Seca avança no país

Maior estiagem já registrada em todo o território nacional mostra o desafio das mudanças climáticas e da proteção à natureza e da biodiversidade

Publicado em 06/09/2024 às 0:00

O Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) divulgou números preocupantes para os brasileiros, esta semana. Há quase 75 anos, desde 1950, o país não registrava índices tão baixos de chuvas e evapotranspiração das plantas. Mais da metade do território nacional enfrenta o drama da seca, afetando rios e lagos, animais e vegetação, além dos impactos sobre as comunidades humanas. São 5 milhões de quilômetros quadrados, ou 58% da área do país. Duas grandes estiagens já alertaram para a situação atual, que pode se agravar com as mudanças climáticas e a elevação da temperatura média no planeta: no fim do século passado, em 1998, e em 2015, atravessamos períodos rigorosos de estiagem. Mas não tão extensa quanto agora, e ainda na perspectiva de piora em decorrência do alarme climático global.
A curva de dados desde 1950 indica uma tendência de redução das chuvas que assusta, pelo que pode representar num futuro próximo. Quase 4 mil municípios estão em algum nível de situação de seca, com pouco mais de 200 em seca severa. A maior parte das cidades com estiagem está em São Paulo, Minas Gerais e Mato Grosso. De acordo com o Cemaden, os sinais são de que esse número passe de 4.500 municípios este mês, já que setembro é historicamente o que apresenta menos chuvas e mais secura para a vegetação. A queda do nível dos rios na região Norte vem batendo recordes, atingindo a vida da população e pondo em risco a biodiversidade. Somente no Rio Negro, um dos mais importantes da região, o surgimento de bancos de areia dificulta a travessia para Manaus, forçando longas caminhadas para quem se desloca por ali para a capital do Amazonas. O rio caiu 5 metros em Manaus em agosto. Vale recordar que, no ano passado, o Negro atingiu seu nível mais baixo em 120 anos. A seca de 2024 manteve o cenário de atenção para os efeitos da estiagem prolongada, que se repete.
O aumento das queimadas florestais em todo o país é outro problema que vem se juntar à situação crítica de estiagem. Muitas queimadas podem estar sendo causadas propositalmente, o que demonstra a necessidade de melhor fiscalização e penalização para o crime ambiental. De qualquer modo, os atos criminosos se aproveitam de um ambiente seco propício à disseminação do fogo, numa época de pouca chuva. Apenas em agosto, foram mais de 38 mil focos de queimadas na Amazônia, maior número em quase duas décadas. Manaus ficou coberta por fumaça por uma semana. Outras grandes cidades sentiram as consequências dos incêndios no Norte e outras regiões, como Brasília e Belo Horizonte, além de grande parte do interior de São Paulo, estado em que as queimadas também foram recorde.
Todos os municípios do Amazonas encontram-se em situação de emergencial ambiental e de saúde pública devido à seca. Se o tempo bom não voltar logo, mesmo as populações acostumadas às variações dos níveis dos cursos d’água podem sentir o peso da crise, e começar a procurar outros lugares para viver. O drama da seca, conhecido dos nordestinos, já motivou milhões de brasileiros a migrarem no país. Enquanto o clima continuar em crise, e as temperaturas subindo, precisamos de planos de convivência com o novo normal ambiental, com urgência.

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