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Conversas de 1/2 minuto (43) - Escritores

Lisboa, Portugal... Mais conversas, hoje só com escritores e afins, em livro que estou escrevendo.............................................

Por JOSÉ PAULO CAVALCANTI FILHO jp@jpc.com.br. Publicado em 23/05/2025 às 0:00 | Atualizado em 23/05/2025 às 10:24

ALBERTO VENÂNCIO, da Academia Brasileira Letras - ABL. Perguntei, no passado que passou,

- Amigo, o que é preciso para entrar na Academia?

 - Primeiro entrar, depois ser eleito.

 ANTONIO CARLOS SECCHIN. Na Academia Brasileira de Letras, candidato pediu seu voto com um soneto lastimável. Secchin preparou resposta, na hora, Homero ou Petrarca?

 - Amigo, seu soneto é um colosso,

Isso eu faço questão de lhe dizer.

Porém votar está virando osso

Cada vez mais difícil de roer.

 Como escolher entre Homero e Petrarca?

Melhor um narrador ou um sonetista?

Todos deviam entrar nessa arca,

Cabe um topázio e cabe uma ametista.

 Todavia, o comboio é bem restrito:

São quarenta lugares, nada mais.

Se pudesse, confesso, bem aflito,

Duzentos eu faria imortais!

 Agora, amigo, revelo sem jeito

Voto em você, mas num próximo pleito.

 * * *

Manuel Bandeira dizia que um poema de Racine, composto por 12 versos monossílabos, seria impossível de igualar: Le jour n´est pas plus pur que le fond de mon coeur (O dia não é mais puro que o fundo do meu coração). Secchin conseguiu essa proeza memorável, e talvez até superou, no enorme poema Luz

 - Ao ver

o não

que sai

da dor

o som

da voz

já vai

no sim

no tom

do céu

não vi

mais luz

do que

no sol

que há

em mim.

 * * *

ARIANO SUASSUNA, da ABL. Em uma de suas aulas-espetáculo disse, de nosso país,

Alemanha bebe cerveja

Já Brasil bebe Pitú

Alemanha toma na taça

O Brasil toma na rima.

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE, poeta. Tinha barco a vela que batizei com verso de seu Poema de sete faces (aquele do "Mundo mundo, vasto mundo), que era "Mais vasto é o meu coração". Mandei foto e ele respondeu

 Meu verso num barco haverá maior prêmio para um poeta?

 DOMÍCIO PROENÇA, escritor. Marcos Vilaça (presidente da ABL) recebeu convite para falar, em São Paulo, sobre a literatura brasileira. Sem tempo para escrever, explicou ao amigo que estava numa enrascada. Sem dizer nada ele, dia seguinte, lhe entregou o discurso já pronto. Depois, Vilaça disse como foi

Seu Domício, você foi aplaudidíssimo.

EDUARDO GALEANO, escritor. Em seu livro Os filhos dos dias, escreveu:

Dezembro, 11.

No final de 2010, o escritor José Paulo Cavalcanti concluiu sua Pesquisa de muitos anos sobre alguém que sonhou ser tantos. Cavalcanti descobriu que Pessoa não abrigava cinco, nem seis: levava cento e vinte e sete hóspedes em que corpo magro, cada um com seu nome, seu estilo e sua história, sua data de nascimento e seu horóscopo. Seus cento e vinte e sete habitantes haviam assinado poemas, artigos, cartas, ensaios, livros... Alguns deles tinham publicado críticas ofídicas contra ele, mas Pessoa nunca havia expulsado nenhum, embora deva ter sido difícil, suponho, alimentar uma família tão numerosa.

EMÍLIO DE MENEZES, poeta, da ABL. Morreu amigo dos dois conhecido como Enxada. E Emílio informou a Machado de Assis, então presidente da ABL,

 - MACHADO, ENXADA FOI-SE.

 FERNANDO SABINO, romancista. Informado pelo filho de que Otto, Paulo Mendes Campos e Hélio Pelegrino estavam na Europa, seu Domingos (pai de Oto) não se conteve

E é tempo de jaboticaba, por lá?

* * *

Chega um jovem escritor com seu primeiro livro, de 800 páginas, e pede

Por favor, mestre, dê sua opinião sobre minha obra.

Perdão, mas não tenho tempo.

Então escreva o prefácio.

Se não vou ler, como posso fazer isso?

Pelo menos dê o título.

Sabino achou que era demais e respondeu à altura

Tem tigres?

Como?

No seu livro tem aqueles animais da África?

Não.

E tubas?, como nas bandas do interior.

Também não.

Então esse título poderia ser Nem tigres, nem tubas.

E o senhor vá para a puta que o pariu.

Vou, com prazer, desde que não tenha que ler a merda do seu livro.

FRANCISCO SEIXAS DA COSTA, Escritor e embaixador de Portugal na ONU, no Brasil e outros países. Anos 70, estava em sua sala no Ministério dos Negócios Estrangeiros de Lisboa e toca o telefone

Pode fornecer o telefone da casa do embaixador (e deu o nome)?

Não prefere ligar para a central?

Sou filho do embaixador. Ou me quer dar o número ou não quer.

Como esse pai era seu amigo (preferiu não dizer o nome), perdoou a grosseria. Procurou e informou, ao jovem que ligava. Sem agradecimentos, por isso. Dia seguinte, um colega

Já sabes do filho do embaixador "fulano"? Suicidou-se ontem.

Conferiu a hora, foi pouco depois do telefonema que recebeu.

Continua na próxima página

 

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