Opinião | Artigo

A influência da era digital na escrita dos jovens

A popularização das redes sociais introduziu uma linguagem abreviada e informal, que prejudica a transição para os registros formais

Por MOZART NEVES RAMOS, Gabriela Camarotti Publicado em 27/04/2025 às 12:14

A revolução digital trouxe mudanças profundas na forma como a sociedade se comunica, especialmente entre os jovens. O acesso ilimitado à internet, o excesso de estímulos das redes sociais e o desinteresse crescente pela leitura têm gerado impactos negativos sobre a escrita formal.

Esse fenômeno, intensificado pela pandemia de COVID-19, que distanciou as relações interpessoais, tem levantado preocupações sobre o preparo acadêmico e profissional das novas gerações.

Um dos principais fatores que contribuem para essa transformação é o ambiente digital, que oferece um fluxo contínuo de informações fragmentadas. Essa sobrecarga dificulta a concentração necessária para atividades que exigem profundidade, como a leitura e a escrita reflexiva.

Michel Desmurget, pesquisador francês especialista em neurociência cognitiva e autor de A Fábrica de Cretinos Digitais, alerta que “o uso excessivo desses dispositivos reduz significativamente o desempenho escolar, especialmente em áreas que demandam leitura e escrita aprofundadas.”

Essa realidade reflete o desafio de cultivar habilidades que dependem de foco e paciência em um contexto de estímulos constantes e superficiais.

Além disso, a popularização das redes sociais introduziu uma linguagem abreviada e informal que, embora funcional em determinados contextos, prejudica a transição para registros formais.

O exemplo do WhatsApp na escrita

Aplicativos como WhatsApp são exemplos claros de como os jovens estão mais habituados a escrever com simplificações e ausência de pontuação.

Essa prática, segundo Carrie James, em Desconectados, “cria um abismo entre as habilidades exigidas na comunicação cotidiana e aquelas necessárias em ambientes acadêmicos e profissionais.”

Impacto da redução do hábito de leitura

Outro aspecto preocupante é a redução do hábito de leitura, substituído pelo consumo de conteúdos rápidos e visuais.

A leitura é fundamental para o desenvolvimento de um vocabulário rico, para a assimilação das normas da língua e para formar cidadãos críticos.

Isso é uma grande preocupação, visto que a perda de competências linguísticas básicas afeta diretamente a empregabilidade e a ascensão social, tornando extremamente necessária a reavaliação de como a educação e a sociedade abordam o equilíbrio entre a tecnologia e o aprendizado tradicional.

Medidas de controle de exposição a telas

Diante desse cenário, famílias e escolas precisam buscar soluções, que passam por medidas de controle do tempo de exposição às telas, além do resgate pelo interesse à leitura e à integraçãode práticas pedagógicas que conectem o mundo digital ao desenvolvimento da escrita formal.

Promover a análise crítica de textos digitais, como tweets ou publicações em redes sociais, e transformá-los em redações ou ensaios argumentativos, pode ser uma forma eficaz de ensinar os jovens a transitar entre diferentes registros linguísticos.

Em suma, a influência da era digital na escrita dos jovens é um desafio que exige atenção e ações efetivas. Não se trata de rejeitar a tecnologia, mas de encontrar formas de utilizá-la como aliada no processo educativo.

Importância do equilíbrio com uso das ferramentas digitais

O equilíbrio entre o uso consciente das ferramentas digitais e o desenvolvimento de habilidades linguísticas sólidas é fundamental para preparar as novas gerações para os desafios de um mundo cada vez mais exigente, porque a escrita é mais do que uma habilidade técnica; é uma ferramenta indispensável para a formação de uma sociedade mais crítica, empática e capaz de se comunicar de forma clara e assertiva.

Quando jovens dominam a escrita, eles não apenas expressam ideias com mais precisão, mas também desenvolvem pensamento estruturado, ampliam sua capacidade de argumentação e fortalecem sua autonomia intelectual.

Num cenário em que a informação circula em alta velocidade, saber ler, interpretar e escrever bem é essencial para fazer escolhas conscientes e participar ativamente da vida em sociedade.

*Gabriela Camarotti é Diretora Pedagógica do Ensino Fundamental I e II da Escola Vila Aprendiz

*Mozart Neves Ramos é titular da Cátedra Sérgio Henrique Ferreira da USP de Ribeirão Preto e professor emérito da UFPE

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