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Taxação de Trump e a chance de Pernambuco brilhar no comércio exterior

Nova política tarifária dos EUA pode reposicionar o Brasil e impulsionar setores do NE, como a fruticultura, os laticínios e as proteínas animais

Por LUCIANO BUSHATSKY ANDRADE DE ALENCAR E DANIELA DA ROCHA MARQUES Publicado em 12/04/2025 às 0:00 | Atualizado em 14/04/2025 às 10:37

A nova política tarifária adotada pelos Estados Unidos reacende discussões sobre o rumo do comércio internacional e, mais do que isso, oferece uma rara oportunidade para o Brasil e, particularmente, para o Nordeste. Ao sobretaxar produtos de 25 países, com tarifas que variam entre 10% e 49%, o governo norte-americano, sob a liderança de Donald Trump, acaba gerando brechas que podem reposicionar o Brasil como fornecedor estratégico no cenário global.

O tributo atribuído ao Brasil, de 10%, faz com que o país apareça entre os menos afetados por essas novas tarifas, o que representa uma vantagem competitiva clara em relação a outros países que concorrem no mesmo segmento de exportações. Isso pode se traduzir em um ganho importante de mercado em setores como frutas, laticínios, ovos e proteínas animais.

Pernambuco, com sua logística portuária consolidada, localização privilegiada e uma cadeia produtiva de alimentos em plena atividade, está bem posicionado para aproveitar essa oportunidade. A fruticultura do Vale do São Francisco, por exemplo, já é referência na exportação para os Estados Unidos, Europa e Ásia. Com a restrição imposta a concorrentes diretos, os produtos pernambucanos ganham uma margem de competitividade que não pode ser desperdiçada.

Mas, para que esse movimento seja efetivo, é preciso mais do que bons produtos. É necessário planejamento, articulação institucional e agilidade. Empresas pernambucanas precisam estar preparadas para atender à demanda internacional com rapidez, regularidade e qualidade. Além disso, é fundamental que o poder público, em todos os níveis, atue como facilitador nesse processo, promovendo missões comerciais, destravando a burocracia e oferecendo suporte técnico aos produtores locais.

Por outro lado, é preciso atenção ao impacto interno. O aumento das exportações de alimentos pode gerar efeitos colaterais no mercado doméstico. Com mais produtos sendo direcionados ao exterior, existe o risco, no limite, de desabastecimento ou de aumento nos preços de itens essenciais como carne, leite e ovos. Isso pode pressionar ainda mais a inflação e afetar o poder de compra da população, especialmente das camadas mais vulneráveis.

A discussão, portanto, precisa ser equilibrada. Não se trata apenas de aproveitar uma oportunidade de mercado, mas de fazê-lo com responsabilidade, pensando também na estabilidade econômica e social do país.

Outro fator que entra no radar é o contexto da disputa comercial entre Estados Unidos e China. Com os dois gigantes em guerra tarifária, o Brasil tem a chance de se posicionar como parceiro confiável e equilibrado. Ao manter boas relações com ambos os lados e ampliar sua presença nos mercados globais, o país pode conquistar espaços antes inalcançáveis, desde que saiba atuar com diplomacia e estratégia.

Pernambuco tem vocação exportadora, mão de obra qualificada e potencial produtivo para liderar esse novo ciclo. O que falta, muitas vezes, é coordenação entre os diferentes elos da cadeia produtiva e maior apoio institucional para escalar esse movimento.

Num mundo cada vez mais imprevisível, são as regiões que se adaptam com rapidez e visão de futuro que colhem os melhores frutos. A hora de agir é agora. O mercado internacional está em transformação – e Pernambuco precisa estar pronto para ocupar seu lugar.

 

Luciano Bushatsky advogado

Daniela Marques, advogada

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