Raphael Gadelha: 'Estamos preparando as crianças para o futuro ou para um passado que já não existe?'
A robótica educacional não é apenas um complemento extracurricular, mas um caminho para desenvolver as habilidades exigidas por esse novo mundo

O mundo mudou, e a educação precisa acompanhar essa transformação. Vivemos na era da inteligência artificial, da automação e da revolução digital, mas grande parte das escolas ainda insiste em um modelo tradicional de ensino, em que o aprendizado acontece de forma passiva, distante da realidade tecnológica que molda o mercado de trabalho e a sociedade. Diante desse cenário, a robótica educacional surge como uma ferramenta essencial para formar cidadãos preparados para os desafios do século 21.
De acordo com uma pesquisa do Fórum Econômico Mundial, 65% das crianças que hoje estão no ensino fundamental trabalharão em profissões que ainda nem existem. A robótica educacional não é apenas um complemento extracurricular, mas um caminho para desenvolver as habilidades exigidas por esse novo mundo. Além do conhecimento técnico, os alunos aprendem a resolver problemas, trabalhar em equipe e desenvolver o pensamento crítico e criativo – competências essenciais para qualquer carreira no futuro.
Um estudo da Universidade de Harvard apontou que alunos expostos a atividades de programação e robótica apresentam uma melhoria de até 32% na capacidade de resolver problemas complexos.
Isso acontece porque, ao lidar com desafios reais, como programar um robô para realizar determinada ação, os estudantes aprendem a testar hipóteses, lidar com o erro e buscar soluções de forma ativa. Esse aprendizado prático se traduz em maior autonomia e confiança, elementos essenciais para o desenvolvimento pessoal e profissional.
Além disso, a robótica educacional contribui para a inclusão. Em muitos casos, alunos que apresentam dificuldades no ensino tradicional encontram na robótica uma maneira mais acessível e estimulante de aprender conceitos de matemática, física e lógica. Crianças com necessidades especiais, por exemplo, podem se beneficiar enormemente desse tipo de ensino, uma vez que a robótica permite abordagens mais dinâmicas e adaptadas às suas realidades.
A resistência à implementação da robótica educacional muitas vezes está ligada a um argumento financeiro. De fato, a tecnologia tem um custo inicial, mas o investimento se justifica pelos resultados. Países que incorporaram a robótica ao ensino público já colhem frutos.
A Finlândia, considerada referência mundial em educação, introduziu a programação e a robótica em seu currículo básico e vem alcançando índices expressivos de inovação e desenvolvimento econômico. No Brasil, iniciativas como o Programa Nacional de Tecnologia Educacional (ProInfo) buscam ampliar o acesso às ferramentas digitais, mas ainda há um longo caminho a percorrer.
As empresas também têm um papel fundamental nessa transformação. O incentivo ao ensino da robótica nas escolas pode gerar uma nova geração de profissionais altamente capacitados, impulsionando o desenvolvimento tecnológico e econômico do país.
Startups e grandes corporações do setor já perceberam essa tendência e investem cada vez mais na formação de jovens talentos, seja por meio de parcerias com instituições de ensino ou de programas próprios voltados à educação tecnológica.
O ensino da robótica não é um luxo ou uma moda passageira, mas uma necessidade urgente. Se queremos um país mais inovador, competitivo e preparado para os desafios do futuro, precisamos reformular a forma como ensinamos nossas crianças.
A robótica educacional é uma peça-chave nesse processo, capacitando os alunos para um mundo em constante transformação. O futuro já chegou. Cabe a nós decidir se queremos preparar as próximas gerações para ele ou deixá-las para trás.
*Raphael Gadelha, especialista em educação tecnológica e CEO da Dulino