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Rosângela, ou simplesmente Janja

Não existe função oficial para a primeira-dama no Brasil. Mas, se houvesse, certamente seria proibido falar besteira e dar vexame.

Por IVANILDO SAMPAIO Publicado em 18/05/2025 às 10:57

Juro com a mão sobre a Bíblia que nada tenho ou jamais tive qualquer coisa contra a senhora Rosangela da Silva, a “Janja”, terceira esposa do presidente Lula da Silva, ela que chegou ao Palácio da Alvorada prometendo “ressignificar” as atividades de uma Primeira-dama. Talvez fosse mesmo preciso dar uma sacudidela nas atividades da primeira-dama, já que, com Michelle Bolsonaro, sua antecessora, ficaram quase que restritas à pregações religiosas, num país onde, apesar da proliferação de novos templos evangélicos, com seus Silas Malafaias e suas Damares Alves, a maioria dos cidadãos brasileiros ainda segue a Igreja Catolica Apostólica Romana, que por sinal tem um novo e simpático Papa.

Mas, essa “ressignificação”” precisa ter bom senso, medida e civilidade. Segundo a Imprensa divulgou, a primeira dama causou novo vexame, desta vez na visita do Presidente Lula à China. Janja da Silva teria feito comentários inapropriados e deselegantes sobre uma rede social dos anfitriões e o pessoal não gostou. É claro que Lula saiu em defesa de sua mulher e condenou a Imprensa – que como sempre é o bode expiatório de todos os pecados, cometidos pela “esquerda” ou pela “direita”.

Na verdade, não existe nada escrito, nenhum legislação oficial, nenhuma tarefa pré-determinada dizendo o que pode e o que não pode, o que é e o que não é obrigação da mulher do Presidente da República, seja a ele quem for, de direita, como Bolsonaro; ou de esquerda, como se dizia de Joao Goulart . Mas, se houvesse, certamente seria proibido falar besteira e dar vexame.

Ao que parece, foi dona Dona Darcy Vargas, mulher de Getúlio, quem primeiro procurou alguma ocupação fora do Palácio do Catete, onde morava com a família, em plena ociosidade. E num momento de inspiração, criou e ajudou a manter a “Casa do Pequeno Jornaleiro”, numa época em que o Rio de Janeiro era capital da República e os jornais impressos circulavam aos milhares, em várias edições diárias, todos eles vendidos nas ruas,por menores de pouco poder aquisitivo, que com sua atividade ajudavam o sustendo da família. A “Casa do Pequeno Jornaleiro” acolhia e amparava esses jovens, cuidando, inclusive, de sua alfabetização.

Já Dona Santinha, a que veio depois,mulher do presidente Eurico Dutra, católica praticante e radical, que se confessava e comungava diariamente, notabilizou-se por ter convencido o marido a acabar com o jogo legal no Brasil, fechando cassinos,grandes, médios e pequenos, deixando milhares de pessoas desempregadas nos primeiros dias após a posse do marido. De dona Sara Kubitscheck e Maria Tereza Goulart, esposas respectivamente de Juscelino e Jango, pouco se fala e menos se sabe, a não ser que Maria Tereza era considerada uma das “primeiras damas” mais bonitas do mundo, bem mais do que Jackeline Kennedy, que espalhava beleza e simpatia pelos quatro cantos do planeta. E uma curiosidade: o secretário particular de Dona Maria Tereza era pernambucano.

E assim foi: as esposas dos generais-presidentes não tinham a simpatia de grande parte dos brasileiros, eram retraídas por formação, muito mais por culpa do regime do que delas mesmo. De Dona Marly Sarney, pouco se falou, modesta, discreta – parecia gostar mais da paz de São Luis do Maranhão do que da efervescência de Brasilia. Mas, da alagoana Rosane Malta, então mulher de Fernando Collor, se falou - e muito. Desde acusações de ter realizado reuniões de candomblé na “casa da Dinda”, em defesa do mandato do marido, até algumas irregularidades na LBA, nunca comprovadas. Intrigas da oposição, talvez.

Pois bem, a atual primeira-dama, Janja da Silva, já é considerada por alguns como sendo uma “nova Eva Peron”, a primeira-dama argentina, esposa do ditador Juan Domingo Peron, idolatrada pelo operariado e endeusada após a morte, mandava no País muito mais do que o marido, num país tradicionalmente  “machista”. Ao que consta, Janja da Silva já “ressignificou” algumas coisas, embora não se saiba se para o bem ou para o mal. Primeiro, porque tem hoje muito mais visibilidade do que qualquer uma das suas antecessoras; depois, pelo fato de ter sido, desde cedo, uma filiada e ativista política do PT; depois, por ter tido um “namoro” meio que clandestino com o presidente Lula, quando ele, presidiário, vítima de Sérgio Moro, viúvo, solitário e maldosamente proibido pela Justiça de comparecer ao sepultamento do neto, cumpria pena num presídio de Curitiba.

Portanto, Janja deve conhecer bem o que pensa e o que não pensa o presidente Luis Inácio Lula da Silva, seu marido na forma da lei. Alguns exemplos:  a primeira-dama costuma estar presente em reuniões de Lula com seus ministros e dar opiniões mesmo quando não pedem; sugeriu o nome de algumas mulheres para ocupar ministérios e funções no primeiro escalão do Governo, prontamente acatados pelo Presidente;  embora não tenha qualquer cargo oficial, tem sala e secretária no Palácio da Alvorada; influencia o presidente tanto na escolha quanto na demissão de auxiliares, inclusive do primeiro escalão; esteve e vai estar presente em quase todas as viagens internacionais de Lula, inclusive esta última pela China, Vietnam e adjacências, é titular de um “cartão corporativo”, aparentemente sem limite de gastos.

E a cidadã? No seu currículo, consta que Rosângela Lula da Silva é paranaense, nascida em União da Vitória, em 1966. Os pais são falecidos. Foi casada com o também paranaense Marco Aurélio Monteiro e esse casamento durou apenas um ano. Não tiveram filhos. Formou-se em sociologia pela Universidade Federal do Paraná, depois de ter largado o curso pela metade e depois retomado. Tem apenas um irmão, que é publicitário, mas não trabalha com Sidônio Palmeira, marqueteiro do marido.

Mas, se a popularidade do presidente Lula continuar ladeira abaixo, quem sabe se uma visão de um marqueteiro paranaense não ajudaria a resolver o problema? Consta que apesar dos muitos problemas que enfrenta, do escândalo no INSS, da inflação sem controle, da idade avançada e da saúde meio comprometida, o presidente Lula não abre mão de disputar um novo mandato. E para tanto conta com o inarredável apoio da primeira dama , Rosângela Lula da Silva, cujo nome de solteira ninguém lembra mais.

 

Ivanildo Sampaio, jornalista

 

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