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Os curativos coloridos e inteligentes e a tecnologia dos vestíveis

.....O mercado de curativos mostra ser um grande consumidor destas tecnologias para tratamento de feridas crônicas e úlceras........

Por HELINANDO PEQUENO DE OLIVEIRA Publicado em 23/04/2025 às 0:00 | Atualizado em 25/04/2025 às 10:26

O leitor já deve ter visto anúncios de adesivos do tipo patch para uso em crianças na praia, com o intuito de determinar o limite de exposição ao sol. Em geral, são tecidos ou fibras impregnados por corantes fotoativos que mudam de cor na medida em que a exposição à radiação UV se dá de forma prolongada com a indicação visual do adesivo determina o momento de cessar a exposição ao sol. Este é um exemplo comercial de sensor colorimétrico que dispensa o uso de equipamentos de grande porte e de alto custo para indicar a presença de um contaminante ou situação de risco por simples inspeção visual. Os sensores colorimétricos são também fundamentais para mapeamento de zonas remotas com pouca infraestrutura, podendo resolver problemas críticos de avaliação de condições ambientais, como por exemplo: estaria a água do rio livre de metais pesados e pronta para consumo humano?

A nanotecnologia vem avançando ao ponto de fornecer sensores colorimétricos mais sensíveis e com limite de detecção mais baixos. O mercado de curativos mostra ser um grande consumidor destas tecnologias para tratamento de feridas crônicas e úlceras. Para tanto, a combinação de nanopartículas de prata, óxido de zinco e complexos de inclusão à base de ciclodextrinas para liberação de antibióticos passa a ser uma solução bastante necessária para o tratamento de feridas. E não apenas na liberação mas também na indicação das condições do ferimento.

Não é ficção científica imaginar que em breve estejam à venda curativos que mudem de cor quando o nível de contaminação atinja limites críticos, ou mesmo que tenham controle via wi-fi. Para tanto, se faz necessário incorporar o controle elétrico na atividade antibacteriana dos compostos inclusos no curativo. E esta atuação pode ser controlada pelo próprio nível de contaminação do ferimento. A energia para a descarga elétrica sobre o curativo poderia vir do próprio movimento do corpo, pelo uso de sensores triboelétricos, evitando a instalação de baterias no local do ferimento. Para que esta tecnologia esteja de fato disponível nas prateleiras é fundamental o avanço na área dos vestíveis, ao trazer a eletrônica dura e rígida para dentro das fibras flexíveis e laváveis dos tecidos.

Com a associação de sensores e atuadores eletroquímicos e colorimétricos teremos a possibilidade de indicar visualmente o nível de contaminação local e acelerar o nível de liberação do composto ativo controlado eletronicamente por dispositivos flexíveis e macios, incorporados nas fibras do curativo. Além desta vantagem, há ainda a possibilidade de transmissão de dados, com o envio direto da situação do paciente para o médico que pode monitorar o nível de infecção à distância e atuar remotamente em seu controle.

Sejam bem-vindos à tecnologia dos vestíveis.

Helinando de Oliveira, físico, professor da UNIVASF e Vice-presidente da Academia Pernambucana de Ciências

 

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