A influência da era digital na escrita dos jovens
A popularização das redes sociais introduziu uma linguagem abreviada e informal, que prejudica a transição para os registros formais

A revolução digital trouxe mudanças profundas na forma como a sociedade se comunica, especialmente entre os jovens. O acesso ilimitado à internet, o excesso de estímulos das redes sociais e o desinteresse crescente pela leitura têm gerado impactos negativos sobre a escrita formal.
Esse fenômeno, intensificado pela pandemia de COVID-19, que distanciou as relações interpessoais, tem levantado preocupações sobre o preparo acadêmico e profissional das novas gerações.
Um dos principais fatores que contribuem para essa transformação é o ambiente digital, que oferece um fluxo contínuo de informações fragmentadas. Essa sobrecarga dificulta a concentração necessária para atividades que exigem profundidade, como a leitura e a escrita reflexiva.
Michel Desmurget, pesquisador francês especialista em neurociência cognitiva e autor de A Fábrica de Cretinos Digitais, alerta que “o uso excessivo desses dispositivos reduz significativamente o desempenho escolar, especialmente em áreas que demandam leitura e escrita aprofundadas.”
Essa realidade reflete o desafio de cultivar habilidades que dependem de foco e paciência em um contexto de estímulos constantes e superficiais.
Além disso, a popularização das redes sociais introduziu uma linguagem abreviada e informal que, embora funcional em determinados contextos, prejudica a transição para registros formais.
O exemplo do WhatsApp na escrita
Aplicativos como WhatsApp são exemplos claros de como os jovens estão mais habituados a escrever com simplificações e ausência de pontuação.
Essa prática, segundo Carrie James, em Desconectados, “cria um abismo entre as habilidades exigidas na comunicação cotidiana e aquelas necessárias em ambientes acadêmicos e profissionais.”
Impacto da redução do hábito de leitura
Outro aspecto preocupante é a redução do hábito de leitura, substituído pelo consumo de conteúdos rápidos e visuais.
A leitura é fundamental para o desenvolvimento de um vocabulário rico, para a assimilação das normas da língua e para formar cidadãos críticos.
Isso é uma grande preocupação, visto que a perda de competências linguísticas básicas afeta diretamente a empregabilidade e a ascensão social, tornando extremamente necessária a reavaliação de como a educação e a sociedade abordam o equilíbrio entre a tecnologia e o aprendizado tradicional.
Medidas de controle de exposição a telas
Diante desse cenário, famílias e escolas precisam buscar soluções, que passam por medidas de controle do tempo de exposição às telas, além do resgate pelo interesse à leitura e à integraçãode práticas pedagógicas que conectem o mundo digital ao desenvolvimento da escrita formal.
Promover a análise crítica de textos digitais, como tweets ou publicações em redes sociais, e transformá-los em redações ou ensaios argumentativos, pode ser uma forma eficaz de ensinar os jovens a transitar entre diferentes registros linguísticos.
Em suma, a influência da era digital na escrita dos jovens é um desafio que exige atenção e ações efetivas. Não se trata de rejeitar a tecnologia, mas de encontrar formas de utilizá-la como aliada no processo educativo.
Importância do equilíbrio com uso das ferramentas digitais
O equilíbrio entre o uso consciente das ferramentas digitais e o desenvolvimento de habilidades linguísticas sólidas é fundamental para preparar as novas gerações para os desafios de um mundo cada vez mais exigente, porque a escrita é mais do que uma habilidade técnica; é uma ferramenta indispensável para a formação de uma sociedade mais crítica, empática e capaz de se comunicar de forma clara e assertiva.
Quando jovens dominam a escrita, eles não apenas expressam ideias com mais precisão, mas também desenvolvem pensamento estruturado, ampliam sua capacidade de argumentação e fortalecem sua autonomia intelectual.
Num cenário em que a informação circula em alta velocidade, saber ler, interpretar e escrever bem é essencial para fazer escolhas conscientes e participar ativamente da vida em sociedade.
*Gabriela Camarotti é Diretora Pedagógica do Ensino Fundamental I e II da Escola Vila Aprendiz
*Mozart Neves Ramos é titular da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira da USP de Ribeirão Preto e professor emérito da UFPE