Paulo Sérgio: histórias de uma figura especial
Pernambuco perdeu Paulo Sérgio Macedo, um dos seus maiores empresários e uma figura humana especial, dono de uma imensa legião de amigos.

Fui testemunha de algumas histórias interessantes dele, que vou relembrar numa homenagem a um dos melhores amigos que tive, durante mais de 40 anos. Apenas algumas, teria muitas outras.
CAMAROTE: Com um grupo de empresários amigos, Paulo Sérgio Macedo, Severino Mendonça e Assis Farinha criaram o primeiro camarote do carnaval do Recife. Ficava na cobertura do Edifício Trianon, no desfile do Galo da Madrugada, quando ainda desfilava pela Rua da Concórdia. Chamava-se Camarote Antarctica, para fazer frente ao já famoso Camarote da Brahma, no Rio. Na época, as duas cervejas eram concorrentes, antes de se unirem na Ambev. E, claro, a Antarctica adorou e bancou todo o camarote. Mas, com uma condição: apenas cerveja, nada de uísque. Foi um sucesso, reuniu muitos nomes conhecidos.
TURISMO: Atuou no setor do turismo, com a agência Novitur- Nordeste Viagens e Turismo-, que foi comandada por Tom Uchoa e ficava na Rua das Ninfas, depois na sede da Nordeste Segurança de Valores. Tinha muitos clientes e, durante muitos anos, organizou grupos para acompanhar os Grande Prêmio Brasil de Fórmula 1, primeiro no Rio, depois em São Paulo. Ele mesmo comandava as viagens, que chegaram a ter 100 participantes.
ABRAÇO: Numa das corridas, como era presidente da Federação Pernambucana de Automobilismo, conseguiu acesso aos boxes. Foi direto ao de Ayrton Senna, de quem era grande fã. Acabou ganhando um abraço do campeão, que comemorou muito ao chegar ao camarote oficial da CBA, onde estava. Nunca foi piloto, mas organizou várias corridas ao lado de Tom Uchoa, que era o vice-presidente da Federação, na área embaixo do Viaduto Joana Bezerra, que não tinha ainda os prédios atuais. Sempre nas tardes dos sábados, atraindo muita gente.
FERRARI: Era apaixonado por carros de marcas famosas. Dono de uma Ferrari vermelha, teve um problema quando estava estacionado na frente de um restaurante em Boa Viagem. Um jornalista que fazia matéria deixou cair uma peça da iluminação no carro, amassando um pouco. Poucas vezes vi Paulo Sérgio com tanta raiva, ameaçando o jornalista a pagar as despesas, inclusive da ida do carro para São Paulo, para o conserto. Dois dias depois, interferi, e ele tirou o processo que tinha feito. E brincou: "Você é quem vai pagar". E trocou o veículo por um mais novo. Ele costumava ficar pouco tempo com cada carro, trocava sempre.
DESFILE: Quando a Escola de Samba Gigantes do Samba fez um enredo em minha homenagem, entrou com força total. Fomos a vários ensaios na Bomba do Hemetério e até a um réveillon antecipado, regado não a champagne, mas a Cidra. Depois, coordenou o Bloco dos Colunáveis, que levou um grupo de 50 figuras da sociedade à passarela da Dantas Barreto, quando a escola foi campeã. O desfile começou às cinco horas da madrugada e a espera, cheia de mordomias, foi na sede da DaFonte Veículos, pertinho da Praça Sérgio Loreto, cedida pelo seu amigo, o empresário Tonho da Fonte.
JORNALISMO: Teve uma passagem pelo jornalismo. Quando o empresário Eduardo Monteiro arrendou o Diario de Pernambuco, fez parte do Conselho Editorial do jornal e comparecia a todas as reuniões, sempre dando opiniões.
FEIJOADA: Foi, com Assis Farinha, Severino Mendonça e Francisco de Assis Nascimento, um dos principais organizadores da Feijoada da Moda, durante muitos anos, uma das maiores atrações da temporada de carnaval. Acontecia na boate do então Recife Palace (hoje Hotel Gran Mercure), com uma animação enorme, que ia até o início da noite. Como acontecia na sexta-feira de carnaval, acabou sofrendo com o crescimento do desfile do Galo da Madrugada e foi definhando. Duas curiosidades: tinha, na informalidade, uma "exigência": "é proibido levar esposa, noiva, namorada e amante" e a festa acabava dando um bom lucro, que era mandado para instituições filantrópicas da cidade.
ROSSI: Também, junto com Jarbas Vasconcelos e outros amigos, sempre ia às feijoadas de Reginaldo Rossi. E até fomos, junto com Jarbas Vasconcelos, para um show do Rei, em Rio Branco, convidados do então governador de Roraima, o pernambucano Romero Jucá.
GENEROSO: Muitas vezes, quando eu tinha algum amigo com dificuldade financeira, especialmente em casos de saúde, pedia a ajuda dele. Recebia as pessoas e jamais negava um empréstimo: quase nunca pago, nem cobrado por ele. E é enorme a lista dos amigos que ele apoiou na vida.
O SAPATO: Uma vez estava em Zurique, na Suíça, e assisti a uma disputa interessante entre ele e Samuel Oliveira. Eles entraram na loja de Louis Vuitton para comprar um sapato, todos caríssimos. No final, brincando, fui conferir: o de Paulo Sérgio tinha custado US$ 100 a mais. Paulo Sérgio sempre primou pela elegância.
JARBAS: Amicíssimo de Jarbas Vasconcelos, estava sempre presente nas famosas feijoadas do ex-governador, primeiro no Rosarinho, depois no Janga. Sempre chegava com uma garrafa de uísque premium e ficava até o final da tarde. Esteve, inclusive, no famoso almoço que reatou a amizade entre Jarbas Vasconcelos e Eduardo Campos, que eu promovi, depois de ouvir os dois. Adorava política, mas não queria nem ouvir falar de candidaturas. Certa vez, falou-se em ser suplente de senador de Jarbas, que ele logo desestimulou.
OS FILHOS: Era apaixonado pelos cinco filhos. Sempre que sabia que ia viajar para Portugal, telefonava: não deixe de ir ao Cícero, o restaurante que o filho Paulinho tem em Lisboa. Fui a todos os casamentos dos seus filhos, em festas em que ele era, digamos, a presença mais feliz.
NO TIVOLI: Antes de comprar seu apartamento em Lisboa, se hospedava no Hotel Tivoli. Foram tantas vezes que acabou ganhando um mimo: roupas de cama e toalhas com sua marca e da esposa Juliana.
O CARRO: Um episódio curioso quando disse minha dificuldade em cobrir, com meu carro, as muitas festas de carnaval que aconteciam nos clubes, em que chegava a ir a cinco por noite. Ele descobriu uma forma de facilitar meu trabalho: emprestou um carro com a logomarca da Nordeste Segurança de Valores, que tinha acesso fácil. Usei o carnaval todo. O problema é que algumas pessoas vinham pedir emprego na empresa, quando sabiam que eu estava no carro.
MUNICIPAL: Quando Jarbas Vasconcelos foi prefeito e era responsável pelo Baile Municipal, convocou Geralda Farias e Paulo Sérgio para coordenarem a festa. Eram reuniões semanais, na sede da Prefeitura, em que sempre participei, quando eram definidos todos os detalhes das festas, todas marcadas por um enorme sucesso.
RESTAURANTES: Adorava um bom restaurante. No Recife, o preferido era o Leite, onde almoçou na véspera da morte, que compartilhou com os amigos. Inclusive mostrando a garrafa do vinho "Maria Izabel" e mostrando a alegria, que foi sua marca registrada. Em Lisboa, era o Pinóquio, na Avenida da Liberdade. Porém, recordo que ele gostava também de locais simples, como o restaurante de Dona Mira, em Casa Amarela.
João Alberto Martins Sobral. editor da coluna João Alberto no Social 1