ECONOMIA | Notícia

Nova desordem mundial

Guerra das tarifas e os impactos da desarrumação nos fluxos comerciais globais podem significar uma nova direção – só não se sabe onde vai dar

Por JC Publicado em 23/04/2025 às 0:00

Depois do susto, as contas dos prejuízos e a busca por oportunidades dominam a economia global no que já começa a se cogitar como uma nova era da globalização. Os impactos do tarifaço dos Estados Unidos sob Donald Trump ainda reverberam no mundo, e nem o presidente norte-americano faz ideia do quanto seu país, ele mesmo e o mercado irão ganhar ou perder, nos próximos meses e anos. A incerteza continua no presente e no horizonte, sem que ninguém possa discernir com clareza o que restará da imensa desarrumação nos fluxos comerciais, caso todas as ameaças de taxação e sobretaxação venham a se confirmar, numa guerra, como outras, em que quase todos saem perdendo. Mas alguns vão ganhar – no que é preciso prestar atenção.
O Fundo Monetário Internacional (FMI) começou a reduzir a expectativa de crescimento das potências e dos demais países, a partir da análise inicial das consequências do que Trump apelida de reciprocidade – gerando reações nem sempre afinadas com o que ele compreende sobre um comércio recíproco. A única certeza, talvez, dos analistas do FMI é que o prolongamento das tensões irá se traduzir em maior desaceleração da economia, nacional e globalmente. Quanto mais os EUA insistirem na transformação do discurso ultranacionalista em impostos aos produtos de fora, piores serão as perspectivas sobre o desempenho da economia, para os norte-americanos e o resto do planeta. A globalização que os próprios EUA ajudaram – bastante – a turbinar pode experimentar um freio comparável ao de uma grande guerra, com similar rearrumação econômica e geopolítica a reboque.
A suspensão das altas taxas impostas por Trump serve como pausa para que as nações entendam, negociem e busquem outras rotas comerciais. Mas há pouca esperança de que a Casa Branca volte atrás na política do nonsense, posando de vítima da globalização e do mercado livre entre os países. Para o FMI, a redução do crescimento da economia global já se vislumbra em pelo menos meio por cento, o que é muito quando a estimativa era de pouco mais de 3% na média global. Na expressão de Pierre-Olivier Gourincha, economista-chefe da entidade, “estamos entrando em uma nova era, à medida que o sistema econômico global que operou pelos últimos 80 anos está sendo redefinido". Redefinido para o que, não se tem ideia.
A restauração da previsibilidade e da clareza do comércio internacional parece algo difícil de se obter, persistindo a troca de taxas em escalada. Se a inflação aumentou nos EUA durante a pandemia, o risco de repiques inflacionários pela guerra deflagrada por Trump contra o mundo não é fora de cogitação. E sendo os norte-americanos tão sensíveis às ameaças econômicas, até a estabilidade política na maior potência ocidental pode estar em jogo, com a colaboração de um presidente que chegou para provocar desacordos e medos interna e externamente – e ainda se orgulha disso.

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