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Universidade pública: entre a crise e a reinvenção necessária!

É imprescindível que nossas universidades assumam o compromisso de transformar o conhecimento produzido em soluções concretas..........

Por MARCELO CARNEIRO LEÃO Publicado em 29/04/2025 às 0:00 | Atualizado em 29/04/2025 às 10:15

Dias atrás, dirigentes das universidades federais sediadas no Estado de Pernambuco realizaram uma entrevista coletiva para tratar das dificuldades orçamentárias enfrentadas. Uma pauta legítima, necessária e que merece nossa atenção e total apoio. Sei bem o que sentem. Estive como reitor da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) entre 2020 e 2024, e enfrentamos nos anos de 2020, 2021 e 2022, os menores orçamentos da história da universidade — valores inferiores, inclusive, aos atuais — agravados pela ausência de diálogo e pelos constantes ataques às Instituições Federais de Ensino Superior (IFES) por parte do governo à época. O esforço para manter o adequado funcionamento da UFRPE naquele período foi imenso e só se concretizou graças à competência de nossa equipe de gestão, ao apoio da comunidade e à incessante e incansável busca por recursos orçamentários extras.

Entretanto, para além desse resgate histórico — necessário para que não permitamos retrocessos, e para evitar o uso oportunista da atual situação por determinados setores — creio ser urgente e indispensável refletirmos sobre o futuro das IFES no Brasil. É preciso repensar o modelo de universidade pública que temos. A elevada evasão acadêmica, a inaptidão funcional de alguns profissionais formados, o descolamento da formação técnica com a necessária formação cidadã, e o número significativo de egressos atuando em áreas distintas de sua formação, denunciam a necessidade de uma restruturação das nossas instituições. Muitos cursos foram concebidos em contextos distantes, e hoje carecem de aderência às demandas contemporâneas. Persistimos com estruturas e formatos que desconsideram as tecnologias digitais, as metodologias ativas de ensino e as possibilidades educacionais híbridas. Além disso, enfrentamos uma temporalidade acadêmica incompatível com a velocidade das transformações e com a efemeridade de determinados conhecimentos na atualidade. Vivemos a era da aprendizagem ao longo da vida, em que saberes se renovam de forma rápida e contínua. Precisamos, portanto, de formações mais ágeis, atualizadas, integradas com as demandas da sociedade e comprometidas com a cidadania e o mundo contemporâneo.

Defendo, ainda, uma educação universitária articulada com os níveis básico e técnico. Nenhum desses segmentos será capaz de cumprir integralmente sua missão se os investimentos não forem realizados de maneira ampla e integrados com todos eles. Para mim, é inegociável o financiamento público das IFES, como garantia de um ensino superior de qualidade, inclusivo e socialmente comprometido. Contudo, reconheço a importância de incorporarmos, sob adequado acompanhamento institucional e social, recursos provenientes da iniciativa privada e do terceiro setor. Reafirmo, porém, minha posição contrária à cobrança de mensalidades nas universidades públicas. Se quisermos, de fato, promover justiça social no acesso ao ensino superior, devemos avançar em uma profunda reforma tributária, para que os mais ricos contribuam proporcionalmente mais para o financiamento da educação pública no Brasil.

Por fim, é imprescindível que nossas universidades, para além da formação de profissionais, assumam o compromisso de transformar o conhecimento produzido na academia em soluções concretas para o desenvolvimento social, econômico e ambiental do país. Que nossas pesquisas — muitas vezes restritas às publicações acadêmicas e, em alguns casos, convertidas em patentes — se desdobrem em processos, serviços e produtos que efetivamente melhorem a qualidade de vida das pessoas, dos demais seres vivos e do ambiente em que vivemos.

Marcelo Carneiro Leão, diretor do CETENE, membro da Academia Pernambucana de Ciências e presidente da LIDE Educação

 

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