A importância da literatura
Reflexão e recomendação do Papa Francisco ressaltam o papel fundamental da leitura literária para o ambiente escolar e a formação dos indivíduos

Uma boa história carrega o potencial de oferecer lições que extrapolam os currículos escolares, ainda que não se retirem os aprendizados tradicionais da linguagem, seus usos e interpretações mais comuns. Cada obra, notadamente as clássicas, mas também aquelas de autores contemporâneos, abrem mundos em suas páginas. O melhor é que esses mundos contêm dupla face: escancaram a universalidade da experiência humana, ao mesmo tempo em que são criados pela leitura sempre original de uma pessoa, com sua perspectiva, vivência e imaginação. A educação pela literatura não é uma fonte objetiva de conhecimento, e sim, um manancial inesgotável de possibilidades para a formação íntima e crítica dos indivíduos, constituindo, assim, uma das mais valiosas ferramentas educativas para a coletividade, educando cidadãos para a plenitude do exercício do pensamento, traduzido em ações de caráter e empatia.
Os defensores de maior presença da literatura na educação – e não apenas com livros, mas com escritores e demais profissionais do mercado editorial nas escolas – ganharam há poucos dias o apoio explícito do Papa Francisco. O pontífice escreveu uma carta sobre educação e literatura, na qual enfatiza a importância das conquistas da leitura para quem estuda. Na compreensão do colunista do UOL, Rodrigo Casarin, o papa “enfatiza que a leitura literária nos faz sentir vestígios de nosso íntimo e nos sensibiliza para as experiências vivenciadas por outras pessoas. Faz com quem saíamos de nossas profundezas para compreender outras lutas e desejos, vislumbrar a realidade com outros olhos”.
A coluna Literária do JC-PE, a propósito, vem insistindo nesse enfoque. Quanto mais a literatura estiver presente nas escolas brasileiras, maior será a qualidade do ensino e a formação dos cidadãos no país, com rebatimentos, também, no crescimento profissional que se beneficia do desenvolvimento pessoal. A carta do Papa Francisco se une a essa visão que se dissemina, e vem em decorrência da necessidade da valorização da literatura, numa época de escapismos digitais de toda ordem, que reduzem a capacidade de atenção e aprofundamento requerida pela leitura literária – e incorrem na perda de experiências proveitosas de que os livros são capazes de proporcionar.
Como reporta o papa, a leitura literária mistura prazer e descoberta, aprendizados e amadurecimento. A literatura provoca reflexão, inquietação, mas também deleite. Além de suscitar a vontade do compartilhamento do que é lido com outras pessoas, no que se pode chamar de engajamento real, social, da literatura. Tal desejo, realizado, induz a encontros que podem ampliar práticas de cidadania, elevando o criticismo e a disposição de influência no destino coletivo. Ler é dividir a leitura, e multiplicar o gosto pela literatura, cuja incorporação ao cotidiano é crucial para impulsionar a educação, em qualquer nível.
A leitura não é hábito de séculos passados, sustenta o papa. “Antes da onipresença dos media, das redes sociais, dos telemóveis e de outros dispositivos, esta era uma experiência frequente, e quem a viveu sabe bem do que estou a falar. Não se trata de algo ultrapassado”. Na verdade, ato atemporal, vinculada à educação, a leitura se transforma em um hábito que ergue futuros.