Editorial JC: Paralisação inédita
Pela primeira vez, o Metrô do Recife – o que resta dele – não estará disponível para os foliões da Linha Sul no dia do Galo da Madrugada

As consequências acumuladas pelo sucateamento do Metrô do Recife ao longo das últimas décadas, são bem conhecidas pela população. As quebras constantes, a falta de investimentos na manutenção e na expansão, a insegurança, o desconforto e o atraso fazem parte de cada vez menos usuários, com a redução para menos da metade do número de pessoas que o modal metroviário já transportou – de 400 mil por dia a menos de 200 mil, atualmente.
Ao invés de ser ampliado e modernizado, levando mais gente a mais lugares, como em outras cidades e regiões metropolitanas do Brasil e do mundo, o metrô pernambucano é o retrato da decadência do sistema de transporte coletivo no estado.
Devido aos problemas de sempre, que ao invés de diminuírem, aumentam, sem que os governos atuem, de fato, por soluções, o Carnaval deste ano será complicado para os habitantes e visitantes que estiverem na porção sul da Região Metropolitana.
A Linha Sul do Metrô não vai funcionar, segundo informou a empresa estatal gestora, ligada ao governo federal, a CBTU. Em justificativa, foi dito que a frota disponível de trens estará dedicada à Linha Centro, que atende à maior demanda, num dia de conhecido grande movimento, o sábado do desfile do Galo da Madrugada. Explicações detalhadas sobre a suspensão da linha são esperadas para esta sexta-feira, a praticamente uma semana do Carnaval.
O que já se apresentou como orgulho da operação do metrô, beneficiando milhares de foliões num dia especial, não vai acontecer pela primeira vez na história, segundo apurou o JC junto a metroviários: a suspensão de uma das linhas no dia do Galo é um fato inédito. Mas não surpreende, pelo histórico de problemas nos últimos anos, com notícias frequentes de panes e interrupções no sistema.
A questão é grave, no entanto, por se tratar de um período de alta concentração na demanda por transporte público de toda a Região Metropolitana, e de outras cidades e até de outros estados, para o bloco mais famoso do Carnaval pernambucano. E a responsabilidade passa a ser de todas as autoridades públicas, desde o governo federal que não disponibiliza a receita necessária, até o Estado e os municípios, aos quais pertencem a população e os turistas que deixam de ser atendidos.
A Linha Centro, que será foco do serviço no sábado de Zé Pereira, ficou quatro dias sem funcionar em uma das últimas paralisações. O Ramal Jaboatão ficou fechado por uma semana.
Por tudo que passa o Metrô do Recife, a expectativa é que ao menos o que for disponibilizado para o Carnaval funcione a contento, sem sustos nem a repetição dos transtornos com os quais, infelizmente, os pernambucanos já se acostumaram, no vácuo de um serviço de transporte público de qualidade para a Região Metropolitana. Eis um tema fundamental, aliás, para o retorno anunciado do Conselho Metropolitano – quem sabe a prévia de soluções para futuros Carnavais.
Confira a charge do JC desta sexta-feira (21)