Projeto Fortalecer Cultural
É nítido, ainda, a falta de pertencimento da nossa gente, ênfase entre os jovens, quando dos monumentos, dos casarões e casarios

Em boa hora, o Ministério Público do Estado de Pernambuco, por iniciativa do procurador Marcos Aurélio Farias da Silva, teve a iniciativa de agregar instituições ligadas à preservação do patrimônio histórico de nosso Estado, promovendo, no dia 21 de março p. passado, na Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), o Seminário de Integração do Projeto Fortalecer Cultural.
Convidado, proferi a palestra de abertura do referido colóquio, tomando, como pano de fundo, por sugestão do procurador Marcos Aurélio, as experiências e vivências de minha extensa trajetória no campo da educação e da cultura.
Pertencimento, um sentimento necessário.
É nítido, ainda, a falta de pertencimento da nossa gente, ênfase entre os jovens, quando dos monumentos, dos casarões e casarios, e, de resto, de todo o nosso patrimônio material e imaterial.
Recordei o projeto que pude realizar, na companhia dos idealistas da Secretaria de Educação e Cultura do Recife, levando os estudantes à visitação dos pontos históricos e turísticos do Recife. Tais encontros com o nosso passado histórico levaram os alunos ao êxtase intelectual.
Nas avaliações feitas, várias foram as manifestações. Um disse: eu pensei que o Recife se restringisse a Casa Amarela. Outro escreveu: era tão bom que o meu colégio levasse os meus pais para conhecerem o Teatro de Santa Isabel. E ainda houve quem dissesse: eu não sabia que o Recife tinha praia, a de Boa Viagem é linda.
Em defesa da natureza.
Na praia de Boa Viagem, assistimos um rapaz, estranho aos nossos estudantes, jogar um copo de plástico no mar. Delicadamente, interpelei-o, mas ele me disse: que besteira, o mar não é de ninguém. Respondi: não é de ninguém, porque é de todos, é seu, é meu, é nosso. Ele, conscientizado, retrucou: nunca pensei nisso. Agora, aprendi. Ficou a lição.
No Parque da Jaqueira, levei outros grupos, agora mediante o projeto Pintando a Natureza. Uma repórter da TV Globo, fazendo a cobertura, aproximou-se de cada aluno: o que você está pintando, a mesma pergunta a cada qual: o primeiro, disse: um coqueiro; o segundo, o mar; o terceiro estava pintando de preto, a ponto de nada parecer com nada, mas respondeu à pergunta formulada: estou pintando uma barata. A repórter rebateu, mas não estou vendo a barata, ao que a criança disse: estou escondendo-a porque se alguém a vê vai matá-la. Preservação, a lição!
Restauração e uso do patrimônio.
Relatei a Casa de Manuel Bandeira, situada na Rua da União, 263, imortalizada por Bandeira no poema “Evocação do Recife,” por ter sido a residência do seu avô e onde viveu momentos significativos de sua infância, tombada quando presidi a Fundarpe, desapropriada amigavelmente, e nela instalado o Espaço Pasárgada, um projeto – faça-se justiça – dos juristas, poetas e escritores Audálio Alves e Fernando Araújo. A grande lição foi a do uso do imóvel após o restauro feito, com maestria, pelos técnicos daquela Fundação. Ainda hoje, o imóvel funciona com o uso de uma unidade ligada à poesia pernambucana. O Espaço Pasárgada, à época, alcançou repercussão nacional, poque foi um empreendimento pioneiro, já que se propôs a colocar a poesia no cotidiano do povo. Persiste ainda hoje este intento.
A Casa de Oliveira Lima, conhecida por A Casa dos Conselhos, foi outra obra de restauração que fez a Fundarpe projetar a restauração, promovendo a adequação do monumento a três funções especiais e distintas: continuidade da sede do Conselho; implantação de um Museu Ambiente representativo de uma residência patriarcal urbana do Recife oitocentista e instalação de uma biblioteca especializada em obras de referência sobre Pernambuco.
A Igreja de Nossa Senhora da Conceição de Vila Velha, na parte sul de Itamaracá, onde a Fundarpe, à época, instalou um centro de produção de artesanato, em que se destacava a produção das doceiras daquela Ilha. Durante as obras de restauro, contamos com o acompanhamento de uma Assistente Social, Sra. Melônia, figura humana de excepcionais qualidades que intuiu a interação entre a comunidade e a obra em processo de restauro.
Por um Pernambuco preservado.
Pude reforçar a ideia de que o mal uso ou desuso é prejudicial à manutenção do imóvel, no caso, do monumento. O tempo-palestra não me permitiu falar sobre a importância do processo de tombamento, que Pernambuco pratica, desde 1979, quando o então governador Marco Maciel promulgou a Lei 7970, de 18.09.79. Este um assunto que certamente entrará na pauta do próximo seminário, previsto para Vitória de Santo Antão, no Instituto Histórico daquela valorosa cidade.
Todavia, trouxe à lume a imperiosa necessidade da educação patrimonial, uma ação transversal a ser trabalhada junto aos currículos escolares das escolas desde as séries iniciais.
Somos todos por um Pernambuco preservado e cultuado nos seus bens históricos e culturais.
Roberto Pereira foi secretário de Educação e Cultura do Estado de Pernambuco e é membro da Academia Brasileira de Eventos e Turismo.