O dia em que o Sport disse não a Marcos Vilaça
Quando o Recife foi escolhido para ser uma das sedes, em 1972, nenhum dos três estádios da cidade tinha capacidade de receber as partidas.

Para assinalar o Sesquicentenário da Independência do Brasil, foi organizada a Copa Independência, chamada pela imprensa brasileira como Minicopa, entre os dias 11 de junho e 9 de julho de 1972. Apesar de algumas seleções, como Itália, Alemanha e Inglaterra não terem vindo, devido a outros compromissos, a competição teve 20 seleções. Para dar uma amplitude nacional do evento, foram escolhidas como sedes, Recife e mais Aracaju, Belo Horizonte, Campo Grande, Curitiba, Maceió, Rio de Janeiro, Salvador, Manaus, Natal, Porto Alegre e São Paulo. Pernambuco teve cinco jogos, envolvendo as seleções de Portugal, Irã, Chile e Equador. As seleções ficaram hospedadas no Grande Hotel.
Quando o Recife foi escolhido para ser uma das sedes, em 1972, nenhum dos três estádios da cidade, Arruda, Aflitos e Ilha do Retiro, tinha capacidade de receber as partidas. Como o governo federal não poupou esforços (e dinheiro) para dar condições às 12 cidades escolhidas como sede, o governador Eraldo Gueiros convocou Marcos Vinícios Vilaça, secretário da Casa Civil, para resolver o problema. Gostava de futebol, era torcedor do Náutico e havia até uma história que durou muitos anos: ele e João Carlos Paes Mendonça, alvirrubros assumidos, com trajetórias de sucesso, seriam os dirigentes (como presidente e vice) que fariam o Náutico se transformar num dos maiores do país. Para sorte dos torcedores do Sport e Santa Cruz, os dois nunca aceitaram.
O governo do Estado fez um estudo que mostrou que o Estádio da Ilha do Retiro, principalmente por sua localização, era o ideal para ser ampliado e receber as partidas. Como sabia da minha relação com os diretores do Sport, Vilaça me chamou para um encontro no seu gabinete no Campo das Princesas. De lá, ligamos para o coronel Ivan Ruy, presidente do rubro-negro, para marcar uma reunião sobre o assunto. O projeto previa o fechamento de toda a área do estádio, aumentando sua capacidade para 50 mil pessoas.
No dia seguinte, ele mandou me pegar em casa, tomamos um belo café da manhã, com iguarias pernambucanas, na sua residência, no Encanta Moça, e saímos para a sede do Sport, na Ilha do Retiro. Sempre um gentleman, Marcos Vilaça usou uma gravata vermelha e preta. Para evitar o assédio da imprensa, fomos apenas nós dois. O presidente Ivan Ruy nos recebeu com mais quatro diretores. Ao ouvir a proposta do governo do Estado, não demorou muito a responder que a ampliação era pouca e nos levou para uma sala anexa, onde havia a maquete do Estádio Presidente Médici, lançado no ano anterior e que era faraônico, com capacidade para 140 mil pessoas. Que, claro, não saiu do papel.
Marcos Vilaça então levou ao governador Eraldo Gueiros o Plano B, que não era os Aflitos, como ele sonhava, mas o Arruda. Deixei de ser o intermédio, que passou a ser nada menos do que Marco Maciel. E o Arruda recebeu recursos para ser ampliado para 60 mil espectadores. Porém, nas cinco partidas, teve no máximo um público de 15 mil pessoas.
A Copa Independência foi ganha pela seleção do Brasil, que venceu no Maracanã a de Portugal na final, por 1x0, gol de Jairzinho, na prorrogação, com o público de 100 mil pessoas. Para uma comparação com a seleção de hoje, a que ganhou a competição, que era treinada por Zagalo, tinha Leão, Clodoaldo, Gerson, Rivelino, Jairzinho e Tostão. Pelé já tinha se aposentado. As partidas foram mostradas ao vivo por um pool formado pela Globo e Tupi.
João Alberto Martins Sobral, editor da coluna João Alberto no Social 1