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Lula ressuscitou. Bolsonaro ressuscitará?

Lula voltou ao poder porque o seu governo trouxe estabilidade democrática, é confiável ao "sistema" e construiu memória positiva no eleitorado.

Por ADRIANO OLIVEIRA Publicado em 13/04/2025 às 0:00 | Atualizado em 14/04/2025 às 10:38

No meu livro "Qual foi a influência da Lava Jato no comportamento do eleitor? Do lulismo ao bolsonarismo" (Editora: CRV, 2019) mostrei a derrocada do lulismo e a influência da Lava Jato no sucesso eleitoral de Jair Bolsonaro na eleição de 2018. Mas em nenhum momento previ, e eu gosto de fazer previsões, o retorno de Luiz Inácio Lula da Silva à presidência da República. A ressureição eleitoral de Lula não estava em meu radar.

Todavia, na minha última obra, "Do bolsonarismo ao retorno do lulismo: Bolsonaro voltará ao poder?" (Editora: CRV, 2023) previ que o ex-presidente Bolsonaro não voltará à presidência da República, a não ser que grave crise econômica ou grande escândalo de corrupção ocorra no novo governo atual. Até o instante, a minha previsão está sendo correspondida. E volto a dizer sem cerimônia: Bolsonaro não será candidato na vindoura disputa presidencial.

Por muito tempo, encontrei, timidamente, a argumentação ou o sonho de que se Lula voltou, ou melhor, ressuscitou, é mais do que plausível que aconteça o mesmo com Bolsonaro. O atual presidente da República foi beneficiado por uma conjuntura que o próprio Bolsonaro, no exercício do poder, criou. O governo Bolsonaro não deu respostas convincentes à pandemia, não ocorreu pujante crescimento econômico em sua era e Jair Bolsonaro sempre fez questão de provocar tumulto no ambiente institucional. Às vésperas da eleição de 2022, o governo Bolsonaro tinha 38% de aprovação (Pesquisa Datafolha, 27/10/2022).

Nas eras Lula, não existiu pandemia. Mas a crise bancária mundial de 2008 e o governo Lula deu respostas imediatas e eficientes. O Brasil teve forte crescimento econômico no período que o líder do PT estava à frente da presidência da República. Lula, enquanto presidente, não proferia ataques às instituições e nem causava tumulto na relação com elas. Lula findou seu mandato, em dezembro de 2010, com 87% de aprovação (Pesquisa IBOPE, 07/10/2010).

Lula voltou ao poder porque o seu governo trouxe estabilidade democrática, é confiável ao "sistema" e construiu memória positiva em alta parcela do eleitorado. Não podemos esquecer que a Lava Jato enfraqueceu fortemente o lulismo a partir de 2014. O antilulismo surgiu. Contudo, a partir de 2018, o governo Bolsonaro criou as condições adequadas para o retorno de Luiz Inácio Lula da Silva ao poder. Importante destacar que Lula não foi condenado pelo STF, ou seja, a última instância judicial. E foi esta instância que lhe devolveu os direitos políticos. Bolsonaro deve ser condenado pelo STF, isto é, repito: a última instância judicial.

Em quais cenários Bolsonaro voltará ao poder? Cenário 1 - Um candidato bolsonarista vence a eleição presidencial de 2026 para a presidência da República e cria instrumento de "perdão" ou indulto para tornar sem efeito a condenação do STF sobre ele; Cenário 2 - O Senado passa a ser, a partir de 2027, majoritariamente bolsonarista mais a vitória para a presidência da República do aliado de Bolsonaro. Por consequência, cria-se instrumentos e tumultos que possibilitam o restabelecimento dos direitos políticos de Jair Bolsonaro. É remota a possibilidade da anistia ser aprovada antes do pleito presidencial vindouro.

Ambos os cenários estão a depender do excelente desempenho do bolsonarismo nas eleições legislativa e presidencial de 2026.Todavia, não basta apenas isto! É necessário que o presidente eleito com o apoio de Jair Bolsonaro esteja disposto a ressuscitá-lo. E mais: Tenha o desejo de enfrentar o STF, a imprensa e parcela da opinião pública e disposição/interesse para conviver com um Jair Bolsonaro "louco" para voltar ao poder em 2030.

Portanto, é remota a ressureição eleitoral de Jair Bolsonaro. Ressalto, por fim, o que venho sempre alertando: Numa disputa entre Lula com razoável à boa aprovação versus um candidato bolsonarizado ou com vários candidatos da direita "refém" de Bolsonaro, o atual presidente da República é favorito para ser reeleito.

Adriano Oliveira, cientista político. Professor da UFPE. Fundador da Cenário Inteligência: Pesquisa qualitativa & Estratégia

 

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