PÓS-TARIFAÇO | Notícia

Mercosul mais próximo da Europa

Cenários de instabilidade vislumbrados pela guerra fiscal dos EUA podem fazer com que um acordo do Mercosul com a União Europeia seja acelerado

Por JC Publicado em 18/04/2025 às 0:00

Os efeitos das mudanças tarifárias promovidas pelo governo de Donald Trump, nos Estados Unidos, para os produtos importados por seu país, têm intensificado as conversas de acordos comerciais multilaterais no resto do mundo. É nessa janela de oportunidade sob pressão, num horizonte de crise mundial não tão distante, que se inscreve o lento desenrolar de mais de 25 anos do acordo em elaboração entre o Mercosul com a União Europeia (UE). Nem os franceses, que têm setores da economia, sobretudo rurais, com reservas diante do acordo, poderão segurar por muito tempo sua concretização, caso os impactos da guerra tarifária de Trump comecem a dar sinais de despontar.
A UE busca novos parceiros comerciais, ou ampliar as relações comerciais com os que já dispõe, para minimizar a provável redução das trocas com os EUA. Os principais integrantes do Mercosul, como Brasil e Argentina, aparecem com destaque, mas o amadurecimento das negociações entre os blocos é esperado, diante da política beligerante da Casa Branca. O estreitamento dos negócios, graças à visão ainda mais estreita de Trump, pode abrir perspectivas promissoras para essa intensificação de laços nos dois lados do Atlântico.
A diversificação de parceiros na direção de uma menor dependência dos EUA deve ser tendência, a partir da entrada em vigor das novas tarifas. O mercado europeu tem tudo para demandar produtos que os países do Mercosul estão aptos a atender. Em especial, tornando-se mais competitivos em comparação àqueles com sobretaxas da chamada reciprocidade norte-americana. Com a virada na economia global realizada por Donald Trump, o Mercosul há de se tornar mais atraente, até mesmo para a França, quebrando resistências e se posicionando como um bom negócio para os europeus. O sentido inverso também conta: produtos da Europa podem chegar ao Brasil e demais nações da América Latina com vantagens competitivas em relação aos dos EUA.
“O equilíbrio mundial está mudando. Nós, europeus, precisamos de novos parceiros comerciais muito rapidamente", confirmou em declaração recente o futuro chefe de Governo da Alemanha, Friedrich Merz. É para se colocar como protagonista nesse novo cenário de equilíbrio que o Mercosul se candidata a grande parceiro da União Europeia. No prisma político, a oportunidade se dá através da quebra das barreiras protecionistas de franceses e outros países europeus, em troca de menor dependência dos EUA. Mas para que se consolide nas próximas semanas, um acordo precisa contar com a pressão dos governos do Mercosul, a começar pelo Brasil, lançando ênfase aos ganhos econômicos de parte a parte.
Com a base para o acordo concluída há alguns meses, o tarifaço que suscitou uma guerra comercial de dimensões improváveis se apresenta como motivo impulsionador para a aprovação pela Comissão Europeia, por onde o trâmite deve passar. Num primeiro momento, o governo da França se mantém irredutível, o que pode gerar novas rodadas de negociações, na direção dos ajustes necessários à aceitação de termos que beneficiem os dois lados, num mundo de instabilidade e desconfiança.

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