Editorial JC: Venezuela mais às escuras
Mesmo com funcionários públicos trabalhando apenas 4 horas por dia para economizar energia, regime de Nicolás Maduro não admite mudanças

O obscurantismo venezuelano não cessa de produzir situações calamitosas para a população. O baixíssimo grau de liberdade, a falta de atendimento a direitos elementares, a repressão política e a censura à imprensa se combinam num dos piores cenários do planeta, com cidadãos empobrecidos e donos do poder escondidos atrás da opressão, como se nenhuma responsabilidade tivessem, durante anos, para a decadência social e econômica na Venezuela. Depois de Hugo Chavez, Nicolás Maduro não larga a faixa presidencial, enquanto a vida dos venezuelanos não dá sinal de melhora.
A ditadura de Maduro anunciou a redução do horário de trabalho do funcionalismo público para apenas 4 horas diárias, por pelo menos seis semanas, como forma de economizar energia diante da estiagem que também castiga a nação, no contexto do aquecimento global e das mudanças climáticas no planeta. Escolas, postos médicos e hospitais, além das delegacias, continuarão funcionando no horário tradicional, por enquanto.
Sem maiores explicações sobre a medida, como de praxe numa autocracia, até os servidores públicos foram pegos de surpresa, sem saber o que vem pela frente. E o povo que demanda os serviços do governo, sem saída, terá que esperar na fila do atendimento restringido.
O baixo nível de água nas represas – realidade conhecida dos pernambucanos, sobretudo no Agreste, atualmente – é o motivo alegado para a contenção de trabalho. Muitos rios estão ameaçados de secar. Mas o governo ditatorial, ao invés de discutir as alternativas com especialistas e deixar o problema transparente para a opinião pública residual no país, sem oposição permitida nem imprensa livre, preferiu o caminho usual da força que impõe decisões a uma coletividade aturdida. A desordem burocrática se apresenta como outra chaga do regime venezuelano, que jamais assume seus limites e continua lançando para o lado de fora as causas de todas as mazelas nacionais.
Interrupções de energia se repetem no interior e nas grandes cidades, contribuindo para elevar a sensação de insegurança e desamparo da população. E de que volte a ocorrer um apagão como o que deixou Caracas e outras cidades às escuras, por oito horas, em agosto do ano passado. Sem esquecer o que vigorou por vários dias, em 2019. A dois meses de eleições para governadores, prefeitos e representantes legislativos, a vontade coletiva dos venezuelanos poderia se expressar com a contundência da mudança necessária para uma renovação democrática.
No entanto, a continuidade da exceção que virou regra constitui difícil obstáculo à transformação política que possa agregar a mobilização para o fim do obscurantismo. Sem energia nas ruas e residências, a Venezuela segue ainda mais às escuras, enquanto Maduro e seu entorno se gabam de liderar em nome do povo - sem respeitar sua vontade, sequer permitindo a expressão dela.