Opinião | Notícia

Artigo: 'Decisões equivocadas do governo do Estado surpreendem a Academia Pernambucana de Ciências (APC)'

A comunidade acadêmica recebeu com surpresa a notícia de que o primeiro lugar da lista tríplice não foi indicado ao cargo, uma quebra de tradição

Por Helinando Pequeno de Oliveira, José Antônio Aleixo da Silva, Anderson Stevens L Gomes Publicado em 04/05/2025 às 10:28 | Atualizado em 05/05/2025 às 11:02

Tradicionalmente, ao longo dos últimos anos, o governo de Pernambuco tem demonstrado respeito pela opinião da comunidade acadêmica. Essa prática se manifesta na indicação para a Diretoria Científica da Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia de Pernambuco (FACEPE).

A FACEPE, órgão crucial para o apoio à pesquisa científica no estado, tem historicamente seguido a indicação do(a) candidato(a) primeiro(a) colocado(a) na lista tríplice. Essa lista é construída através do voto direto dos pares, em um processo democrático que valoriza a decisão da comunidade acadêmica.

Desde a fundação da FACEPE em 1989, a consulta à comunidade científica para a função técnico-científica de Diretor Científico tem sido uma práxis constante, com o resultado sempre ratificado pelos governos estaduais.

Em contraste, a presidência da Fundação é uma prerrogativa exclusiva do Governador do Estado, sobre a qual a comunidade acadêmica não se manifesta.

A Consulta de 2025 e a Inesperada Decisão

A consulta realizada em 2025 indicou o Prof. Walter Correia, da UFPE, como primeiro colocado, com 313 votos. A Professora Flávia Frédou, da UFRPE, obteve 289 votos, e o Prof. Severino Júnior, da UFPE, recebeu 286 votos.

No entanto, a comunidade acadêmica recebeu com surpresa a notícia de que o primeiro lugar da lista tríplice não foi indicado ao cargo. Esse fato representa uma quebra de tradição, ocorrendo inexplicavelmente pela primeira vez nas consultas realizadas pela FACEPE.

A Academia Pernambucana de Ciência (APC) esclarece que não possui objeções à candidata indicada, reconhecendo seu alto nível científico e comprovada capacidade de gestão.

A questão central reside no respeito às normas democráticas que sempre guiaram as consultas da FACEPE. Mesmo diante de uma escolha governamental considerada irreversível, a APC, em defesa da Educação, Ciência e Tecnologia de Pernambuco, manifesta sua discordância com decisões que ferem os preceitos democráticos de uma consulta realizada.

A APC alerta para o precedente perigoso que essa decisão estabelece, podendo tornar irrelevantes as futuras consultas realizadas pela FACEPE. Fortalecer o vínculo entre a comunidade científica e a FACEPE, valorizando a opinião dos pares e exemplificando o exercício pleno da democracia, é fundamental.

A Escolha da Direção do IPA e a Desconsideração Técnica

Outra questão que causa estranheza à APC é a escolha da Direção do Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA). Ao longo de seus 90 anos de história, o governo do Estado sempre nomeou técnicos da instituição para a presidência, profissionais com profundo conhecimento do setor agrícola estadual. Essa prática foi mantida inclusive durante o regime militar.

Entretanto, no segundo governo Jarbas Vasconcelos, essa norma foi rompida com a nomeação de pessoas ligadas a partidos políticos da base governamental, sem o conhecimento técnico adequado para a função.

Durante o governo de Eduardo Campos, o IPA voltou a ser dirigido por técnicos da instituição. Contudo, posteriormente, a presidência do IPA retornou a políticos, geralmente derrotados em eleições.

Como consequência, observa-se uma perda de qualidade em diversas ações do Instituto, incluindo a maioria das Estações Experimentais, que operam no nível mais deficiente dos últimos anos devido à falta de pessoal de campo, equipamentos e recursos para pesquisa e manutenção.

Recentemente, a presidência do IPA foi novamente entregue a um partido político associado ao governo, desconsiderando mais uma vez o quadro técnico do IPA, composto por pesquisadores e técnicos com profundo conhecimento do setor agrícola do estado.

O Posicionamento da APC em Defesa da Ciência e da Técnica

Diante dessas duas decisões da atual gestão do Governo do Estado, a APC manifesta seu questionamento e discordância. Os princípios democráticos da consulta à comunidade científica, no caso da Diretoria Científica da FACEPE, e a competência profissional para cargos de função eminentemente técnicas, no caso do IPA, devem ser respeitados independentemente de posicionamentos políticos.

Educação, Ciência e Tecnologia transcendem acordos políticos e deveriam ser tratadas como Políticas de Estado.

  • Anderson Stevens L Gomes é Professor Titular da UFPE e presidente da APC;
  • Helinando Pequeno de Oliveira é Professor Titular UNIVASF, Vice-presidente da APC;
  • José Antônio Aleixo da Silva é Professor Titular UFRPE, ex-presidente da APC.

Compartilhe