Obras caras e lentas
Conclusão do trem 1 da Refinaria Abreu e Lima é um exemplo de como empreendimentos estruturantes no país demoram, custando mais que o planejado
As listas de obras inacabadas por suspeitas de corrupção, superfaturamento e problemas de execução, têm sido divulgadas pelos órgãos de controle, como os Tribunais de Contas, há décadas no Brasil. E acontece um círculo vicioso que prejudica a população – a quem o investimento deve ser dirigido – com o atraso ou a paralisação, e ainda encarece bastante o orçamento inicial, seja por falhas no planejamento, seja por deturpações morais que habitam o espírito dos corruptos. Com a demora, o desenvolvimento nacional patina, sobretudo na direção da superação de desigualdades históricas, que depende, entre outros fatores, de melhoria da infraestrutura das regiões e estados que concentram piores indicadores sociais, como o Nordeste. Sem grandes obras estruturais, geradoras de empregos e catalisadoras de negócios, os nordestinos seguirão amargando as dificuldades econômicas que emperram os avanços na qualidade da vida coletiva.
Isso vale também para Pernambuco, e com a triste constatação de perda de competitividade em relação a outros estados nordestinos, nas últimas décadas. Mesmo que a tendência decadente esteja começando a ser revertida, há muito a ser feito, do ponto de vista estrutural, para que os benefícios se estendam para os pernambucanos, revertendo os indicadores negativos acumulados na economia e no desenvolvimento humano. São necessários investimentos de porte, que alcancem a escala demandada para as transformações que a população espera há tanto tempo. Investimentos que devem agregar a participação do governo federal, e da iniciativa privada, além dos recursos próprios ou financiados do governo do estado.
Tal realidade possui numa obra simbólica, de importância crucial para a economia baseada no petróleo. Uma década depois de iniciar as operações, a Refinaria Abreu e Lima tem concluído o seu primeiro conjunto de unidades de refino, chamado de trem, ampliando a capacidade de produção. No entanto, o atraso continua: o trem 2, para a carga completa de produção, está previsto para ser entregue apenas em 2029. Vale uma reflexão a respeito da lentidão. Depois de tantos anos, denúncias, assaltos comprovados aos cofres públicos e retomadas das obras, o empreendimento, apesar de sua relevância estratégica para Pernambuco, o Nordeste e o país, se defronta com uma realidade diferente daquela de quando foi concebido. Até no seio da indústria petrolífera, o debate da transição energética ganhou força, fazendo com que os planos de expansão da Rnest, como é conhecida, se tornem, além de parte de uma solução, também um problema para o modelo de obtenção e uso da energia nas décadas seguintes do século 21.
A conclusão do trem 2 até o fim desta década é a promessa da Petrobras para dobrar a produção da refinaria pernambucana. A expectativa é de contratação de 30 mil novos empregos, numa das obras mais caras do mundo no segmento – quase 19 bilhões de dólares, até agora. Uma aula bem brasileira de como gastar muito e levar uma eternidade para entregar algo de tamanha importância.