Opinião | Notícia

90 anos do Grupo JCPM: Uma história Sergipana que conquistou o Nordeste e mira o Centenário

Uma saga familiar que se expandiu pelo Nordeste, marcando nove décadas de um grupo empresarial com raízes profundas e visão de futuro

Por Ivanildo Sampaio Publicado em 27/04/2025 às 18:52

Foi em junho de 2009 que estive, pela última vez, na bela e acolhedora cidade de Aracaju, capital de Sergipe, com uma tarefa que havia imposto a mim mesmo: conhecer e conversar com alguns políticos e empresários veteranos, de preferência todos eles com mais de 70 anos.

Como não conhecia ninguém, nem mesmo da nova geração, comecei procurando as instituições de classe, como Associação Comercial, Clube de Diretores Lojistas, Federação do Comercio ou semelhantes, tais como havia em Pernambuco. Entendia que este era o melhor caminho. Os diretores dessas instituições são sempre cordatos, guardam boas recordações, carregam com eles uma memória viva da história de cada uma delas.

E uma dessas agremiações me surpreendeu: estavam ali, na sua sede, alocados pelas paredes, fotos de antigos dirigentes ao longo da história, muitos já falecidos, havia décadas, todos com sobrenomes que nada tinham de sergipanos, sequer de brasileiros: remetiam a famílias sírias, libanesas, egipcias ou semelhantes – certamente todos oriundos daquela parte do Oriente, tão distante de Aracaju.

E por aí comecei a ver aquilo que eles próprios já sabiam: muito antes da descoberta do Brasil, sírios e libaneses já eram conhecidos como grandes comerciantes, pela sabedoria, pela arte de comprar e vender, pela vocação de negociar.

A minha tarefa em Aracaju era levantar um pouco da história do sergipano Pedro Paes Mendonça, um grande comerciante, que em 2009, vivo fosse, estaria completando 100 anos. Um enfarte traiçoeiro o levou antes disso – mas sua história e seu legado foram perpetuados, assim como as fotos antigas colocadas nas sedes das instituições de classe, que desafiam o tempo, na paz tranquila de Aracaju.

Pedro Paes Mendonça era “sergipano legítimo”, não tinha qualquer parentesco com sírios ou libaneses, mas sabia como poucos negociar, sabia comprar e vender, sabia como conduzir uma “conversa de pé de ouvido” – talento que Deus lhe deu e do qual sempre fez bom uso.

Exemplo disso não foi apenas o êxito alcançado no mundo dos negócios, mas também os cargos que ocupou na política, tanto no legislativo quanto no executivo, pois além de deputado foi prefeito do município de Moita Bonita, próximo de Itabaiana, que, como deputado, ele ajudou a emancipar.

Depois de algumas entrevistas em Aracaju, fui para o vilarejo de Serra do Machado, distrito de Ribeirópolis, distante mais de 100 quilômetros da capital, mas apenas alguns quilômetros da Gruta de Anjicos, o local onde Lampião e seu Bando foram emboscados e mortos.

Foi lá que Pedro Paes Mendonça nasceu, filho de Eliziário Paes e Maria da Conceição Mendonça, um casal de agricultores pobres que vivia do cultivo da terra. Pedro casou-se aos 18 anos com Maria Dudu e o casal teve nove filhos, sendo quatro homens e cinco mulheres. Lá também nasceram 08 dos seus 09 filhos.

Aos 26 anos de idade, ele abriu uma pequena mercearia, cuja clientela maior eram vaqueiros e almocreves, condutores de rebanhos que reinventavam a caatinga; eram viajantes perdidos que se abasteciam de alguns produtos em sua mercearia.

Foi nessa mercearia – tombada e preservada como um marco histórico - que João Carlos, o filho varão mais velho, ainda de calças curtas, aprendeu as primeiras lições de comprar e vender. Foi ali, naquela pequena “bodega”, que começou uma história de 90 anos, a ser oficialmente comemorada no dia 12 de maio próximo, com justo e justificado orgulho.

Foi João Carlos quem convenceu o pai a olhar mais longe, a ir para além de Sergipe, a explorar alguma coisa em Pernambuco. Foi João Carlos quem cuidou da expansão dos negócios, enquanto o pai se dedicava à política em Sergipe.

Estavam nascendo, em Pernambuco, os Supermercados Bompreco, que expandiram pelo Nordeste, com a ativa participação dos três irmãos, que também trocaram Aracaju pelo Recife, e ajudaram a construir nos anos 70/80 do século passado a terceira maior rede varejista do País.

Ao negociar o controle acionário da Rede de Supermercados, o empresário, já consagrado, João Carlos Paes Mendonça, que se tornara Cidadão de Pernambuco e do Recife, não deixou de investir, nem de ampliar obras sociais, não só em Sergipe, mas onde o Grupo estivesse presente.

Construiu alguns dos mais modernos shoppings centers do país, efetivou sua participação em outros, que reformou e ampliou, entrou para o mercado da construção civil, das comunicações, patrocinou projetos inovadores. Diversificou investimentos, enquanto cuidava da formação de novos executivos para o Grupo JCPM, legítimos seguidores, no espírito e no sangue, do Patriarca Pedro.

Em memória do pai, João Carlos ampliou obras sociais, algumas delas no chão natal, que servem como exemplo, sob qualquer prisma, da verdadeira fraternidade, produtiva e silenciosa. São escolas premiadas pelo MEC, é um abrigo para idosos como existem poucos, são serviços médicos e odontológicos gratuitos que atendem aos mais necessitados.

E perpetua, sempre, o nome e a imagem do Patriarca, o homem que começou tudo e jamais esquecido, Pedro Paes Mendonça, cujo busto, na entrada da vila, recebe com um sorriso os forasteiros que chegam.

Portanto, não há qualquer dúvida: os 90 anos do Grupo JCPM, que tem João Carlos como presidente mas conta com integrantes da quarta geração como Executivos, serão comemorados no dia 12 de maio, mas serão, também, a abertura do caminho para o esperado marco do primeiro centenário.

*Ivanildo Sampaio, jornalista

Compartilhe