Editorial JC: Vacina é prevenção contra a gripe
Início oficial da campanha de imunização que já começou em alguns estados alerta para a importância da confiança na ciência, contra riscos maiores

Há praticamente cinco anos, a população mundial atravessou um dos períodos mais difíceis da história contemporânea. A pandemia de Covid-19 assustou, contaminou e matou milhões de pessoas. A humanidade foi forçada a enfrentar o coronavírus com as medidas de que dispunha – e no primeiro momento, nenhum governo de qualquer país sabia exatamente o que estava disponível.
Mesmo os médicos e os hospitais ficaram tateando, na base da experiência de momentos aterrorizantes e de profundo estresse, sobre como tratar e atender a uma demanda insuportável para as estruturas existentes.
E quando chegou a sonhada vacina, sob a forma de mais de um imunizante, resultantes de pesquisas diversas na corrida pela vida contra a morte, deparamo-nos com outro choque: a recusa de líderes políticos, religiosos e de parcela das populações, em compreender a imunização como solução preventiva ao sofrimento que poderia ser fatal. A pandemia da desinformação alastrou a da Covid, gerando disputas políticas bizarras e divisões sociais que ocorreram até no âmbito das famílias.
Desde a pandemia, mas já de antes dela em menor escala, o calendário vacinal no Brasil e no mundo vem sofrendo com o boicote que vilaniza a ciência, e por tabela, deixa vulnerável a saúde das pessoas que preferem o negacionismo à sensatez.
O desafio dos governos não negacionistas, e dos cientistas e da comunidade médica e de pesquisa, tem sido retomar a credibilidade nas imunizações, superando mentiras escandalosas e fake news a respeito de efeitos colaterais e teorias conspiratórias envolvendo as vacinas – não apenas a da Covid, mas todas as vacinas. Um desserviço à saúde público que foi propagado, inclusive, por gestores públicos de alto escalão, como no Brasil de Jair Bolsonaro, que trabalhava contra o próprio ministério e se recusou a tomar a vacina, em plena pandemia.
Daí a importância de se valorizar, de modo contínuo e firme, as campanhas de imunização às doenças, como a que abre oficialmente nesta segunda-feira em quase todo o Brasil, contra a gripe. Na região Norte, a campanha será realizada no segundo semestre, por ser o período de maior incidência de casos naquela parte do país.
Por determinação do governo federal, alguns municípios puderam dar a partida na imunização antes, assim que receberam as doses, a fim de elevar a eficiência diante dos riscos de aumento de casos. A meta é vacinar, na primeira fase, pelo menos 35 milhões de brasileiros dos grupos prioritários, que incluem crianças, idosos e gestantes, indivíduos que, uma vez expostos aos vírus respiratórios, exibem maior tendência a desenvolver casos graves, e até morrer em função da gripe.
Também estão na lista prioritária, que podem receber as doses gratuitamente pelo SUS, os trabalhadores de saúde, os professores, as pessoas em situação de rua, os povos indígenas, a população carcerária e os funcionários do sistema penitenciário, entre outros. O total de doses adquiridas pelo Ministério da Saúde ultrapassa 67 milhões de aplicações.
A imunização contra a gripe é anual e pode ser feita ainda, fora dos grupos prioritários, na rede privada. O imprescindível é a proteção que fortalece a imunidade do organismo, enfraquecendo os sintomas se a contaminação acontecer. Mas antes é preciso enfraquecer o preconceito disparatado que se forjou contra as vacinas.
Confira a charge do JC desta segunda-feira (7)