Editorial JC: Superar o golpismo
Denúncia da Procuradoria Geral da República contra Jair Bolsonaro e mais 33 pessoas precisa ser julgada logo– para o Brasil seguir adiante

A radicalização política que vem de antes mas que pôs em curso, no final do governo Jair Bolsonaro, um movimento antidemocrático reunindo alguns representantes de instituições e diminuta parcela da população, precisa ser superada. E constitui oportunidade para isso a denúncia realizada pela Procuradoria Geral da República (PGR) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e outras 33 pessoas, que estariam envolvidas em trama golpista para assumir o poder pela violência, fora das regras constitucionais e passando por cima dos valores da democracia.
O julgamento precisa ser feito e não pode atrasar, exatamente por incluir personagem de destaque da cena política brasileira – ainda que inelegível até 2030 – mas sobretudo, a fim de marcar a atuação das instituições em defesa da normalidade democrática.
A reação de simpatizantes do ex-presidente denunciado fortalece o teor da denúncia, ao postular contra a legitimidade institucional do Supremo Tribunal Federal (STF) e da PGR para cumprirem seus papeis, assim como alegar genericamente uma perseguição política.
Mas o mais grave é que se recorra ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para que interfira por Bolsonaro, como se o atual ocupante da Casa Branca tivesse a prerrogativa de se imiscuir nos assuntos brasileiros, atropelar o Judiciário e perdoar os denunciados por golpismo.
Em pouco mais de um mês no cargo, a intromissão de Trump em outros países já pode ser percebida, carregada do mesmo tipo de ímpeto autoritário do que não admitem derrota nas urnas – como o próprio Trump fez, aliás, ao perder para Joe Biden na eleição anterior. No entanto, as instituições e o povo brasileiro não admitiriam qualquer interferência por aqui.
Denúncia da PGR
A denúncia da PGR, além de cabível pelos fatos, como a baderna de 8 janeiro de 2022 em Brasília, era esperada há algum tempo. O envolvimento do ex-presidente Bolsonaro é lamentável, mas também não é surpresa, desde seu comportamento quando ainda estava no Planalto.
Em uma ocasião, o discurso de 7 de Setembro foi tão recheado de exortações golpistas, que foi necessária a defesa da democracia por uma série de instituições e personalidades, mostrando que o Brasil não concordava com nova noite totalitária, a exemplo dos longos 20 anos da ditadura militar que se iniciou em 1964.
De acordo com os indícios colhidos pelo Procurador Geral, Paulo Gonet, os denunciados conspiraram na direção de um golpe de Estado, objetivando anular o funcionamento dos poderes da República e retirar do Planalto o presidente Lula, eleito pela maioria dos brasileiros para o terceiro mandato – não sequenciados. O caminho processual no STF passa pela primeira turma, e depois, caso aceita a denúncia, pelo conjunto dos juízes do Supremo.
A expectativa é que a decisão não extrapole este semestre, por pelo menos dois motivos: para o golpismo não ressurgir como causa política descabida, e ainda, para não contaminar o debate eleitoral, já prematuramente detonado, em relação ao ano que vem.
Confira a charge do JC desta quinta-feira (20)