de ambos pautou a trajetória do Papa Francisco em 12 anos no mais alto posto da Igreja Católica, assumindo as responsabilidades que lhe cabiam como homem de fé. E ao mesmo tempo, restaurando o papel humanista como defensor de minorias, do meio ambiente, dos migrantes e da paz, numa época marcada pelo ressurgimento da intolerância, da xenofobia, do nacionalismo e de conflitos bélicos prolongados e intensos, que consomem trilhões de reais em armas e matam milhares de pessoas, todos os dias, enquanto parcela significativa da humanidade passa fome, e não tem direitos básicos atendidos.
De Donald Trump, dos Estados Unidos, a Volodimir Zelenski, da Ucrânia, dos reis da Inglaterra e da Espanha aos presidentes do Brasil, Lula, e Javier Milei, da Argentina, passando pelos principais líderes da Europa, até representantes do Oriente Médio e da Ásia, o Papa Francisco receberá homenagens de todo o planeta. Se o momento ainda é de luto e comoção, o sinal de esperança – que Francisco sempre ressaltou em suas afirmações e atos – ganha o peso institucional dos governos nacionais e de entidades internacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU) e a União Europeia, que também enviarão representantes ao funeral de Bergoglio. Mesmo que suas declarações não tenham sido aceitas por todos, a coragem de buscar consensos e transformações com efeitos profundos nas vidas dos católicos e não católicos, conquistou o respeito da imensa maioria das lideranças políticas e da população mundial.
A observação atenta da realidade, por Francisco, igualmente cativou bilhões de crentes e não crentes. Como na crítica pertinente que fez do estilo consumista em nossos dias: “A velocidade excessiva pulveriza a vida, não a torna mais intensa. A sabedoria nos pede para perder tempo”, ensinava o papa. Seu gosto pelo bom humor, que procurava exercer com entusiasmo e generosidade, faz com que, na despedida, reste mais alegria do que tristeza, embora seja inescapável o lamento pela perda de alguém com a sua importância. Aberto ao diálogo e disposto ao trabalho abraçado como missão, Bergoglio não fazia pose de importante: como papa, ele foi se tornando cada vez mais importante, pelo desempenho humanitário que deixa saudade – e o exemplo de vida como grande legado.