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Editorial JC: Radicalização cresce no mundo

Crise que resultou no impeachment do presidente na Coreia do Sul após tentativa de autogolpe, é um exemplo da polarização arriscada que se amplia

Por JC Publicado em 06/04/2025 às 0:00 | Atualizado em 06/04/2025 às 11:11

Uma onda de pressões fustiga a democracia em várias partes do planeta. E o pior é que a radicalização que impõe o questionamento das instituições democráticas pode ser vista como ferramenta de movimentos ou desejos autoritários evidentes, com ou sem o suporte explícito de parcela das populações.

Se o caso mais claro vem da potência ocidental nas Américas, com a reascensão de Donald Trump à Casa Branca, é do outro lado do mundo que surge nova mostra da falta de um meio de campo entre as demandas coletivas e a política firmada em alicerces democráticos voltados para o bem comum, sem exclusões ou discriminações.

Cada vez mais, o vácuo no centro da representação política dá oportunidade a extremistas que falam a língua da insatisfação popular, ainda que não necessariamente majoritária, e se habilitam a utilizar os meios democráticos para, mais tarde, usurpar a democracia em nome do poder que se confunde com a força de discursos e práticas ditatoriais.

O Tribunal Constitucional da Coreia do Sul destituiu o presidente Yoon Suk Yeol, por desrespeito a direitos básicos e à ordem democrática, por ter tentado, em dezembro, dar um autogolpe para sufocar a oposição ao seu governo.

Embora estejamos distantes para destrinchar os meandros da política sul-coreana, podemos observar que o impeachment parece, como de costume, um mecanismo institucional de defesa, em reação ao golpe que não deu certo. Mas a ameaça não para por aí.

Até porque as nações, dos Estados Unidos à Coreia do Sul, passando pela América Latina e a Europa, atravessam um momento de concentrada turbulência, com a vigência de pressões que afetam a democracia – com o apoio de líderes expressivos que atraem massas de cidadãos desnorteados exprimindo insatisfação.

A crise na Coreia do Sul envolve manifestações de rua em favor do presidente deposto, e a incerteza aberta com a necessidade de realização de novas eleições em dois meses. Para os defensores de Yoon Suk Yeol, a oposição se prepara para assumir o país e levar o comunismo para os sul-coreanos.


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Não é a primeira vez na história, nem será a última, que o fantasma comunista serve de narrativa para ímpetos autoritários. Ao invés de abraçarem a democracia e derrotar os opositores nas urnas, a população que respalda o agora ex-presidente preferiria a continuidade de seu mandato através da violência, e da supressão dos direitos dos que dele discordam.

A radicalização puxada por Trump no Ocidente é um perigo concreto à democracia no mundo. O atual presidente norte-americano já foi acusado de atacar as instituições, mas venceu as eleições com o apoio da maioria dos votantes, em larga vantagem.

Em poucos meses de governo, já deu início a um período de perseguições e desconstruções que recordam o enredo de “1984” de George Orwell, escrito, ironicamente, para denunciar o autoritarismo soviético no século passado. O que está acontecendo lá fora não é, infelizmente, estranho aos brasileiros. Precisamos estar atentos e buscar a reconstrução do centro político, para que o reino dos radicais não volte a assustar a democracia por aqui, mais uma vez.