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Editorial JC: A situação econômica é um grande problema

A percepção das dificuldades conjunturais faz com que a população brasileira aponte a economia como a maior preocupação, ao lado da saúde

Por JC Publicado em 08/04/2025 às 0:00 | Atualizado em 08/04/2025 às 6:46

Ao acordar para sair de casa e pensar no dia à espera, ou ao ser surpreendido com um desassossego antes de voltar, à noite, o cidadão brasileiro não tira da cabeça a insegurança. A violência assusta e deixa marcas em todas as regiões do país, impondo o estresse aos indivíduos e comportamentos coletivos de retração, em resposta a uma condição estrutural que se agrava nacionalmente, pela expansão do crime organizado.

Mas também se configura a partir de elementos regionais e locais, em especial a desigualdade social que transforma tantas comunidades em reféns de traficantes e outros bandidos. Não é à toa que a falta de segurança se apresenta, há décadas, como um dos principais fatores para a baixa qualidade de vida do povo brasileiro.

Mas o endividamento, as dificuldades de renda e de trabalho, os preços dos alimentos, do transporte público, da gasolina, da energia, estão fazendo com que a economia passe a ser vista, pela população, como uma preocupação de dimensões ainda maiores do que o tormento da insegurança. Pesquisa divulgada pelo Datafolha mostra que a economia está no topo das preocupações brasileiras, assumindo um lugar que era da violência, até o final do ano passado.

A saúde segue aparecendo em primeiro lugar, também acima da violência. Saúde e economia foram mencionadas por 22% dos entrevistados, considerando temas de responsabilidade do governo federal. A violência tem a metade das citações das duas, com 11%.

A percepção popular não é estranha ao Planalto. No mês passado, o governo federal zerou o imposto de importação para diferentes produtos – antes do tarifaço dos Estados Unidos, feito por Donald Trump. O objetivo da medida foi barrar a inflação em escalada nos alimentos, e tentar impedir a queda na popularidade presidencial.

A pesquisa do Datafolha é um sinal de que o governo federal está atento aos estragos que podem ser causados, inclusive politicamente, em consequência da deterioração da conjuntura econômica em um país relativamente rico, pelo peso da economia na América do Sul, mas de nação majoritariamente pobre ou de classe média sempre apertada no orçamento pessoal e familiar.

Depois da violência, as preocupações dos brasileiros são a educação, a corrupção, o desemprego – que poderia ser incluído na área da economia – e a fome. Um leque de problemas graves que nem o atual governo, nem os anteriores nas últimas décadas, de variadas bandeiras partidárias, conseguiram chegar perto de resolver. A educação segue com sofríveis indicadores de desempenho no ensino, a começar pela compreensão de leitura.

A corrupção não sai das manchetes, tornando a gestão pública ainda mais cara para os cidadãos, e as demandas não atendidas virando bolas de neve. O desemprego não dá trégua, e mesmo a fome, que se reduz, não é alvo da decisão política que a afaste do nível que deveria ser vergonhoso para qualquer gestor público – especialmente os prefeitos que cruzam com os famintos nas esquinas, ou fogem deles.

A economia no topo das preocupações emerge como preocupação política do Planalto e da base governista, a pouco mais de um ano da campanha eleitoral.