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Eu e os governadores...

Lembro de algumas histórias que vivi com governadores de Pernambuco, dos quais, permitam-me a imodéstia, me tornei amigo................

Por JOÃO ALBERTO MARTINS SOBRAL Publicado em 06/06/2025 às 0:00 | Atualizado em 06/06/2025 às 10:24

Nilo Coelho: Quando era governador, na véspera do Natal visitava as redações dos jornais e levava de presente uma enorme cesta natalina, para sortear entre os que estavam na redação. Na época, eu era repórter no Diário de Pernambuco e fui o sorteado. E ele teve até o cuidado de perguntar se eu tinha como levar o presente e eu disse que não tinha carro. Ele chamou o ajudante de ordem para anotar meu endereço para mandar levar o presente, que minha família adorou. Foi a primeira cesta de Natal que ganhei. Um dia, num domingo, ele me convidou para almoçar com ele. Cheguei na hora marcada e ele já me esperava, com Maria Tereza e duas filhas. E fomos almoçar no Galo de Ouro, que era o restaurante favorito dele, na Camboa do Carmo. Pois bem, nada de carro, fomos a pé, sem seguranças. E também voltamos, com ele trazendo na mão uma quentinha com uma sobremesa, que ele me disse que seria para o jantar. Outros tempos, sem dúvida.

Marco Maciel: No Recife, ele morava num edifício vizinho ao meu. Certo dia, em torno das 10h, eu saía da garagem no meu carro, na mesma hora que ele. Ao me ver, atencioso, como sempre, desceu da viatura oficial, para me cumprimentar. Foi quando brinquei, dizendo que estava explicada a fama de ele só dormir duas horas por noite. Teria acordado àquela hora?. Ele riu e disse: já recebi três auxiliares para despachar em casa. E me contou que vivia recebendo cartas (na época não havia WhatsApp), com conselhos para curar insônia, garantindo que, apesar de tudo que se falava, sempre dormia pelo menos cinco horas por noite.

José Ramos: Um gentleman na melhor acepção do termo. Era casado com Socorro, que tinha sido Miss Petrolina. Assumiu em 1982, por ser o presidente da Assembleia Legislativa, quando Marco Maciel saiu para ser candidato a senador e o vice, Roberto Magalhães, para disputar o governo do Estado. Um dia, fui conversar com ele no Campo das Princesas, quando seu filho, um garoto de uns cinco anos entrou correndo no gabinete e ficou no colo do pai. Recordei cena parecida com o filho de John Kennedy, na Casa Branca, que correu o mundo.

Miguel Arraes: Quando ele voltou do exílio, em 1979, fui o primeiro a entrevistá-lo no programa João Alberto Confidencial, que na época eu fazia na TV Universitária, levado por Ricardo Leitão. Foi nessa oportunidade que ele revelou torcer pelo Ibis, fato lembrado pelo resto de sua vida. Disse que era para não contrariar os filhos, que tinham times diferentes. Quando perguntei sobre charutos, disse que os únicos que prestavam eram os cubanos. Deu aquela risada aberta que era tão característica dele e disse: "Os outros são qualquer coisa, menos charutos."

Roberto Magalhães: Moysés Margolis era um dos seus maiores amigos, há muitos anos, que fez o lançamento de uma linha de relógios de luxo na sua loja Clock's e ele foi um dos convidados. O diretor da marca o presenteou com um relógio, sabedor que ele era colecionador. Ele me disse que não poderia aceitar, ficaria mal. Eu retruquei, dizendo: "Governador, o senhor não pediu nada, ganhou presente, não haveria problema de ficar com o relógio". Ele concordou e aumentou sua coleção.

Gustavo Krause: Eu, que não bebo, fazia uma única exceção: tomava algumas numa festa que Sebastião Orlando fazia para os amigos, na sua empresa na Cruz Cabugá, reunindo amigos. Numa delas, fiquei sem condições de dirigir e o governador revolveu o problema. Foi me levar em casa, no carro oficial. Chegando lá, desceu e foi me ajudar a subir a escada do prédio. Os porteiros ficaram sem acreditar, vendo-me chegando levado pelo governador do Estado. Depois, num domingo pela manhã, como sempre gostava de fazer, saía com amigos para, digamos, jogar conversa fora. Algumas vezes me chamava. Numa delas, fomos para um barzinho à beira-mar em Candeias, que estava na moda. Foi quando chegou a presidente de uma empresa do Estado, usando o carro oficial. Foi uma das poucas vezes em que o vi com raiva. Mandou que ela voltasse, colocasse o veículo na garagem e retornasse de táxi. Ela não voltou e ele voltou a tomar tranquilamente sua vodca sua bebida favorita.

João Alberto Martins Sobral, editor da coluna João Alberto no Social 1

 

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