Opinião | Artigo

Além dos números: Por que a aprovação de Lula cai, segundo quem vota nele

Sempre aprendi que o dado tem que ser objetivo para que o argumento científico venha a existir. Todavia, sempre desconfiei desta assertiva

Por ADRIANO OLIVEIRA Publicado em 26/04/2025 às 10:27 | Atualizado em 26/04/2025 às 10:30

Tem-se muito falado sobre dados quantitativos e esquecem, infelizmente, dos dados qualitativos. Não sei a razão que leva a dicotomia entre o objetivo e o subjetivo. Sempre aprendi que o dado tem que ser objetivo para que o argumento científico venha a existir. Todavia, sempre desconfiei desta assertiva. A subjetividade permite que a explicação seja objetiva.

As pesquisas quantitativas têm revelado queda da aprovação do governo Lula. Evidenciado os principais problemas do Brasil. Mostrado quem foi o melhor presidente da República entre Lula e Bolsonaro. Mas elas estão esquecendo de mostrar por inteiro as razões da desaprovação do atual governo. As causas do mal-estar em parte do eleitorado. E quem é o menos pior numa eleição polarizada entre Lula e Bolsonaro.

Por que eleitores de Lula comparam o presente com o passado?

As pesquisas qualitativas da Cenário Inteligência realizadas em várias cidades do Nordeste mostram que o atual governo Lula é comparado com os seus outros governos por parcela do eleitorado. São raros os votantes, com exceção dos eleitores convictos de Bolsonaro, que comparam o presente governo Lula com o governo Bolsonaro. Portanto, o atual governo Lula não é, como teoricamente deveria ser, comparado com o de Bolsonaro.

A comparação entre governo Lula atual versus governos Lula passados não é um dado capturado pelas pesquisas quantitativas. A comparação advém dos sentimentos que os votantes contam sobre o atual governo Lula nas entrevistas em profundidade. Quando o eleitor diz “Lula já foi bom”, “prefiro o que ele fez no passado”, e “já deu o que tinha que dar”, ele está anunciando que no passado o governo Lula foi bom, ao contrário do presente. O “já foi bom” é um indicador objetivo que explica satisfatoriamente as razões da atual popularidade do governo Lula.

As pesquisas quantitativas divulgadas e as qualitativas da Cenário Inteligência revelam que inflação de alimentos e insegurança pública são os dois grandes problemas do Brasil. Todavia, como o eleitor percebe estes problemas, segundo as pesquisas qualitativas? Quanto ao primeiro, a responsabilidade é do governo Lula. É ele que deve resolver! Já o segundo, não. A responsabilidade é compartilhada. Governos municipal, estadual e Federal são atores responsáveis em prover segurança à sociedade. Esta é a percepção do eleitor, independente da sua preferência por candidatos à presidente da República.

Carestia dos alimentos, insegurança pública, mal funcionamento da saúde pública, além de problemas locais, como, por exemplo, ausência de infraestrutura adequada, geram mal-estar no eleitorado segundo as pesquisas qualitativas realizadas. Vejam, portanto, que o mal-estar não advém, principalmente nas médias e grandes cidades, de problemas nacionais, como inflação, mas também de demandas locais, as quais são de responsabilidades dos governos municipal e Estadual.

O que motiva, então, a escolha do eleitor na eleição presidencial? Na conjuntura atual, a clássica tese de que a economia importa segue firme. Deste modo, a inflação, dado objetivo, interfere na popularidade do governo Lula.

Os dados subjetivos, extraídos das falas dos eleitores, e transformados em objetivos, também, quais sejam: No passado o governo Lula já foi bom, mas hoje deixa a desejar. Este sentimento presente em parte dos votantes explica o desempenho do governo Lula nas pesquisas quantitativas.

A Preferência em um Cenário Polarizado

E chego ao fundamental: Quando indagamos ao eleitor na pesquisa qualitativa quem ele prefere, entre Lula e Bolsonaro, a maioria dos entrevistados opta pelo primeiro, pois, segundo eles, “apesar de tudo, é melhor continuar com Lula”.

Ressalto, porém, que são vários os entrevistados que citam nenhum. Ou seja: estão à procura de uma nova opção entre Lula e Bolsonaro. Por fim, alerto: um candidato bolsonarizado herdará a rejeição do ex-presidente da República.

*Adriano Oliveira, Cientista Político. Professor da UFPE. Fundador da Cenário Inteligência: Pesquisa qualitativa & Estratégia

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