Filme triste e final infeliz
O modelo de filme do tipo que o mocinho sempre vence está muito longe da realidade. Se fosse para retratar o mundo atual................

Em Hollywood os filmes costumam começar com os mocinhos sofrendo injustiça e dor, mas no final dão a volta por cima e saem vitoriosos ao som de uma música triunfal. Pretendem deixar no ar a mensagem de que o bem sempre vence, que o certo e a verdade prevalecem, que o patriota é o cara e vale a pena ser justo, honesto e humilde.
Não é bem assim no "Ainda Estou Aqui", uma triste realidade vivida em tempos sombrios, onde o final não é com a vitória triunfante do bem e do justo. Os bandidos não acabam presos e não cometem suicídio em crise de consciência, como seria o certo. Deixa no ar o sentimento de que a história poderia ter sido diferente, com uma sequência final em que seriam identificados e julgados por crimes tão graves.
Já que não aconteceu, o consolo seria uma cena castigo diminuindo a sensação ruim de impunidade. Os torturadores e seus comandantes sofreriam pesadelos em série, todas as noites. Atormentados, pensando na brutalidade que cometeram, com direito a sonhar estando no pau de arara sofrendo o mesmo que praticaram. Um letreiro: aqui se faz, aqui se paga. FIM. Música de esperança.
O modelo de filme do tipo que o mocinho sempre vence está muito longe da realidade. Se fosse para retratar o mundo atual, veríamos os grandes mafiosos terminando os filmes descansando no paraíso fiscal ou nadando e tomando caipirosca no Caribe. É verdade que muitos bandidos se dão mal e morrem cedo, mas isso é coisa para ladrão de galinha famélico. Os que aproveitam o estágio no presídio para se graduar no crime, com direito à especialização e aqueles que usam gravata, têm se dado bem.
Alguns, nascendo em berço de ouro, seguem o rumo do mal como se fosse uma doença. Começam aprendendo a mentir de forma eficiente e são capazes de convencer milhões de que a oposição desperdiçou dinheiro público para criar ratos "trans", mesmo sabendo que em verdade o projeto foi destinado às pesquisas visando a cura de doenças em humanos. Sabem que seus seguidores acreditarão sem crítica e mudarão o voto indignados. Sem escrúpulos, aprendem a lição de negar o óbvio, sempre alegando perseguição. Compram o silêncio de profissional do sexo enquanto em público defendem a família. Por capricho e com poder, se acham no direito de chamar um golfo de península, o mar Morto de Vivo ou, fazendo beicinho, querer por querer incorporar como seus os países vizinhos. Acham que suas ideias são sempre brilhantes, como fazer um parque de diversões no território em guerra, evacuando os milhões de moradores do local. Assumem postura de seres superiores e desprezam os que não comungam com suas práticas. Por decreto decidem que agora só existe homem ou mulher, que dinheiro é coisa só para rico, que vandalizar um palácio legislativo é liberdade de expressão.
Se fosse em Hollywood, acabariam presos, mas no mundo atual viram ídolos, conquistam seguidores, vencem eleições, se tornam influenciadores, dominam o mundo e abafam os protestos daqueles que restam para protestar. Cancelam o financiamento dos estudantes que opinam contra. Ameaçam de falência as universidades que não se alinham.
Filme de drama, muito triste. Assisti-lo tem provocado muita desesperança no mundo, não por saber que existem personalidades assim, afinal sempre existiram alguns, mas do fato de que hoje contam com a aprovação e o voto de metade da população que elege sociopatas e narcisos para o comando.
Definitivamente não estamos em Hollywood e esse filme não vai acabar bem.
Sérgio Gondim, médico