Uma amarga certeza
Tive a amarga certeza de que perdi um grande amor. Ela partiu ainda jovem e bela, cumprindo o seu destino, machucando meu coração........
Meu saudoso irmão, Engenheiro Civil Carlos Aloysio, campeão amador pelo Sport Clube do Recife, jogava muito melhor do que eu. Era do Escrete Universitário de Pernambuco e foi disputar o campeonato brasileiro de 1955, em Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul. Em Caxias do Sul, conheceu e apaixonou-se pela gaúcha Myrthes Tomazoni que veio passar o Carnaval em 1956 com sua irmã Martha Clara Tomazoni e sua mãe no Recife.
Quando elas desembarcaram do paquete Itaimbé, da Companhia Nacional de Navegação Costeira no Marco Zero, e eu avistei Martha, loura de olhos azuis, no esplendor dos doze anos, tremi. As irmãs gaúchas brincaram o Carnaval em Olinda e Recife e adoraram. E prologaram a estada por mais trinta dias. Voltaram a Porto Alegre e passei a me corresponder por carta, com Martha. Na despedida, no Aeroporto dos Guararapes a presenteei com uma pulseira de ouro da moda, modelo escrava, comprada na Casa Krause, da 1º de Março.
O tempo passou - segundo Rubem Braga, o tempo sempre passa - e cerca de três anos depois estou no nosso escritório, ela me telefona perguntando "pelas novidades." Com o coração acelerado, digo que vai tudo em paz, tudo bem. E voltamos a nos corresponder toda semana. Um dia, a triste notícia: estava com câncer nas mamas. Em compensação, uma notícia boa: era considerada a melhor cerimonialista de Porto Alegre, promovendo recepções impecáveis para as celebridades do estado e do Brasil.
Submetida a tratamento específico, curou-se do câncer e tocou a vida pra frente. E como nossa correspondência esquentava, sonhava com passeio nosso, na Lagoa dos Patos, de barco, numa noite de luar. Pouco depois, o sonho acabou com a recidiva do câncer. Ficou combinado que se ela melhorasse viria almoçar uma lagosta ao coco no Buraco de Otília, ocasião em que ela declarou: Enquanto eu estiver no Recife, estarei sempre ao seu lado. Você foi uma pessoa muito importante na minha vida.
No dia do seu aniversário telefonei para parabenizá-la. Sua filha atendeu: Arthur, a mãe foi hospitalizada hoje em estado grave. Fiquei com o fone na mão, sem saber o que fazer. Depois pedi desculpas e desliguei para sempre. Tive a amarga certeza de que perdi um grande amor. Ela partiu ainda jovem e bela, cumprindo o seu destino, machucando meu coração. Nossa moqueca de lagosta ao coco, fica para outra vez.
Arthur Carvalho, da Associação Brasileira de Imprensa , ABI