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De Bento a Francisco: Qual legado guiará a escolha do novo papa no Conclave?

O nome, a nacionalidade e a ideologia do novo papa são perguntas a serem respondidas até quando da fumaça branca e diante do "habemus papam"

Por ROBERTO PEREIRA Publicado em 04/05/2025 às 10:50

Começa no dia 7 de maio o terceiro conclave deste milênio. No mundo, em particular entre os católicos, é grande a expectativa sobre o novo chefe da Igreja Católica. O nome, a nacionalidade e a ideologia são perguntas a serem respondidas até quando da fumaça branca e diante do “habemus papam”.

Estamos, mesmo entre os indiferentes, expectantes e, neste universo, advém os nomes e as probabilidades sobre o quem é quem nas votações que costumam se suceder nos sufrágios entre os cardeais votantes.

Durante os dias de eleição, cardeais do mundo todo ficam confinados dentro do Vaticano, em uma área conhecida como “zona de conclave", gerando, a partir daí, uma ritualística que provoca um frisson nervoso entre os fiéis que torcem e rezam pela melhor escolha.

A regra vigente à consecução da eleição papal, promulgada em 1996, diz que, no primeiro dia de conclave, que se inicia com a missa Pro Eligendo Pontifice e continua com a entrada dos cardeais e o juramento na Capela Sistina, os cardeais têm a opção (não a obrigação) de já realizar uma única votação – isto foi feito, tanto em 2005 , quanto em 2013.

A partir do segundo dia de conclave, ocorrem no máximo quatro votações, duas pela manhã e duas à tarde. A fumaça negra, indicando que o papa ainda não foi eleito, aparece apenas ao final de cada série de dois escrutínios. Já a fumaça branca, que indica a eleição do novo pontífice, aparece imediatamente após o escrutínio em que o eleito consegue os votos necessários.

Também pelas regras atuais do conclave, após três dias de votação, se não houver um papa eleito, há um dia de pausa dedicado à oração, às discussões entre os eleitores e a uma pregação feita por um dos cardeais. A partir daí, a cada série de sete escrutínios sem resultado definitivo, há um novo dia de pausa e assim por diante.

Após 34 votações, o conclave passa a funcionar como um “segundo turno”, em que apenas os dois candidatos mais votados no escrutínio anterior podem ser votados, perdendo o direito de votar – mesmo assim, para haver um vencedor, ainda é necessário que ele tenha dois terços dos votos. No entanto, nenhum conclave no passado recente chegou perto deste nível.

Joseph Ratzinger e Jorge Mario Bergoglio foram eleitos já no segundo dia de votação, no quarto e no quinto escrutínios, respectivamente. Os outros dois conclaves do século passado, que terminaram em apenas dois dias, foram os de agosto de 1978, em que Albino Luciani se tornou João Paulo I (quatro votações); e o de 1939, em que três escrutínios bastaram para que Eugenio Pacelli fosse eleito, assumindo o nome de Pio XII.

No século 20, outros dois conclaves duraram três dias: o de outubro de 1978, em que Karol Wojtya foi eleito em oito votações, tornando-se João Paulo II; e o de 1963, quando Giovanni Montini foi eleito em seis escrutínios, escolhendo o nome de Paulo VI.

O filme Conclave

O filme "Conclave", polêmico e assunto para um outro artigo, transmite a mensagem de que a Igreja Católica, apesar de seu caráter espiritual, é também um espaço de disputa política e de interesses pessoais, onde a fé pode ser comprometida pela ambição e pelo desejo de poder. A narrativa, entre verdades e criações, explora as intrigas e tensões entre cardeais, revelando a complexidade do processo de eleição papal e questionando a autenticidade da fé em meio a essas disputas.

Destaco, entre os dois últimos papas, Bento XVI e Francisco, os seguintes pendores:

Papa Bento XVI

O Papa Bento XVI, grande teólogo, foi, aos poucos, escrevendo a crônica da renúncia do seu papado. Foi dando, aqui e ali, sinais de cansaço físico, mesmo que espiritualmente lúcido e vivificado na inabalável fé cristã.

Cumpriu, nas despedidas, todo o ritual de quem deixava a missão e se recolhia aos aposentos.
Na proclamação do Ano da Fé, o Papa Bento XVI publicou a Carta Apostólica Porta Fidei, em 11-10-2011, escrevendo que o centro da atenção eclesial deve gravitar no encontro com Jesus Cristo e na beleza da fé.

Acrescentou Bento XVI: “Só acreditando é que a fé cresce e se revigora, não há outra possibilidade de adquirir certeza sobre a própria vida, senão abandonar-se progressivamente nas mãos de um amor que se experimenta cada vez maior, porque tem a sua origem em Deus.”

No Brasil, em São Paulo, no estádio Pacaembu, ele se encontrou com milhares de jovens, quando aproveitou para professar: “O ‘amanhã’ depende muito de como estais vivendo o ‘hoje’ da juventude. Diante dos olhos, meus queridos jovens, tendes uma vida que desejamos seja longa; mas é uma só, é única: não a deixeis passar em vão, não a desperdiceis. Vivei com entusiasmo, com alegria, mas, sobretudo, com senso de responsabilidade.”

Papa Francisco

Desfez preconceitos, intuiu o respeito e a obediência aos preceitos religiosos, defendeu os jovens, esperança e futuro, colocando no mesmo nível os idosos, estes unindo experiência e sabedoria. A mídia nos fez andar, ao lado do Sumo Pontífice, os caminhos da fé.

Reviveu o educador que soube ser quando sacerdote/cardeal o Jorge Mario Bergoglio, que, didático, esteve sempre a convocar a Igreja para ir às ruas, deixando claro ser este o rumo e o prumo das suas ações, objetivando a proximidade do catolicismo com as comunidades, com as periferias, numa necessária e admirável inclusão apostólica.

Dá a dimensão humana e espiritual de que continuaria – e continuou - a conduzir os seus discípulos, por ele permanentemente chamados à evangelização.

Exaltou e exortou a coragem para que os jovens levem a palavra de Deus a todos os cantos, à estratificação social.

O Papa Francisco trouxe no sorriso a sua alegria que a todos contagiou. Fez do contentamento o seu estado de espírito, o vigor da sua crença e da sua fé.

Chegou a associar o sorriso a uma ternura de Deus, a um sinal de fraternidade e a um bom humor, que reflete uma alma feliz e distante do tédio e da tristeza.

“Pedimos ao Senhor a capacidade de sorrir. O senso de humor é um certificado de santidade,” bela exaltação do nosso saudoso Papa da humildade.

Uma profissão de fé

O homem, quanto mais humano, mais humilde. Assim, o Papa, muito humano, admiravelmente cristão. Pedimos-Lhe, Deus, um Papa continuadamente bom, que, pregando a solidariedade, peça sempre oração para todos nós.

Seja esta a lição, bela lição, a da oração!

Rezemos, pessoas de todos os cantos e recantos deste mundo, pelo novo Papa e pela Igreja, pela fé e pela humanidade, pela família e pela paz mundial.

*Roberto Pereira, ex-secretário de Educação e Cultura de Pernambuco e membro da Academia Brasileira de Eventos e Turismo (Abevt).

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