RISCO NO TRÂNSITO | Notícia

Editorial JC: Moto e saúde pública

Especialistas não param de repetir o quanto a profusão de motocicletas e serviços de transporte por duas rodas ameaça a vida das pessoas

Por JC Publicado em 18/02/2025 às 0:00 | Atualizado em 18/02/2025 às 6:53

A crise provocada na saúde pública pelo aumento de motocicletas no trânsito das cidades brasileiras não pode ser menosprezada por prefeitos e demais gestores do Executivo, pelo Legislativo e o Judiciário em suas diversas instâncias. Fazer de conta que não há risco, e continuar permitindo o tráfego intenso de veículos motorizados em duas rodas, no transporte de mercadorias e pessoas, sem a devida observação da segurança necessária nos deslocamentos, é impor aos sistemas de saúde uma sobrecarga evidente. E o mais grave: é expor os cidadãos à falácia da mobilidade segura, cujo custo pode ser impagável após um sinistro, e a rapidez no trajeto, uma ilusão que encurta a distância para uma vida de sofrimento – ou para a morte.

Em São Paulo, a maior cidade do país, uma guerra jurídica vem sendo travada entre a Prefeitura e as duas grandes empresas de transporte de passageiros por motocicletas. Trata-se de uma trincheira isolada, já que em todo o restante do Brasil o serviço é comum. Mesmo assim, a negativa para a prestação do serviço tem sido defendida não apenas pelo Executivo municipal, mas por entidades médicas nacionais, que enxergam uma oportunidade para difundir os riscos e as consequências desse tipo de transporte – que surge no vácuo de um sistema coletivo eficiente para a população.

Sem metrôs, trens e ônibus em quantidade suficiente e qualidade razoável, os cidadãos correm para as motos, aparentemente mais baratas e rápidas do que os outros meios de transporte. O debate em São Paulo apresenta uma componente singular, já que a megalópole oferece uma vasta rede metroviária, e conta com muitos quilômetros de faixas exclusivas para ônibus.

Num esforço institucional concentrado, visando mudar a direção da liberação em São Paulo e, quem sabe, reverter a passividade do governo federal a respeito do assunto, a Associação Brasileira de Medicina de Tráfego – Abramet – se posicionou contra o transporte remunerado de passageiros pelas motocicletas.

Com pouco mais de um quarto da frota de veículos e respondendo por mais da metade das internações na rede hospitalar do SUS, “este modal é o mais perigoso nos nossos deslocamentos, e esse fato deve ser considerado na hora da escolha do tipo de transporte”, disse Áquilla Couto, diretor de comunicação da Abramet, ressaltando dados conhecidos há algum tempo.

O perigo de vida é imenso para os passageiros que não são orientados nem fiscalizados pelos serviços de transporte por motos. É comum ver indivíduos na garupa, sem a menor segurança, as mãos livres ou, pior, utilizando o celular, enquanto o motorista acelera e faz manobras temerárias para ganhar tempo.

A Abramet mostra dados para reforçar o argumento: em Belo Horizonte, por exemplo, o número de internações relacionadas às motos cresceu 22% em seis meses. A ampliação e a melhoria do transporte público são apontadas como providências necessárias para desestimular a escolha pelos aplicativos de motos, bem como aliviar os sistemas de saúde, com mais segurança no trânsito.

Confira a charge do JC desta terça-feira (18)

Thiago Lucas
Lula não tem mais a popularidade que tinha em seus dois mandatos anteriores - Thiago Lucas

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